sábado, 4 de abril de 2015

O APARTAMENTO (1996)

Nota 5,0 Ciranda amorosa em ritmo típico de filme francês é confusa e dispersa atenção 

Um vício que muitos têm é de quase sempre cobrir de elogios produções fora do circuito hollywoodiano, ainda que na maioria das vezes seus conteúdos sejam de difícil assimilação. Contudo, existem alguns filmes do tipo cujas tramas são tão intrincadas que não conseguem atrair nem mesmo distribuidoras e talvez isso explique a demora de praticamente uma década para o thriller francês O Apartamento ter sido lançado no Brasil diretamente em DVD. O longa só conseguiu tal façanha devido a uma estratégia de marketing, visto que seu remake americano, intitulado Paixão à Flor da Pele, foi lançado por aqui em circuito comercial, embora sem atingir sucesso. Também pode ter influenciado o fato dos atores Vicent Cassel e Monica Bellucci estarem em alta em meados da década de 2000 emplacando muitos trabalhos em solo americano. É certo que só o fato de ser um filme francês e carregar certa aura (involuntária) de raridade, acrescido de ser a chance de fazer uma comparação com sua versão hollywoodiana, já seriam suficientes para chamar a atenção para este trabalho escrito e dirigido pelo então estreante Gilles Mimouni. O problema é que quem deposita grandes expectativas no projeto se decepciona. A narrativa não linear tem a função de prender a atenção do espectador até o final, mas é muito difícil seguir esta trama que fala de encontros e desencontros, coincidências e armações, sentimentos e desejos. Max Mayer (Cassel) é um executivo bem sucedido que após dois anos em Nova York está de volta a Paris e vai se casar com a noiva Muriel (Sandrine Kiberlain). Antes, porém, terá um encontro de negócios em Tóquio, mas algo faz o rapaz mudar todos os seus planos de uma hora para a outra. Ele vê de relance em uma cabina telefônica uma mulher que acredita ser Lisa (Bellucci), uma paixão avassaladora que teve em um passado recente, e próximo onde a moça estava encontra uma chave de um hotel parisiense e resolve entrar escondido no quarto para lhe fazer uma surpresa, mas não a encontra. Contudo, chama a atenção de Max um obituário rasgado o que o leva a um cemitério. Não encontra Lisa, mas passa a seguir um estranho chamado Daniel (Olivier Granier), a pessoa com quem a mulher da cabina estava conversando dizendo que a relação havia acabado. Como ele sabia que esse Daniel é o mesmo do telefonema? O que significa o tal obituário? Essas são apenas algumas das peças do quebra-cabeça proposto por Mimouni, porém, cheio de lacunas. E ainda em meio a tudo isso, por meio de flashbacks, ficamos sabendo como Max conheceu Lisa.

Podemos dizer que depois desse início um tanto embolado, a segunda parte bagunça ainda mais o raciocínio do espectador, que já deve saber que em se tratando de uma produção francesa uma narrativa um tantinho arrastada é sua marca registrada e um filme que dura cerca de duas horas parece ter o dobro de tempo. Mas continuando, ao seguir o estranho, Max chega a um apartamento que acredita ser o verdadeiro endereço de Lisa e realmente encontra lá uma moça que afirma ter esse nome, mas ela não é a sua paixão do passado. Seu nome na realidade é Alice (Romane Bohringer), aparentemente sonsa e desesperada, mas no fundo maquiavélica. O mal entendido fica por isso mesmo quando esses dois completos desconhecidos acabam passando a noite juntos. Max fica com seus sentimentos confusos em relação as três mulheres que povoam seu imaginário e para piorar ele nem desconfia que a garota com quem dormiu é a namorada de Lucien (Jean-Philippe Écoffey), seu melhor amigo, e tampouco que ela conhece e mantém contato com a verdadeira Lisa, que por sua vez está fugindo do tal Daniel com quem teve um caso. Esta ciranda amorosa infelizmente é cheia de situações mal explicadas e se arrasta além dos limites, principalmente para quem logo nos primeiros minutos não conseguir se sentir fazendo parte dela, ainda que como um voyeur. Com um roteiro cheio de farsas e idas e vindas no tempo, recursos auxiliados por uma boa edição, não se pode dizer que a história é desprezível. Percebe-se empenho de Mimouni em realizar uma obra diferenciada. Com a ajuda de outros roteiristas, imperdoavelmente ignorados nas fichas técnicas, podemos dizer que a ideia do projeto era inovar. Se dramas e suspenses rotineiramente usam e abusam das narrativas fragmentadas, por que não testar a fórmula em um romance? O problema é que talvez tantas cabeças pensando juntas trouxe um acúmulo de ideias, mas esqueceram de fazer uma “limpeza” no roteiro final e tudo acabou sendo aproveitado. O Apartamento deve causar a ira e a decepção de muitos em um primeiro contato, mas de qualquer forma não está longe de ser deplorável, tanto que faturou o prêmio Bafta de Melhor Filme em Língua Estrangeira. Espera-se, portanto, que algo de bom ele tenha a oferecer. Assistindo mais de uma vez e prestando atenção principalmente na personagem Alice a obra torna-se mais palatável podendo o tema central ser resumido em uma única palavra: obsessão. A quem interessar, as dicas de como degustar este trabalho também valem para sua versão americana, mais fácil de encontrar, porém, tão confusa e irregular quanto a original.

Romance - 116 min - 1996 

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