sábado, 10 de janeiro de 2015

NÃO É VOCÊ, SOU EU

Nota 7,0 Produção com tom popular mostra que o cinema argentino quer vencer barreiras

Para quem ainda pensa que o cinema latino sobrevive de produções pobres e que se dedicam a mostrar uma realidade tão paupérrima quanto seus próprios orçamentos, é preciso rever seus conceitos. Há muitas produções que se não fosse pelo detalhe do idioma passariam tranquilamente como um filme americano do tipo independente. O cinema argentino tem se destacado nesse cenário e explorando diversos gêneros. Não é Você, Sou Eu é uma despretensiosa comédia do diretor Juan Taratuto, então estreando no cargo, que agrada com seu texto rápido e repleto de boas piadas. Sua estética é simples e algumas situações lembram a clichês de comédias norte-americanas, porém, o teor do humor é bem mais leve e não deixa ninguém ruborizado com piadas de mau gosto ou escatológicas. A história criada pelo próprio diretor em parceria com Cecília Dopazo gira em torno do cirurgião Javier (Diego Peretti) que mesmo estando na casa dos trinta anos de idade ainda não consegue deixar de levar a vida como um adolescente sonhador. Ele é muito apaixonado por María (Soledad Villamil) e acaba fazendo um casamento às pressas simplesmente para que a moça possa fazer uma viagem para os EUA. Ela foi na frente para ir se ajeitando e tentar algum trabalho. Enquanto isso, seu marido ficou em sua terra natal se desdobrando para conseguir dinheiro para viajar também e poder dar a ela uma vida com tudo o que há de bom e de melhor. Depois que vende até seu próprio apartamento e já está de malas prontas, Javier tem uma grande decepção. María o troca por outro e o mundo do rapaz desaba, mas mesmo assim ele não consegue tirá-la da cabeça. A partir de então, ele precisa passar por um processo de amadurecimento forçado e procura alternativas para esquecer sua paixão. Procura a terapia, tenta encontrar uma nova garota e até busca a companhia de um cachorro. É justamente por causa do bichano que ele acaba conhecendo Julia (Cecilia Dopazo), funcionária de um pet shop, a garota que pode lhe ajudar a esquecer as mágoas e amadurecer. O relacionamento que começa com desentendimentos acaba se transformando em algo positivo para estas duas pessoas solitárias.

Reciclando fórmulas manjadas das comédias românticas, o cineasta conseguiu uma forma fácil de aproximar sua obra do espectador, mas não dá crítica. Certamente os especialistas em cinema devem odiar esta produção ou achar no máximo bonitinha, pois para a maioria dos intelectos o cinema estrangeiro (entenda-se fora dos EUA) deve ser algo sublime e cheio de mensagens subliminares e a aproximação de um estilo comum no mundo todo seria uma tremenda perda de tempo. O fato é que Taratuto nos oferece uma história batida, porém, com a qual todos podemos nos identificar. De qualquer forma ele até tenta inovar ao centrar seu enredo no personagem masculino, aprofundando-se em seu mundo e sentimentos. Muito bem interpretado por Peretti, o protagonista passa por uma viagem de autoconhecimento até perceber que ele não teve culpa do fim de seu relacionamento. Até ter consciência disso e que haveria outra pessoa no mundo que o amasse do jeito que ele era, o rapaz passa por muitas situações divertidas que devem fazer o espectador dar boas risadas. O encontro frustrado com a colega de escola, a conversa com uma secretária eletrônica de uma moça que declaradamente não o queria por mais de uma noite, a distração na hora de fazer seu trabalho e a adaptação em conviver com um grande cachorro levando fé no ditado popular que afirma que o cão é o melhor amigo do homem. Estas são apenas algumas das situações totalmente verossímeis, divertidas e cotidianas pelas quais ele passa. Sem florear muito as coisas ou contar com um momento avassalador ou inesperado, Não é Você, Sou Eu  é uma simplória comédia romântica que tem tudo para agradar quem gosta de boas histórias humanas, mas sem aquele verniz que atrai intelectuais e espanta os espectadores mais simples. É o cinema argentino mostrando que pode ultrapassar fronteiras e ser ofertado em todo o mundo de forma comercial.

Comédia romântica - 105 min - 2004 

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