quarta-feira, 20 de julho de 2016

ESPELHO, ESPELHO MEU

NOTA 7,0

Longa faz paródia de
conto clássico colocando
a Rainha Má como
personagem principal
A maioria dos contos de fadas são histórias criadas há séculos atrás que sofreram diversas modificações com o passar dos anos e através de suas inúmeras versões literárias, teatrais, televisivas e cinematográficas. Comumente, mas erroneamente, consideramos as tramas originais aquelas adaptadas pelos estúdios Disney e como lendas europeias, mas na verdade atualmente pouco sabemos sobre as reais origens desses textos clássicos e encantadores. Muitos dizem até que tais contos podiam ter desfechos de arrepiar e macabros. Assim, reinventar estas histórias ou tentar apresentá-las o mais próximo possível da maneira como foram concebidas se tornaram um campo fértil para o cinema. Depois de Alice no País das Maravilhas e A Garota da Capa Vermelha, projetos que foram duramente criticados, praticamente na mesma época duas produtoras resolveram resgatar o conto “Branca de Neve e os Sete Anões”, cada uma com uma abordagem diferente. Um destes trabalhos é Espelho, Espelho Meu. O diretor indiano Tarsem Singh, do psicodélico A Cela e da batalha épica Imortais, tratou de dar um enfoque diferente a versão tradicional que conhecemos do conto e deixou nos cenários e figurinos extravagantes sua marca registrada. O enredo criado por Mellissa Wallack e Jason Keller começa nos moldes de Encantada com uma animação revelando o início de vida de Branca de Neve através da narração sarcástica em off da Rainha Má. Após esta breve introdução os atores de carne e osso entram em cena. Lily Collins assume o posto de mocinha e Julia Roberts o de vilã. Aos 18 anos de idade, Branca de neve vive enclausurada no castelo de seu falecido pai, mas está sob os cuidados de sua malvada e vaidosa madrasta que deseja se casar com o príncipe Andrew (Armie Hammer) e salvar as finanças do reino. Estes personagens, assim como outros, têm perfis diferentes dos que estamos acostumados. A jovem donzela de pele clara e cabelos escuros não é indefesa. Corajosa e espevitada, é ela quem salva o príncipe em uma de suas escapadas do castelo. Tão belo quanto desastroso, ele foi assaltado por um grupo de sete anões saqueadores montados em pernas-de-pau. Depois disso ele é apresentado à rainha que imediatamente o elege como a sua tábua de salvação para poder continuar vivendo de luxos.

Todavia, os planos da rainha vão por água abaixo quando ela descobre que Andrew está apaixonado por sua enteada. Para tirá-la do caminho, ela ordena que Brighton (Natan Lane), um de seus mais fiéis e pegajosos súditos, dê cabo da vida de Branca de Neve. Porém, o rapaz é muito agradecido ao antigo rei e decide poupar a princesa. A garota então foge para a floresta e se une ao bando de anão-ladrões que na verdade formam um grupo de revoltados que rouba dos ricos para dar aos pobres. Já que a ideia é brincar com várias referências, é claro que citações a problemas contemporâneos não faltam. Os roteiristas, por exemplo, adicionaram uma sequência em que a rainha exige impostos mais caros do povo simplesmente para realizar o capricho de oferecer uma festa ao príncipe. Os cidadãos comuns, por sua vez, se organizam para lutar contra os abusos do governo. De qualquer forma ninguém deve esperar que esta comédia seja algo na linha “escracho sem noção” de Deu a Louca em Hollywood ou sátira inteligente no estilo Shrek. A reinvenção do conto da Branca de Neve no geral é inocente e previsível, o que explica a sua fraca repercussão nas bilheterias, críticas e no boca-a-boca do povo. Esperava-se mais desta produção que poderia ser a pedra no sapato de Branca de Neve e o Caçador, o segundo filme do ano a beber na fonte do famoso conto de fadas e estrelado por Kristen Stewart (que também não causou o frisson que prometia). Falando em elenco, a Branca de Neve de Lily Collins não é das princesas mais cativantes que o cinema já nos apresentou. A ideia do longa seria mesmo inverter as ordens das coisas e deixar a jovem em segundo plano e trazer a madrasta para o centro das atenções, mas a certa altura, como não poderia deixar de ser, a heroína é requisitada para ocupar o posto principal mesmo sendo tarde demais para ela conquistar a simpatia do espectador. 
Julia Roberts rouba a cena em papel atípico em seu currículo e que certamente a coloca em contato com uma nova geração de fãs que manterão seu nome em evidência no futuro. Outrora queridinha de Hollywood, a atriz há anos não tem um grande papel e se aqui não encontra algo nesse patamar, no mínimo ela consegue provar que não está amarrada a um ou dois tipos de personagens. Deixando o semblante de moça boazinha e romântica de lado, ela exala vitalidade como uma rainha excêntrica e capaz de verdadeiras loucuras, ainda que algumas situações sejam um tanto forçadas como se submeter a um tratamento estético bizarro. Seu bom desempenho e, obviamente, sua fama acabaram tornando-se o carro-chefe da campanha de marketing do longa. Realmente realizar mudanças em contos clássicos cada vez mais se torna uma opção de risco. Tudo que hoje possa ser criado pode parecer ultrapassado ou ter povoado a mente de qualquer criancinha, lembrando que há poucos anos também foi lançada a animação Deu a Louca na Branca de Neve. É certo que este trabalho de Singh acabou sendo avaliado por boa parte da crítica como uma diversão inofensiva, aquele típico produto a ser figurinha fácil nos repetecos da TV futuramente. Já outros não pouparam farpas contra o diretor, principalmente pela adoção do estilo kitsch para o visual da produção, mas se esqueceram de ressaltar que ele soube respeitar os próprios limites de sua criação. Talvez as especulações da imprensa e dos cinéfilos ligados nas redes sociais tenham dado à Espelho, Espelho Meu uma dimensão muito maior do que o projeto era desde o início e assim a decepção é inevitável. De qualquer forma, para quem quer um momento de relax é uma ótima pedida. Ah, preste atenção nos créditos finais. Além de mostrar os desfechos dos anões fora-da-lei, também há um número musical na melhor tradição de Bollywood (como é chamada a indústria de cinema indiana).
Comédia - 106 min - 2012

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