quarta-feira, 9 de setembro de 2015

MATCH POINT - PONTO FINAL

NOTA 8,5

Após uma safra de longas
fracassados, Woody Allen
dá a volta por cima
investindo em novos ares
O cineasta Woody Allen, também ator, escritor, produtor e até músico, há várias décadas está na estrada colecionando fãs, desafetos, sucessos e fracassos. Com uma carreira marcada por obras premiadas e elogiadas datadas dos anos 70 e 80, nos últimos anos as sombras dos seus equívocos cinematográficos parecem persegui-lo. Lançando praticamente um filme por ano, passaram a ser raros os momentos de brilhantismo de Allen que só viu sua fama extrapolar limites e o sucesso voltar a bater a sua porta com Match Point - Ponto Final, após anos de certo ostracismo. Seu nome sempre estampava algum cartaz ou capa de DVD, mas foi uma única indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Original, além de menções em outras premiações, que fizeram este entusiasta das paisagens urbanas americanas ressurgir na mídia. Um público novo e de idade jovem foi instigado a conhecer mais sobre este profissional e se juntou aos antigos apreciadores dos trabalhos do cineasta para aplaudir e elogiar uma obra que definitivamente não parece ter sido feita por ele, destoando em muitos aspectos de sua filmografia. O público e produtores americanos há anos vinham desprezando os seus trabalhos e tal falta de atenção certamente se refletiu em suas obras drasticamente, a ponto que seu nome já não era o bastante para gerar certa expectativa quando houvesse algum lançamento. Após Melinda e Melinda passar em brancas nuvens, o cineasta teve dificuldades para conseguir financiamento para seu próximo projeto e precisou romper com a tradição. Ao chegar na casa dos 70 anos de idade, pela primeira vez ele filmou fora de Nova York e pelo visto gostou da experiência tanto que a repetiu em futuras ocasiões explorando belíssimas paisagens européias. Londres foi o cenário eleito para contar a história de Chris Wilton (Jonathan Rhys-Meyers), um jogador de tênis profissional que decide abandonar as competições e se dedicar a dar aulas do esporte em um clube frequentado pela elite. É lá que ele conhece Tom Hewett (Matthew Goode), um jovem de família rica com quem ele faz amizade rapidamente. Convidado para ir a uma apresentação de ópera, Wilton é apresentado à irmã de seu novo amigo, a bela Chloe (Emily Mortimer), com quem ele passa a se relacionar.

O futuro seria bastante promissor para o esportista ao entrar para a família Hewett, mas quis o destino que ele se apaixonasse por Nola (Scarlett Johansson), a noiva de Tom. Ela corresponde a essa atração, mas também teme perder o status que alcançou prestes a entrar em um tradicional e rico clã britânico. O que vale mais: a riqueza ou o amor? Ser infeliz, mas ter um nome de peso ou a felicidade mesmo em condições não tão boas (embora Nola e Wilton estejam longe de serem pobres)? Allen faz a partir desta trama relativamente simples uma crítica contundente à fria e fútil aristocracia londrina. Talvez nem ele soubesse que com este trabalho ele estaria dando um upgrade em sua carreira, dando literalmente um ponto final à uma fase longa e ruim de sua vida profissional. Além da mudança de paisagem para as filmagens, verificamos aqui uma feliz e bem-vinda forma de narrativa. Com vários dos trabalhos do cineasta ficamos de olho no relógio para ver quanto tempo falta para acabarem suas chatices, mas neste caso não. O espectador é surpreendido por reviravoltas que apontam novos caminhos à trama e o fazem se sentir aguçado a saber como tudo vai acabar. Os minutos finais nem parecem algo saído da cabeça do diretor. Claro que o elenco ajuda e muito. Meyers constrói um personagem sedutor e enigmático que prende atenção enquanto Scarlett seduz o espectador sem muita dificuldade, além de mostrar não ser apenas um rostinho e corpinho bonito. Para muitos a trama pode parecer típica de novelas de TV, alguns já traçam comparações com outro longa do diretor, Crimes e Pecados, mas a forma como o enredo é trabalhado faz toda a diferença. Entre citações a Shakespeare e Dostoiévsky, frisando que a elite está no centro das atenções, Allen aposta alto no drama, no clima sensual e apresenta as ironias sutilmente, recheando sua obra com ingredientes de fácil aceitação pelo grande público, como o desejo de ambição e até um crime.

Sem atuar desta vez e voltando ao gênero dramático após mais de quinze anos de ausência, Allen mostra que está em forma, com a mente criativa e antenado com o que está em evidência. Ele soube captar elementos que conquistam a audiência jovem e misturar com perfeição ao seu estilo de fazer cinema, tanto que a maneira como os créditos iniciais são apresentados é inconfundível. Por outro lado, seus longos e por vezes cansativos e confusos diálogos aqui são substituídos por falas mais diretas, silêncios e olhares que são essenciais para a construção de uma história atual e forte. A tradicional trilha sonora de jazz também abre espaço para trágicas óperas. Sendo um dos poucos títulos de grande repercussão e bilheteria de Allen nos últimos tempos, Match Point - Ponto Final é um tímido marco do cinema recente que infelizmente foi desprezado pela Academia de Cinema de Hollywood, uma grande injustiça feita a um dos maiores cineastas que já existiu. Já a aceitação do público e crítica atingiram ou até superaram as expectativas. Seria um golpe de sorte? Bem, pelos resultados de alguns títulos seguintes de Allen a resposta deve ser sim. Aliás, o tema sorte no fundo é o grande foco de atenção desta produção, tanto é que na introdução tudo já está explicitado em palavras e imagens. Através de um jogo de tênis e com a narrativa em off do protagonista é esmiuçado rapidamente o conceito de sorte e como ela pode agir positiva ou negativamente em nossas vidas. Para quem decidir assistir pela primeira ou rever este grande filme pode ter certeza que a sorte estará do seu lado.

Drama - 124 min - 2005

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