sábado, 22 de outubro de 2016

CAÇADORES DE TRÓIA

Nota 6,0 Produção alemã tem clima de aventura dos anos 60 e explora lenda estrangeira

Em 2007 o cineasta Julio Bressane ousou ter a ideia de fazer uma versão da história de Cleópatra filmada em solo e com elenco brasileiro. Preconceituosos como somos, obviamente o longa teve uma passagem relâmpago pelos cinemas e hoje desfruta do pleno ostracismo. Por que isso? Na escola é costume aprendermos um pouco sobre a cultura de boa parte dos países que ajudaram a construir a história e a linha evolutiva das civilizações, portanto, não há nada de errado em um diretor brasileiro ter a ousadia de filmar sua visão sobre algum mito característico de outra nação, mas infelizmente nos acostumamos que é a turma norte-americana que pode usar e abusar de temáticas alheias, isso porque nas aulas de História por lá o patriotismo é exagerado e parece que só existe os EUA no mundo. Por causa desse conceito errado bons trabalhos acabam passando em brancas nuvens como é o caso da aventura Caçadores de Tróia, produção da Alemanha caprichada em termos visuais que aborda um mito da cultura grega. Na trama roteirizada por Don Bohlinger, Heinrich Schliemann (Heino Ferch) desde a infância tem seus sonhos povoados por aventuras passadas na cidade de Tróia e não por acaso quando adulto ele se tornou um especialista em antiguidades. Em Berlim, em 1868, durante uma conferência ele é achincalhado pelos colegas por causa de suas teorias de que a mítica cidade grega realmente existiu e poderia ser encontrada. Como um homem de posses, Heinrich resolve jogar tudo para o alto e se aventurar numa expedição, mas apaixonado pela cultura grega ele tem o excêntrico desejo de se casar com uma legítima mulher desta nacionalidade para ostentar como um troféu quando encontrasse seu tesouro e triunfasse sobre aqueles que um dia o humilharam. Assim ele consegue um casamento arranjado com a jovem Sophia (Mélanie Doutey), cujos pais estão de olho no que podem lucrar com essa união. O problema é que a moça namora escondido um rapaz de idade compatível e tão pobre quanto ela, o que faz com que ela trate com rispidez e rebeldia seu noivo. Todavia a união acontece e ambos partem juntos rumo a expedição.

Bem, a trama romântica é o de menos neste caso, até porque nem chega a existir realmente um triângulo amoroso, mas o diretor Dror Zahavi compensa com a exploração das pesquisas de Heinrich que vendeu praticamente tudo o que tinha para bancar seu sonho. Cheio de disposição o pesquisador enfrenta no trajeto o desprezo, a fúria, os impedimentos e as armadilhas impostas pelas pessoas que cruzam seu caminho, inclusive gente poderosa que obviamente quer levar a fama caso realmente Tróia seja descoberta. Além disso, problemas com epidemias de doenças, temporadas de chuvas alternadas com períodos de sol abundante e a morte de uma filha pequena de Heinrich pontuam suas desventuras. Contando com uma belíssima fotografia que realça os atributos da iluminação que passa a nítida sensação de calor do ambiente pueril em que boa parte da trama se desenvolve, o longa ainda oferece uma belíssima direção de arte e um roteiro razoável. Está longe de ser uma aventura nos moldes que o padrão hollywoodiano apresenta já há alguns anos, mas seu ritmo ligeiramente lento e estética datada são um prato cheio para nostálgicos, até porque a obra carrega um clima de aventura sessentista. Mesmo sendo uma produção diferenciada de um país cuja filmografia ainda é de certa forma estranha a nós brasileiros, é fato que o longa é calcado em clichês. É previsível que o aventureiro vai enfrentar os citados contratempos provocados pela natureza e a inveja e a ganância humana, mas sabemos que o final feliz está garantido. Caçadores de Tróia é aquele tipo de filme que você assiste sem muitas pretensões e acaba curtindo, mas infelizmente não nos satisfaz plenamente. Faltam doses de adrenalina para não deixar o trabalho maçante e fica o sabor amargo da subtrama sentimental ser mal explorada, o que acaba deixando o espectador um pouco distante do universo do filme. De qualquer forma mata um tempo livre, mas bem que alguns minutinhos a menos seriam benéficos e por que não um personagem cômico para dar uma arejada na atmosfera seca e escaldante.

Aventura - 127 min - 2007

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