sexta-feira, 6 de maio de 2016

A VÍTIMA PERFEITA

NOTA 8,0

Longa relata fato real sobre
uma jovem descontente com a
vida que tinha e que buscou a
solução almejando a vida de outra
Que atire a primeira pedra aquele que nunca desejou em algum momento viver a vida de uma outra pessoa, seja ela uma personalidade ou um indivíduo comum? A vontade de ter alguma coisa ou ser como alguém pode ser benéfico, uma alavanca para determinar metas em busca de um objetivo que traga satisfação, mas infelizmente na maioria dos casos tais vontades podem se transformar em sentimentos ruins como inveja e obsessão levando alguém angustiado ou com raiva a atos contraditórios que não raramente traem até seus próprios princípios. Claro que em casos que chegam a situações extremas de loucura as pessoas em questão não são normais e sofrem de distúrbios psicológicos, problemas que podem ser nutridos desde a infância e que muitas vezes são omitidos por quem sofre e imperceptíveis aos que convivem com elas. Não é de se estranhar que existam tantos casos de crimes bizarros envolvendo a inveja e o longa A Vítima Perfeita relata um deles, uma mescla de drama e suspense baseada em fatos reais que conta a história de uma jovem que odiava a própria vida e por isso decidiu tomar a de outra pessoa. Com roteiro e direção de Simone North, o filme narra a história de Caroline Reid (Ruth Bradley), uma moça solitária e que vê problemas em sua forma física e na maneira como sua vida se desenrola, mas que deseja intensamente mudar seu cotidiano radicalmente. O problema é que em sua mente perturbada a solução não seria ela própria encontrar o que está errado consigo mesma e tentar mudar, mas sim tirar uma garota de seu caminho, Rachel Barber (Kate Bell), uma jovem que ela julga ser perfeita em todos os aspectos. Literalmente ela deseja trocar de lugar com a vizinha de bairro e assumir sua rotina, mas até onde ela poderia em busca desse insano desejo? Tomada pela obsessão, Caroline dá um jeito de se aproximar de sua vítima e estreitar laços de amizade, embora já se conhecessem a algum tempo. Com o contato estabelecido, logo Rachel demonstra confiar na nova amiga, partilha segredos e compactua em não revelar a ninguém sobre a amizade entre elas. Pode parecer muita ingenuidade, mas a garota aparentemente super popular não leva a vida feliz que Caroline acredita e vê nessa relação a amiga que ela sempre quis ter, portanto nada mais natural que tentar preservá-la ao máximo.

O perigo raramente dá sinais de que está por perto e geralmente está disfarçado em pele de cordeiro e é exatamente nesta armadilha que Rachel cai. Sempre muito obediente certo dia a jovem surpreende seu pai (Guy Pearce) não descendo do trem no ponto e no horário que sempre combinava para virem buscá-la e imediatamente toda a sua família fica apreensiva. Apesar de todos os esforços, inclusive de amigos próximos, a polícia local não parece motivada nas buscas, sempre com a velha desculpa de que fugas são comuns entre adolescentes, ainda mais entre garotas que foram criadas sob os olhares atentos dos pais e que ficam envergonhadas em assumir namoros. Todavia, Rachel não teria motivos para fugir. Tinha um namorado que a família conhecia e aprovava, sempre foi boa filha e aluna e no momento se dedicava com afinco ao balé já pensando em seu futuro, mas a sorte lhe abandonou. Em uma única pisada de bola, sair sem dizer a ninguém aonde ia, o pior pode ter lhe acontecido. Estaria ela morta? Sequestrada? Fugiu por conta própria? Só existe uma única certeza: paralelo ao sofrimento dos Barbers, Caroline está se sentindo mais leve a ponto de ironizar com as investigações. Bem, não é difícil imaginar o que aconteceu com a desaparecida levando em consideração o perfil de sua recente melhor amiga, mas mesmo revelando o mistério com um bom tempo de filme pela frente, North não deixa a peteca cair e segura a atenção mostrando as reações de outros personagens quanto as perspectivas nada positivas em relação ao desfecho do caso como da Sra. Barber (Miranda Otto) que tem seu sofrimento ampliado por conta da falta de consideração da polícia que tardiamente toma consciência da gravidade do problema. De qualquer forma, mais interessante que acompanhar as investigações e o sofrimento dos parentes da vítima é observar o desenvolvimento da personagem Caroline, uma envolvente interpretação que no início pode causar estranheza, chega ao ápice em seu momento de loucura e mesmo depois ainda continua prendendo a atenção do espectador que se sente instigado a descobrir até que ponto chegará o masoquismo da garota que sem perceber está causando mal a si mesma e conforme pistas surgem o cerco se fecha em torno dela irremediavelmente. Ela pode ter achado a vítima perfeita para inocente ou maquiavelicamente acreditar conseguir exterminar seus problemas de autoestima, mas não bolou o plano perfeito para tanto. Contudo, é difícil ter raiva desta jovem perturbada continuamente, pois seu dilema é compreensível e é perceptível que ela não tem maturidade emocional para lidar com ele.

Imagine quantas pessoas espalhadas pelo mundo vivem conflitos semelhantes levando a problemas psicológicos, depressão e introversão. Até em fitas de terror de seriais killers temáticas parecidas já foram abordadas de formas variadas, mas o conceito geralmente é o mesmo: a pessoa que se sente vitimada pela sociedade deseja dar o troco atingindo aqueles que ela acredita serem os responsáveis por sua infelicidade. Rachel infelizmente foi a escolhida por Caroline para ela exteriorizar seus problemas, ainda que de forma silenciosa e discreta, e assim tentar levar a vida que sempre sonhou. É um pensamento mesquinho e idiota, mas para uma mente perturbada é como se a aspirante a bailarina fosse a responsável pela sua infelicidade, se ela não existisse tudo poderia ser diferente. Como a principal suspeita tem mais tempo de tela, North tomou cuidado de na primeira parte explorar mais o universo de Rachel apresentando a rotina feliz e perfeita que ela levava com sua família e socialmente, uma forma do público se envolver com a personagem e demonstrar compaixão mais adiante. Todavia, é sua rival quem rouba a cena. A irlandesa Ruth Bradley tem uma interpretação marcante e com cenas bem difíceis carregadas de emoção e sentimentos negativos, como na cena em que chora desesperadamente em seu quarto ao observar seu corpo no espelho, momento em que é flagrada por seu pai (Sam Neil) que até então parecia desconhecer os problemas de autoestima da filha. Melhor dizendo, como ele criou a filha praticamente sozinho é óbvio que devia notar algo estranho em seu comportamento anti-social, mas o que fazer com o medo de tocar em uma ferida e ela sangrar? E assim eles foram levando a vida até que no momento em que vem a conhecimento público o sumiço de Rachel ele é o primeiro a suspeitar que a filha está envolvida. A Vítima Perfeita aparentemente pode parecer um filme comum desses que vão direto para as locadoras ou são feitos com o intuito de preencher horários vagos nos canais de TV, mas na realidade revela-se um entretenimento de qualidade e com conteúdo relevante e reflexivo, sendo mais um exemplar que busca se aprofundar nas questões acerca dos mistérios da mente humana. Bem, North não chega a explorar de forma extraordinária a loucura da protagonista, mas consegue expor o tema na medida certa para fisgar a atenção de platéias mais populares que se envolvem com o crescente clima de tensão, mesmo prevendo qual será a conclusão de tudo. 

Suspense - 108 min - 2009

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1 – 2 Ruim, uma perda de tempo
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9 – 10 Excelente, praticamente perfeito do início ao fim
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