domingo, 10 de abril de 2016

BILHETE PREMIADO

Nota 3,0 Previsível, comédia de humor negro, na falta de ousadia, tenta se segurar no romance

A cineasta Nora Ephron sem dúvidas conseguiu com vários de seus trabalhos elevar a cotação do gênero comédia romântica tornando-o popular e rentável com produções como Sintonia de Amor e Mensagem Para Você. Como muitos filmes do tipo e com temática similares começaram a ser lançados, a diretora procurou virar o século experimentando algo levemente novo: o humor negro. Lançado em 2000, Bilhete Premiado teve sua estreia adiada várias vezes até que finalmente chegou às telonas para ficar umas duas semanas em cartaz. Nem mesmo no mercado de locações funcionou. Além do fracasso em solo americano que ajudou na publicidade negativa, o longa ainda tinha outra mandinga: John Travolta. Na época o ator estava com sua carreira indo ladeira abaixo com sucessivos fiascos profissionais e esta comédia só veio a ampliar a lista. Ele dá vida a Russ Richards, o meteorologista de uma famosa emissora de TV, mas seus esforços estavam longe de serem reconhecidos como ele desejava e sua vida profissional ia de mal a pior (seria coincidência ou uma autoironia o ator encarnando tal zero à esquerda?). Praticamente falido depois que suas chances de lucros vendendo motocicletas especiais para neve derreteram devido a um inverno com temperaturas altíssimas, o cara ficou devendo até as cuecas na praça e para conseguir se reerguer resolveu montar um esquema com o amigo Gig (Tim Roth) e Crystal (Lisa Kudrow), sua namorada. A garota é a responsável por sortear os números da loteria na televisão, mas também não vê um futuro profissional promissor para si mesma. É óbvio que a ideia é fraudar o concurso e mais previsível ainda que algo dê errado. O que parecia fácil acaba se tornando uma grande encrenca e o trio de espertalhões se vê envolvido em uma trama com direito a assassinatos e outros pilantras de olho na bolada milionária. O que poderia render uma comedia razoável, mesmo com o enredo transbordando clichês, acaba se tornando um programa tedioso, talvez por culpa da própria Ephron que entende de humor meloso, mas não conhece o universo da malandragem.


Inspirado em um caso real, desde o início o roteiro de Adam Resnick não traz atrativos para prender a atenção e fica em cima do muro entre o humor negro e a comédia romântica, mas parece não haver química entre Travolta e Kudrow. A atriz alcançou certo prestígio com o seriado “Friends” e antes mesmo do programa ter seu término anunciado ela já buscava uma colocação no cinema, porém, sempre encontrou dificuldades para atuar como protagonista, não tem carisma para tanto. Neste caso, em um de seus primeiros longas-metragens, ela se mostra sem graça e parece perdida sem saber como agir. Ainda bem que o tempo lhe fez bem e hoje ela engana razoavelmente como coadjuvante, parece ter se conformado com a posição. Para não dizer que sua participação nada acrescenta ao longa, em determinado momento sua personagem deixa o próprio primo morrer vítima de um ataque de asma só para não ter que dividir sua fortuna, uma cena no fundo tensa, mas o que salta aos olhos é o ridículo da ação. Todavia, fatos do tipo servem para mostrar o perfil da garota que assim como de outros personagens é duvidoso e movido pela ganância. Já Travolta deveria estar com várias dívidas após uma sucessão de fracassos que culminaram na massacrada ficção científica A Reconquista e estava topando fazer qualquer coisa para se manter na ativa. Só assim para explicar o porquê dele estar envolvido nesta babaquice que se perde ao tentar equilibrar um romance frouxo a uma trama envolvendo golpes e assassinatos. Em meio a tantos trapaceiros seu homem do tempo poderia se destacar afinal de contas não é um criminoso, mas cego pelo sonho de conseguir chegar a ser apresentador de TV acaba aderindo a táticas ilegais. Tal perfil poderia ser muito bem explorado por um roteiro mais puxado para a comédia familiar ou escrachada, seria o famoso gaiato na máfia, mas Bilhete Premiado se leva a sério demais querendo fugir do estereótipo sessão da tarde. Nessa tentativa acabou se tornando um título perfeito para madrugadas, é ótimo para ajudar quem sofre de insônia.

Comédia - 105 min - 2000 

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