terça-feira, 3 de março de 2015

SOB A MESMA LUA

NOTA 8,0

Embora previsível, drama
conquista o espectador com
trama de fácil identificação e
atuações masculinas dignas
O tempo passa e é incrível como a busca pelo “sonho americano”, leia-se o desejo de vencer na vida na América, mais precisamente em solo norte-americano, ainda é o desejo de milhares de pessoas, mesmo com diversos exemplos frustrados de quem tentou, mas acabou encontrando uma realidade bem diferente da que esperava. A imigração ilegal para os EUA é uma coisa muito comum e já foi tema de diversos filmes e até mesmo de novela. Em Sob a Mesma Lua, co- produção mexicana e norte-americana, o tema ganha mais uma vez espaço no campo cinematográfico sem grandes inovações, mas com um texto contundente, com boas passagens, narrativa envolvente e uma direção honesta e sensível da diretora mexicana Patricia Riggen estreando com o pé direito na função e não negando suas influências melodramáticas, neste caso agregando ao trabalho o capricho visual e técnico típico de produções hollywoodianas. Sem medo de exagerar nas doses de emoção e clichês, é óbvio que a obra desagrada a muitos, mas para aqueles que gostam de histórias humanas a trama deve agradar em cheio. Podem dizer que o longa propõe uma fuga da realidade ao adotar um tom de fábula, mas não deixa de ser envolvente a perspectiva otimista da trama que exalta o amor existente em uma relação saudável entre mãe e filho separados por força das circunstâncias. Rosario (Kate del Castillo) é uma mãe solteira que vivia no México, mas atravessou ilegalmente a fronteira para entrar nos EUA com o objetivo de conseguir melhores oportunidades de trabalho e assim poder criar com mais dignidade seu filho Carlitos (Adrian Alonso), mesmo que a distância. Vivendo há cerca de quatro anos em Los Angeles onde trabalha como doméstica em dois empregos, seu esforço compensa. Ela já pode mandar uma boa quantia de dinheiro mensalmente ao filho que lhe garanta os direitos básicos e algumas extravagâncias vez ou outra, como a compra do par de tênis que ele tanto queria, mas agora ela quer poupar para pagar um advogado a fim de regularizar sua cidadania no país e poder trazer Carlitos, a quem não vê há um bom tempo, para morar com ela. O único contato que ela tem com o garoto durante estes anos de ausência é através de um pontual telefonema todos os domingos as dez horas da manhã. O horário é rigorosamente marcado já que a ligação é feita de um telefone público para outro, mais um detalhe que evidencia a situação paupérrima de vida destas pessoas visto que na época em que se passa a trama (contemporânea às filmagens realizadas em 2007) o celular já não era mais um artigo de luxo e com preços acessíveis aos populares. Realmente o supérfluo não faz parte da vida destes personagens.

A introdução da trama se passa exatamente no dia em que Carlitos está completando 9 anos de idade. Após o tradicional telefonema dominical da mãe, acompanhamos a simplória festa que a avó do menino, Benita (Angelina Peláez), fez para ele mesmo estando muito doente. Eis que para literalmente acabar com a alegria da velha senhora e do próprio aniversariante chega o casal Josefina (Catalina López) e Manuel (Gustavo Sánchez Parra) trazendo uma revelação importante. O menino nunca soube o nome do seu pai, sequer sabia que tinha um, mas de uma hora para a outra soube de sua existência e que o homem e a mulher que até então conhecia como seus vizinhos na realidade eram seus tios paternos. Se Benita já estava doente, ver o neto angustiado por saber que tem um pai solto no mundo e uma mãe que talvez não voltará a ver agravam seu quadro de saúde. Com a morte da avó, o garoto resolve partir sozinho em busca de sua mãe sem pensar nos riscos que poderia correr. Para tanto, ele recorre aos irmãos Martha (America Ferrera) e David (Jesse Garcia), dupla que atravessa imigrantes ilegais, e assim inicia uma semana repleta de aventuras e apuros. Quando Carlitos encontra em seu caminho Enrique (Eugenio Derbez), sua sorte pode mudar. A princípio travando uma relação conturbada, o rapaz acaba se sensibilizando com a história do menino e decide ajudá-lo a encontrar sua mãe, mas sua vida também acabará em apuros devido a pessoas más que tentam se aproveitar da ingenuidade de Carlitos, ainda que em alguns momentos ele deixe transparecer uma maturidade acima da média para sua idade. Enquanto o filho passa por dificuldades para chegar em solo americano, coincidentemente sua mãe deseja voltar ao México, mas encontra problemas para se desvencilhar dos empregos. Pegando o gancho da história de uma criança que fica sem ninguém e resolve ir em busca da mãe que vive em território americano, temática de pouco impacto criativo, mas com força emocional inquestionável, o roteiro de Ligiah Villalobos se divide em duas tramas que vão sendo desenvolvidas paralelamente. Apresenta as aventuras e perigos que esse garoto passa no transcorrer de uma semana nessa viagem ao mesmo tempo em que acompanha o cotidiano da imigrante ilegal que sonhava em se dar bem na terra das oportunidades, mas que acabou sofrendo decepções e humilhações. A apresentação dos créditos iniciais já deixa clara a dualidade da narrativa, mostrando o despertar e o início de um dia na vida de mãe e filho, um jogo de edição que apresenta as ações dos personagens simultaneamente, mas casa qual em um ambiente diferente, uma separação que se revela não apenas física e territorial, mas também atinge níveis econômicos, sociais e culturais.

Extremamente esquemático e repleto de clichês, é fácil adivinhar o que irá acontecer a cada nova sequência e o próprio roteiro trata de anunciar os próximos acontecimentos, ou melhor, os próximos problemas, pois a viagem do garoto é marcada por percalços e perigos do início ao fim. Apesar de alguns considerarem que a diretora subestima a inteligência do espectador em diversos momentos, como a aproximação repentina dos tios do garoto deixando claro que eles querem ganhar alguma coisa em troca da guarda do sobrinho, o filme consegue prender a atenção, talvez justamente por não surpreender, abusar de passagens manjadas, mas principalmente por apresentar personagens extremamente humanos. A personagem de Kate del Castillo, popular atriz de novelas mexicanas, trabalha corretamente, mas sua atuação acaba sendo diminuída consideravelmente perante a espontaneidade e carisma de Adrian Alonso. Reprovado em um primeiro momento quando fez o teste, a diretora felizmente teve a sensibilidade necessária para ver que ele era perfeito para viver o papel de um menino corajoso e com um objetivo sólido. Longe de parecer uma criança querendo imitar um adulto, o ator mirim demonstra muita disciplina, maturidade e desenvoltura diante das câmeras e Patricia o deixou livre para poder improvisar em cena. Quem também surpreende é Eugênio Derbez, curiosamente um comediante muito popular no México aqui se dedicando a um papel dramático. Inicialmente Enrique ajudaria Carlito até o momento em que acharia o seu pai, mas a diretora pediu que o roteiro fosse reescrito de forma que esse homem de coração de pedra se tornasse um pai  substituto. Assim o personagem que era pequeno cresceu na trama, evoluindo como pessoa acompanhando os passos da criança. Ele deixa sua sisudez de lado quando se identifica com a história de Carlito e então passa a aflorar seu instinto paterno e solidário e de quebra cativar o espectador. Terceira maior bilheteria do cinema mexicano nos EUA (na época), Sob a Mesma Lua é um filme despretensioso feito sob medida para agradar ao público e não aos críticos, estes que parecem só aceitar produções estrangeiras quando elas são mirabolantes e cheias de significados. Apesar da boa aceitação dos americanos, os mexicanos não gostaram do final feliz dado a história, certamente por na realidade as coisas não serem romanceadas e a busca pelo sonho americano terminar geralmente em frustração ou coisa pior. Diga-se de passagem, o final não é feliz totalmente por causa do personagem Enrique. Não convém dizer o que acontece, mas digamos que a diretora faz um afago de um lado e um machucado de outro. Assim como na vida real, finais felizes e tristes caminham paralelamente.


Drama - 106 min - 2007 

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