quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

NOITE DE ANO NOVO


Nota 6 Inflado elenco briga por espaço em mescla de romance e comédia acerca de dia festivo


Quantas histórias curiosas devem ocorrer em um mesmo dia com diferentes pessoas? E como será que as elas se comportam ou com quais atividades elas se envolvem tradicionalmente no dia 31 de dezembro? Bem, essa data especial tem sempre muita festa, fogos, simpatias para trazer sorte, mas a cada ano ela pode ser vivida de um modo diferente e a própria vida trata de tecer situações para que um réveillon seja diferente do outro. Enquanto alguns estão eufóricos com os festejos, outros preferem passar a virada sozinhos. Tem gente no hospital doente e outros ansiosos com a chegada de novas vidas. Tem casais apaixonados trocando juras de amor e pessoas torcendo para encontrar um novo amor. Algumas pessoas trabalham nesta noite justamente para levar diversão para outras enquanto tem gente que faz plantão para garantir saúde e segurança. Estas e outras histórias são contadas na comédia romântica Noite de Ano Novo que apesar de bem intencionada, está longe de ser um trabalho excepcional, mas também não é o lixo que muitos dizem. O problema é que quase duas horas de duração não é suficiente para desenvolver de forma adequada as tramas que envolvem quase vinte personagens, isso se levarmos em consideração apenas os protagonistas destas subtramas. 

O longa fala a respeito das coisas boas da vida, tradições, nos faz refletir sobre erros e a sonhar que o próximo ano será bem melhor do que o anterior. Enfim, não podemos acusar que as mensagens são clichês afinal de contas todos os anos cumprimentamos amigos e familiares e repetimos as mesmas frases de positivismo. Também não se pode esperar algo diferente de um filme que enfoca as comemorações do ano novo, mas cinematograficamente a obra falha ao fazer uma colcha de retalhos de situações conhecidas de muitas e muitas comédias, romances e dramas, assim não trazendo surpresas ao espectador que certamente sabe o que esperar no final. Entre as várias histórias cruzadas temos a de Randy (Ashton Kutcher) e Elise (Lea Michele), vizinhos de um mesmo edifício que aparentemente se estranham, mas quando ficam presos no elevador não resistem a tentação. No hospital temos Stan (Robert De Niro), um doente terminal que quer viver plenamente seu último réveillon mantendo a tradição familiar e tendo como companhia a enfermeira Aimee (Halle Berry). Claire (Hilary Swank) é a responsável pela grande festa em Nova York e está com problemas para se entender com a bola que marca a virada do ano no alto da Times Square. Paralelamente, em uma outra festa o cantor Jensen (Jon Bon Jovi) aproveita para rever Laura (Katherine Heigl), sua antiga namorada, que é a responsável pelo bufê do evento que tem como anfitrião o bon vivant Sam (Josh Duhamel) que está com problemas para chegar até lá. 


Temos também a história de Ingrid (Michelle Pfeiffer), uma mulher insegura que decide literalmente mudar de vida na virada de ano e pede demissão do emprego. Como tem alguns convites sobrando para uma festa, ela os oferece ao jovem Paul (Zac Efron) caso ele consiga ajudá-la a realizar uma lista de desejos até a meia-noite. Enquanto isso, a adolescente Hailey (Abigail Breslin) está sonhando com seu primeiro beijo que pretende dar esta noite, mas sua mãe Kate (Sarah Jessica Parker) não está a fim de curtir o ano novo na Times Square. Outros dois casais também vão fugir da muvuca dos festejos, mas por necessidade de seguirem para o hospital. Tess (Jessica Biel) e Griffin (Seth Meyers) estão ansiosos com a chegada do primeiro filho, assim como o casal Grace (Sarah Paulson) e James (Til Schweiger), mas apenas um desses bebês terá a honra de ser o primeiro a nascer no ano novo e assim ajudar seus pais a faturarem um prêmio em dinheiro. Além destas ainda existem outras pequenas histórias e personagens para incrementar a receita que no máximo pode ser classificada como regular. Até dá para perceber que houve um cuidado em deixar todas estas histórias em um mesmo patamar de importância, mas obviamente cada um elege as que mais lhe agradam e naturalmente algumas se destacam por si só, seja pelo talento dos atores ou o argumento mais interessante.

Elenco estelar, múltiplas histórias românticas, dramáticas, levemente divertidas se intercalando... A fórmula parece familiar? Depois de Idas e Vindas do Amor o diretor Garry Marshall e a roteirista Katherine Fugate novamente se uniram para realizar um projeto nos mesmos moldes, embora a primeira parceria não tenha rendido horrores e tampouco colhido grandes elogios. Especialista em comédias românticas, como Uma Linda Mulher e Noiva em Fuga, a ideia desse tipo de trabalho de múltiplas narrativas não é uma criação do cineasta. Uma década antes Simplesmente Amor lançou a moda com sucesso. Até o cultuado cineasta Robert Altman já era adepto de contar histórias repletas de personagens e focos, mas obviamente com muito mais conteúdo. A obra em questão peca por deixar pouco espaço para as tramas serem desenvolvidas, sendo que algumas são totalmente dispensáveis, e por fim revela-se apenas como uma opção para um desfile de atores que provavelmente não fizeram o menor esforço para interpretar seus personagens, além de um espaço para divulgar à turistas as paisagens nova-iorquinas, o que explica também a inserção de merchandisings explícitos.


Todavia, Noite de Ano Novo tem a seu favor o que seu próprio título deixa claro. Como já dito no início do texto, nesta única noite muitas histórias acontecem, ainda que Marshall tenha limitado sua narrativa aos bairros nobres de Nova York excluindo a periferia. Não foi preciso se prender apenas ao romance, mas neste caso houve abertura para desenvolver tramas com apelo mais dramático, uma ou outra mais divertida, contudo, no geral parece que todas elas foram criadas com o intuito de emocionar o espectador, mas tal objetivo não é plenamente alcançado nem mesmo quando chegamos ao ápice do clima folhetinesco recorrendo ao clichê de uma bela e famosa canção, "What a Wonderful World", em uma cena da maternidade deixando explícito o sentimento de renovação e esperança que o dia 31 de dezembro naturalmente desperta. Muito clichê em um mesmo filme? Pelo menos fomos poupados da presença de alguns coringas do gênero como Julia Roberts ou Hugh Grant. Uma opção a conferir que não fará mal a ninguém.

Comédia romântica - 118 min - 2011 
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