NOTA 9,5 Ainda que aposte na fórmula batida da guerra vista pelo olhar inocente infantil, longa é digno e emocionante |
Em meados dos anos 40, na Alemanha, Ralf (David Thewlis), um
oficial nazista, assume um cargo em um campo de concentração e isto faz com que
ele e sua família deixem Berlim para irem viver em uma área desolada onde o
pequeno Bruno (Asa Butterfield), seu filho mais novo, não está se adaptando a
rotina pacata e sem amigos. Ele é obrigado a tentar se divertir sozinho e não
pode sair dos arredores de casa, assim sua maior diversão é tentar descobrir o
que acontece em um campo cercado que ele observa de longe da janela do seu
quarto. Certo dia, por acaso, Bruno acaba se aproximando do curioso local
e conhece Shmuel (Jack Scanlon), um garoto judeu aproximadamente de sua idade
que sempre está vestido com uma roupa listrada e próximo a cerca. O alemãozinho
acredita que todos que estão atrás dela estão trajando pijamas e que as
crianças têm total liberdade para se divertirem enquanto seus pais, os
“fazendeiros”, trabalham. O judeu, ao contrário, tem completa noção de sua
triste realidade. Bruno passa a visitá-lo frequentemente surgindo entre
eles uma amizade, mas o garoto nem imagina o que se passa naquele local e muito
menos dentro de sua própria casa. Sua mãe Elza (Vera Farmiga) faz de tudo para
esconder a verdade do filho, mas seu pai não se importa em ser cruel com as
pessoas que cercam o seu lar e não pensa nas consequências de seus atos. Porém,
como diz o ditado, aqui se faz aqui se paga e essa família alemã poderá rever
seus conceitos da pior maneira. A narrativa pode ser convencional e
repetitiva, mas o final não floreia os fatos, doa a quem doer. É
impossível não se envolver com a bonita história de amizade de dois meninos
semelhantes, mas com uma diferença gritante para a política e sociedade da
época. A idéia de estarem separados por uma cerca deixa explícita a ruptura
existente entre os povos da época como se de um lado estivessem os nobres com
sua altivez característica e do outro a plebe cabisbaixa, bem ao estilo de castas
dos tempos medievais, mas ainda um modelo de sociedade preconceituosa que
perdura até hoje em menor ou maior grau em todos os lugares do mundo. Pelo que
aprendemos na escola, podemos criar a idéia de que todo e qualquer alemão
legítimo representante da raça ariana era conivente com os atos cruéis do
Holocausto, mas a personagem de Vera Farmiga está aqui para provar o contrário.
No início a mãe parece saber demais e protege seu filho da verdade, mas pouco a
pouco percebemos que nem ela própria tinha noção do trabalho do marido. Quando
descobre o quanto Ralf é cruel ela se revolta, mas já é tarde para livrar a sua
filha Gretel (Amber Beattie) da admiração pelo nazismo. A garota tenta
apresentar a realidade dos fatos ao irmão ingênuo, mas a mãe está sempre a
postos para colocar panos quentes em tais situações que poderiam ser
incendiárias. Com esse contraponto da personagem Elza a produção escapou de
participar de um furacão ainda maior de críticas negativas afinal poderia
correr o risco de ser tendenciosa e ser repudiada em alguns países.
Esta produção é daquelas em que a fotografia e a edição não
são meros elementos técnicos, mas são essenciais para a compreensão do enredo e
transformá-lo em algo universal. Se para entendermos certas peculiaridades
históricas precisamos prestar atenção no desenvolvimento dos personagens, as
imagens criadas para mostrar a relação de amizade entre o garoto cristão e o
judeu é que são essenciais. Claro que os diálogos que travam são emocionantes e
realçam a dura realidade de um e a fantasia do outro, mas quando os vemos lado
a lado separados pela cerca percebemos em suas caracterizações mais alguns
pontos que reforçam a idéia de que vivem em grupos sociais distintos, desde o
figurino, passando pela postura e até a ambientação. Cabe também lembrar da
ironia imposta. Bruno tem o direito de ir e vir em uma área repleta de
vegetação, mas ainda assim se sente preso e solitário, porém, acredita que
Shmuel é que tem sorte por poder brincar o dia todo e usar roupas confortáveis,
embora o garoto esteja sempre sozinho e com ar entristecido. O grande trunfo
de O Menino do Pijama Listrado está em não querer chocar o
espectador. Não é preciso mostrar explicitamente pessoas morrendo para termos
noção das atrocidades do Holocausto, afinal todos com um mínimo de escolaridade
ou conhecimentos cinematográficos já sabem (ou ao menos deveriam saber) um
pouco sobre os atos cruéis aos quais milhões de inocentes foram submetidos.
Herman sutilmente insere elementos ou diálogos com os quais concluímos o triste
fim dos judeus. Por outro lado, a opção em centrar o foco no drama das
crianças, embora funcione muito bem, acaba criando a sensação de que a produção
se resume a mais do mesmo. Todavia, aqui veremos mais uma pequena fração do que
foi a Segunda Guerra Mundial que somada a lembranças de outros filmes acaba por
compor um painel importantíssimo da História do mundo. Hoje, distante do calor do
momento de seu lançamento, esta obra pode ser apreciada mais profundamente e
livre das pressões impostas pelo mercado, afinal todos sabemos que um final que
não poupa o emocional do espectador dificilmente renderia milhões. Nem todo
best-seller resulta em um campeão de bilheteria, mas toda boa história é
atemporal e merece ser apreciada. Ao subirem os créditos finais talvez você se
pergunte: será que quem critica negativamente este filme realmente o assistiu
até o último minuto?
Drama - 94 min - 2008
2 comentários:
Chorei, e adorei o filme, mas prefiro muito mais o livro.
http://cinelupinha.blogspot.com/
Filmaço!!!!!!
Assisti há uns dois ou tres meses atrás no HBO. Uma história simplesmente fantástica e como a inocência e pureza das crianças, se chocam com as atrocidades dos adultos. Claro, são épocas diferentes mas muita coisa ainda acontece nesse mundão.
Ótima indicação de filme e quem não assistiu, precisa fazer imediatamente.
Abraço
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