terça-feira, 8 de setembro de 2015

UMA MÃE EM APUROS

NOTA 4,0

Longa acompanha 24
horas de um agitado dia
de uma mãe que se dedica
integralmente à família
Filmes que acompanham a rotina de um personagem durante as 24 horas de um único dia não são novidades e é até uma premissa muito comum nos gêneros de ação e suspense, agora em comédias tal ideia pode soar como uma novidade bem-vinda. Contudo, talvez justamente pelo fato de não ser comum no humor não deu certo a proposta do espectador participar da loucura de um dia da vida de uma mulher moderna do subúrbio nova-iorquino. Faltou intimidade com o estilo por parte da roteirista e diretora Katherine Dieckman na condução da comédia de costumes Uma Mãe em Apuros. Eliza Welch é uma escritora que se dedica à redação de um blog, mas suas principais atividades são ser mãe, dona de casa e a esposa de Avery (Anthony Edwards), um amoroso homem que entope sua casa de livros raros sonhando em um dia faturar alto com as vendas deles. Certo dia ela está atarefada um pouco além do normal. Fora a obrigação de cuidar do filho mais novo, Lucas (papel revezado pelos gêmeos David e Matthew Schallipp), que está começando a dar os primeiros passos, cozinhar, limpara a casa, trocar ideias e experiências com outras mães na tradicional visita ao playground, entre tantas outras tarefas rotineiras, neste dia em específico ela ainda está preparando a festa de seis anos de sua filha mais velha, Clara (Daisy Tahan), precisa desfazer uma confusão que causou sem querer envolvendo Sheila (Minnie Driver), sua melhor amiga, e ainda está decidida a participar de um concurso no qual precisa fazer uma redação sobre o que a maternidade lhe representa. Para dar vida a essa mulher mil e uma utilidades que abdicou das costumeiras vaidades femininas e até mesmo de sua carreira promissora como escritora para se dedicar integralmente à família, foi escalada a talentosa Uma Thurman. Além de seu nome ser um chamariz natural de público, a atriz não tem medo de mudar seu visual, mesmo quando precisa se enfear.  Com cabelos desarrumados e um figurino sempre franzino ou simplista, ela encarna com perfeição a típica mãezona que não mede esforços para ver seus filhos felizes e por tabela também o marido. 

Falando pelos cotovelos e praticamente sem um minuto sequer de descanso, Eliza a primeira vista pode parecer um personagem estereotipado e sua hiperatividade incomodar o que pode explicar o fracasso da fita. Desta vez o nome de Uma em destaque no material publicitário não surtiu o efeito esperado. Lançado diretamente em DVD no Brasil há registros, por exemplo, que na Inglaterra o longa estreou em apenas uma sala de cinema e acumulou em três dias a inacreditável marca de apenas dozes espectadores. É certo que esta comédia, considerada por alguns muito mais dramática que irônica, não é excepcional, mas também não é totalmente um lixo, tem até seus acertos e alguns bons momentos. Katherine através de seu texto e de sua câmera consegue aproximar o espectador de sua obra abordando temas comuns, rotineiros e até mesmo reflexivos. Todavia, a forma como este produto é vendido passa uma ideia errada para o público que acaba se decepcionando ao ver que o longa não é um apanhado de clichês bobos de comédias pastelões onde as mães comumente são retratadas como mulheres destemperadas ou controladoras. Ok a protagonista neste caso até apresenta algumas porcentagens destas características em seu perfil, mas entre as ações impensadas, como bater boca no trânsito simplesmente por acreditar que ela tem todo o direito de esperar uma vaga para estacionar, ela tem muito a dizer não só para os outros, mas principalmente para si mesma. É aí que entra a grande sacada do enredo: abordar a relação das mulheres com a internet. Para algumas donas de casa o computador continua sendo um bicho de sete cabeças, mas para muitas a intimidade com essa máquina chegou a tal ponto que elas não se limitam mais a usar a rede para encontrar receitas e já produzem seu próprio conteúdo on-line. Eliza, por exemplo, escreve um blog para aliviar as tensões do dia-a-dia e desabafar a respeito da sua estressante rotina. Esse gancho de usar uma espécie de diário virtual como válvula de escape já foi usado em outros filmes como Julie e Julia no qual uma das personagens-títulos se prontificou a registrar em um blog durante um ano as suas experiências na área da gastronomia.

Uma Mãe em Apuros consegue reunir algumas situações e pensamentos que atingem diretamente o emocional do público feminino mais maduro devido a fácil identificação com os problemas e sentimentos da protagonista. Porém, entre uma reflexão aqui ou ali, a diretora tenta a todo custo fazer o espectador rir, mas seus esforços são em vão. Seja uma disputa por uma liquidação em uma loja de roupas, um desabafo sem noção no meio do trânsito complicado ou até o bizarro modo de compreender o filho posto em prática por uma neurótica mãe, o máximo que conseguimos com esta produção é dar um ou outro sorriso amarelo. Pode ser que o grande problema deste filme seja a falta de um argumento mais forte. Não que o cotidiano de uma mulher do lar não mereça respeito, mas digamos que se preocupar com uma festa de aniversário ou que precisa urgentemente dar uma passada no mercado não são dos melhores conflitos para prender a atenção em um filme.  Sendo assim, acompanhamos o cotidiano da protagonista sem grandes expectativas e quando chegamos à conclusão nem nos indignamos tanto com o inerente final feliz de Eliza, afinal nada mais justo que um momento feliz no fim do dia para compensar todos os seus esforços. Praticamente tentando realizar um agradável registro sobre como a mulher comum se insere na sociedade contemporânea tendo vários papéis a cumprir, é uma pena que a cineasta explore pouco esse aspecto de seu enredo e nem mesmo invista pesado no humor. Uma Thurman, no entanto, interpreta com tanta simpatia e vontade sua Maria do lar que compensa generosamente as falhas. Ainda vale uma ressalva ao trabalho de Minnie Driver responsável pelas melhores sequências de humor e a rápida participação de Jodie Foster como ela mesma fugindo dos paparazzi e mostrando que mesmo as mães bem sucedidas profissionalmente também têm seus problemas. É como diz o ditado popular: ser mãe é padecer no paraíso. Após o corre-corre do neurótico cotidiano, nada mais recompensador para uma mãe que a noite receber um sorriso ou uma palavra de carinho de seu filho. A conferir sem grandes expectativas, sem pré-julgamentos e a sessão-família está garantida.

Comédia - 90 min - 2009 

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