NOTA 8,5
Comédia romântica resgata o clima da década de 1960 com história bem bolada e visual típico de filmes da época |
Os roteiristas Eve Ahlert e Dennis Drake se inspiraram em Confissões
à Meia-Noite e Médica, Bonita e Solteira, dois filmes representantes
da década de 1960, para escrever esta história aparentemente simples, mas que acaba
ganhando contornos mais complexos quando o tal jornalista resolve fingir ser
uma pessoa completamente diferente para conquistar a escritora. Ele finge ser
Zip Martin, um rapaz do interior que é astronauta e por isso nunca ouviu falar
na tão famosa Bárbara. Puxando um sotaque caipira, diga-se de passagem, a dublagem
em português desliza ao forçar demais o “caipirês” nacional, mas isso é um
detalhe ínfimo. É claro que a certa altura o jornalista vai se dar conta que
realmente se apaixonou por ela e que será difícil explicar a sua farsa e ainda
mais complicado a garota entender seus argumentos, pois ela também já estará
completamente entregue ao amor. Mesmo sendo previsível, o enredo ganha fôlego
graças ao roteiro afinado, a ambientação, figurinos e trilha sonora escolhidos
a dedo e ao trabalho dos coadjuvantes. A personagem Vicki também acaba
participando sem querer de uma farsa amorosa. Ela se apaixona pelo melhor amigo
e chefe de Block, Peter MacMannus (David Hyde Pierce), este que não busca
apenas diversão, mas sim um casamento sólido. Porém, ele se complica com as
mentiras do amigo e até sua sexualidade passa a ser questionada. Tanto o casal
principal quanto o coadjuvante têm muita química e conseguem arrancar boas
risadas dos espectadores. Além do elenco afiado, Reed também tomou cuidado para
que tudo em seu filme fizesse referência ao clima dos agitados anos dourados, desde
os movimentos acelerados dos personagens, passando pelo figurino colorido e a
decoração cheia de detalhes e novidades tecnológicas da época, e chegando até a
edição de cenas usando o recurso de ações simultâneas dividindo a tela para
provocar humor ou marcar passagens de tempo, um recurso muito comum em seriados
antigos de TV. Dessa forma, é quase impossível não se impressionar com o excepcional
casamento de áudio e imagem como, por exemplo, nas cenas de ligações
telefônicas entre os protagonistas, inclusive uma bem insinuante. Também merece
destaque a sequência de um banho de espuma da personagem de Renée ao som de
bossa nova. Um comercial perfeito daquele tipo que até hoje é referência para
anunciar sabonetes femininos.
Apesar de ser empolgante, divertido e só mesmo sendo um
chato de galochas para achar algum defeito gritante, a produção não foi bem nas
bilheterias quando lançado. Sua estreia ocorreu em uma época concorrida em que
Hollywood despejou ao mesmo tempo nos cinemas muitos filmes blockbusters, como
adaptações de quadrinhos, projetos aguardados e sequências de sucessos, assim muitas
obras excelentes acabaram passando despercebidas. Já que a regra é tempo é
dinheiro, quem não rendeu o esperado logo nos primeiros dias teve de ceder
lugar para outros títulos nos cinemas. Abaixo o Amor foi uma das
vítimas desse pensamento que rege o mundo dos negócios e passou em brancas nuvens. Mesmo sem ter premiações em seu currículo,
esta comédia vale muito a pena para aqueles que sentem saudades ou para quem
deseja conhecer um pouco mais sobre os anos 60, um tempo que deixou saudades,
marcou a vida de muita gente e quando a cultura americana passou
definitivamente a ditar modas, atitudes, entre tantas outras coisas que
passaram a ser perpetuadas pelo mundo todo através das mais variadas formas de
arte e bens de consumo. Iniciado com uma canção e finalizado da mesma forma, o
grand finale fica por conta de Renée e McGregor soltando a voz e dançando para
nosso deleite (eles já haviam feito isso respectivamente em Chicago e Moulin
Rouge). Podemos ter a sensação de que o filme poderia ser mais marcante caso o
diretor, especialista nas comédias-família da Disney das décadas de 1960 e 1970 como Se Meu Fusca Falasse, optasse pelo gênero musical, afinal de contas, a trilha sonora
excepcional e contagiante deve permanecer por alguns momentos na mente dos
espectadores mesmo após os créditos finais, além do fato de que essa seria mais
uma referência ao passado quando as produções musicais estavam em alta. De
qualquer forma, nostálgicos e simpatizantes do passado divirtam-se!
Comédia romântica - 101 min - 2003
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