domingo, 18 de dezembro de 2016

LINHAS CRUZADAS

Nota 4,0 Velho argumento da reunião familiar em momento difícil neste caso não dá linha

Uma atriz balzaquiana sinônimo de comédias leves. Uma veterana premiada e com boa aceitação junto ao público feminino aqui também atacando como diretora. Uma jovem em ascensão em um seriado de TV e buscando seu espaço no cinema. No comando do texto uma roteirista experiente com temáticas que aliam comédia, drama e romance. De quebra, um conflito familiar de fácil identificação e uma pequena dose de clima natalino no ar. Linhas Cruzadas tinha os ingredientes básicos para cair nas graças da mulherada, no entanto, a receita desandou. Aqui o humor existe, mas é diluído em diversas sequências lacrimejantes. Frustrações, alegrias e sonhos desperdiçados são colocados em pauta quando três irmãs forçosamente se reencontram por conta da iminente morte do pai. Baseado no livro "Hanging Up" escrito por Delia Ephron narrando suas próprias memórias familiares, a trama tem como protagonista Eve (Meg Ryan), uma mulher que desdobra-se para dar conta do seu trabalho e de cuidar da casa, do marido e do filho pequeno, no entanto, nos últimos anos tem praticamente abdicado de seus afazeres para cuidar pai idoso. Lou Mozell (Walther Matthau) está com a saúde bastante debilitada e com problemas de memória e precisou ser internado em uma clínica, assim sempre que o telefone toca sua filha já aguarda por más notícias, mas quando não é seu próprio pai ligando para dizer impropérios são suas irmãs que estão na linha. Na verdade quase sempre é Eve quem tenta manter contato com elas que fazem de tudo para se esquivarem de qualquer tipo de compromisso com o idoso. A caçula Maddy (Lisa Kudrow) é uma atriz frustrada e que também não tem sorte na vida amorosa enquanto Georgia (Diane Keaton), a mais velha, é uma solteirona, porém, bem sucedida editora de revistas que só pensa no trabalho. Embora não morem juntas, ambas são de certa forma dependentes de Eve que aproveitando a situação delicada do pai vai tentar reatar os laços familiares e desfazer mal entendidos do passado.

Inicialmente e pelo título temos a ideia de uma comédia água-com-açúcar, até por conta do trio principal ter muita experiência no gênero, mas aos poucos a trama vai ganhando contornos de drama familiar e até a comemoração do Natal é citada reforçando o caráter melodramático da obra. Roteirizado por Nora Ephron, irmã da autora do livro-inspiração, é perceptível que a ideia era justamente apresentar conflitos e situações manjadas para agradar a um público acostumado com os roteiros repetitivos e com mensagens edificantes, principalmente as donas de casa, mulheres maduras que se identificariam mais facilmente com uma trama possivelmente mais próxima de suas realidades nessa etapa da vida. Não deve ser mero acaso que Keaton acumulou a função de diretora. Como uma das ex-esposas do ator e diretor Woody Allen, parece que ela adquiriu seu gosto por histórias que falam sobre relações humanas e famílias conturbadas. Acostumada a personagens com um quê de excentricidade e especializada em interpretar matriarcas falastronas e intrometidas, aqui ela fica até bastante apagadinha. O perfil de Georgia, a mulher que dedicou sua vida à carreira e não constituiu família, poderia ser melhor explorado visto que no futuro poderia vir a ser vítima da solidão e sofrer com o mesmo desprezo com que lida com seu pai. Em evidência na época com o seriado "Friends", Kudrow tentava conquistar seu espaço também no cinema, mas os papeis oferecidos em nada a beneficiavam. Aqui interpretando uma atriz de novelas frustradas e que procura compensar suas tristezas em relacionamentos amorosos também sem sucesso, a personagem praticamente sai como uma ouvinte das discussões das irmãs e só abre a boca para resmungar que também quer fazer parte das brigas afinal faz parte da família. Mais acostumada a lidar com romances e comédias e açucaradas, Ryan no fim é quem leva o filme nas costas, mas também não parece muito confortável. Simplesmente está a serviço do pai e os problemas que enfrenta com sua própria família e trabalho são apenas citados, jamais trabalhados pela trama. Linhas Cruzadas acaba sendo uma mal costurada colcha de retalhos de tantos outros filmes e lembrado apenas por ser o derradeiro trabalho do talentoso Walther Matthau. Triste lembrança para uma carreira vitoriosa.

Drama - 95 min - 2000

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Um comentário:

renatocinema disse...

Trio faz o filme valer a pena. Mesmo que não seja acima da média.