quarta-feira, 6 de abril de 2016

MISSÃO BABILÔNIA

NOTA 3,0

Interferência de estúdio
certamente comprometeu o
resultado de ficção mal
estruturada e sem graça
Quando um filme estreia nos cinemas ou é lançado em DVD sem publicidade isso pode significar um mau sinal afinal de contas é um tanto suspeito uma distribuidora esconder seu produto da mídia quando ela poderia ser uma aliada para aumentar a procura do mesmo, embora não seja raro que excelentes produções dispensem os gastos com marketing e confiem na propaganda boca-a-boca positiva do público. Agora o que dizer de uma obra que aparentemente tem toda a pompa de superprodução, mas seu próprio diretor e até mesmo o protagonista não ficaram satisfeitos com o resultado final? Pois é, essa é a situação de Missão Babilônia que não chega a ser uma ficção científica cafona cheias de engenhocas e naves espaciais (pelo menos não em números exagerados), porém, não foge do clichê de imaginar um futuro apocalíptico.  Com muitos problemas na fase de finalização, o longa tem um visual chamativo e uma ótima parte técnica, mas o conceito do imagem é tudo aqui não funcionou. Sem uma boa história não há efeito especial ou som estridente que segure a atenção do espectador. Bem, em tempos de febre do 3D e outras firulas talvez essa máxima não tenha valor, mas isso é outra discussão. Baseado no livro “Babylon Babies”, escrito por Maurice Georges Dantec e muito popular na França, a trama até que começa de forma instigante. Um mercenário está correndo apressadamente pelas ruas sob uma forte chuva até que encontra seu alvo, um asiático que lhe vendeu uma arma que não funciona e agora ele quer seu dinheiro de volta. Parece uma introdução tola? Somando-se a outros detalhes que percebemos nesta e em algumas cenas seguintes tomamos conhecimento da visão de futuro que o longa quer apresentar. O mundo não está totalmente devastado com alguns poucos sobreviventes como estamos acostumados a ver em outras produções com temática semelhante, porém, está caminhando para isso. O individualismo impera, o comércio ilegal dita as regras, militares armados ocupam em peso as ruas, os efeitos do aquecimento global já são plenamente perceptíveis, alguns animais como os tigres estão extintos há anos, a violência cresceu espantosamente e tantos outros detalhes negativos visuais vão pouco a pouco situando o espectador e substituem aquele manjado truque do pequeno resumo por escrito que geralmente abre produções do tipo. A ideia de introdução do diretor francês Mathieu Kassovitz, de Rios Vermelhos, já mostra seu respeito em manter o espírito da obra literária que o inspirou, todavia é quase impossível não ficar com o pé atrás com a produção desde os minutos iniciais por um motivo crucial: Toorop, o tal mercenário, é interpretado por Vin Diesel. Astro de filmes de ação, novamente ele surge inexpressivo, quase como um robô contratado para escoltar a jovem Aurora (Mélanie Thierry) e sua protetora Rebeka (Michelle Yeoh) do Cazaquistão para Nova York. No percurso eles acabam tendo que enfrentar alguns contratempos com indivíduos que estão de olho na moça que por anos viveu reclusa em um convento e que aos poucos revela ser uma pessoa incomum, alguém com inteligência e intuição acima do normal.

Bem, aos que compartilham do citado preconceito em relação as limitações artísticas de Diesel pode se dizer que neste caso seu jeito de atuar no piloto automático vem bem a calhar. Ele é um assassino profissional e em tempos em que o lema cada um por si é regra básica para sobrevivência ele não pode nem mesmo se dar ao luxo de ser um homem de poucos amigos, ainda mais porque ele segue rigidamente alguns códigos de honra e de conduta que comumente são descumpridos por seus colegas de profissão. Numa época em que a degradação das sociedades divide espaço com o ápice do desenvolvimento tecnológico, incluindo o rastreamento de humanos via satélite, Toorop vive exilado em terras européias e proibido de retornar aos EUA, mas a chance de reverter isso vem justamente da proposta feita pelo chefão Gorsky (Gérard Depardieu), personagem, aliás, que já é uma das pontas soltas do roteiro escrito pelo próprio Kassovitz em pareceria com Éric Besnard. Com uma aparência grotesca, ele seria do bem ou do mal? Qual sua ligação com a conspiração contra a aparentemente religiosa Aurora? A garota poderia ser um perfil dos mais interessantes já que pode prever o futuro, fala diversas línguas e é dotada de conhecimentos gerais que seriam impossíveis de serem adquiridos de acordo com a educação que teria tido no convento, fato no último ato explicado da forma mais estapafúrdia possível, mas sua intérprete é fraca demais, seus atos uma mistura de ingenuidade e coragem sem unidade e não deixa no ar a mínima sensação se seria a salvação ou a definitiva destruição da humanidade visto que a partir do momento que inicia sua travessia rumo ao solo americano ela teria exatos seis dias para revelar seu bombástico segredo? Sim, realmente tal revelação é uma verdadeira bomba, no mal sentido da expressão fique claro, mas algo que poderia beneficiar a ascensão de uma seita religiosa perigosa e de princípios manipuladores cuja líder é High Priestess (Charlotte Rampling), mais uma que surge do nada só para encher linguiça. Considerada apenas um pacote do qual o mercenário quer se livrar o mais rápido possível, discretamente é forçada a certa altura algum tipo de envolvimento emocional entre a jovem e o brucutu, mas que também não acrescenta nada a trama. Outra criação mal estruturada é a da Irmã Rebeka. Deveria ser uma pacifista e conselheira nata, mas na reta final praticamente vira uma lutadora de vale tudo, aproveitando-se do talento para artes marciais de sua intérprete, fora que sua primeira cena é marcada por um constrangedor diálogo com Toorop o que já ajuda a não colocarmos fé nesta guardiã. Todavia, até que a dupla Yeoh e Diesel funciona por encontrar o equilíbrio entre a disciplina dela e a agressividade inerente dele. Completando o pacote de erros básicos, ainda temos o cientista Darquandier (Lambert Wilson) que surge nos minutos finais trajando um figurino ridículo e para tentar explicar algumas coisas a respeito de Aurora, mas tudo é em vão quando já estamos fatigados de tanta correria, brigas, tiroteios e um roteiro que seria mais apropriado para um jogo de vídeo game.

Em meio a jornada por vários ambientes destruídos e sujos a bordo dos mais diferentes meios de locomoção, travessia na qual o trio passa por campos de refugiados, enfrenta a neve e se depara com pessoas do pior tipo possível, Kassovitz demonstra talento para construir uma verdadeira babilônia, um mundo a beira de um colapso com uma direção de arte que nos remete a outras produções futuro-apocalípticas, mas que peca pelo exagero de propagandas espalhadas ao longo da narrativa, principalmente quando a ação é transportada para Nova Iorque que segundo a visão do diretor no amanhã será ainda mais iluminada e agitada. Apesar do conceito interessante que poderia render algo que aliasse entretenimento e reflexão, infelizmente não há traços de complexidade na trama que acabou sendo resumida a uma montanha de clichês de filmes de ação e ficção e até mesmo a questão do fanatismo religioso sugestionada não vinga. Culpa do cineasta? Realmente parece que ele não se sente muito a vontade filmando fora de sua terra natal onde realizou o elogiado O Ódio. Em Hollywood já havia colhido críticas negativas pelo suspense Na Companhia do Medo, mas no caso de Missão Babilônia talvez não seja certo descarregar toda a culpa em suas costas. O lado comercial da fita não fica apenas nas inserções de marcas famosas em uma cena aqui e outra acolá. A produtora Fox Films bancou o projeto e, portanto, se achou no direito de mandar e desmandar de acordo com seus interesses. Com premissa que nos remete a de Filhos da Esperança (humanidade se autodestruindo, mundo em ruínas e uma única mulher podendo significar a salvação), o cineasta pretendia fazer um misto de ficção e ação mais adulto tal qual o conteúdo do livro original, mas é provável que o estúdio tenha tido receio de que o longa tivesse a mesma recepção da obra do espanhol Alfonso Cuarón, boas críticas e bilheterias fracas. Antes não pensassem tanto em encher o cofre. Com tradição em filmes arrasa-quarteirões, os executivos da Fox interferiram pesado no trabalho de Kassovitz e priorizaram a ação e os efeitos especiais. O diretor e o próprio Diesel confirmaram em entrevistas as divergências de ideias entre as partes e dizem que cerca de 70 minutos da versão originalmente programada foram excluídos para diminuir a faixa de censura e o tempo de duração visando atrair mais público e só isso já explica os problemas narrativos. Para que explorar o perfil dos vilões, dar maiores detalhes sobre os interesses que diversos grupos tinham em Aurora ou incitar a reflexão sobre os rumos da humanidade quando o público alvo no final das contas seriam adolescentes e adultos com síndrome de Peter Pan que só querem adrenalina, imagens e sons alucinantes ou uma desculpa para namorar ou se entupir de pipoca e refrigerante? De qualquer forma é Kassovitz quem assina a obra para todos os efeitos, embora também tenha sua parte de culpa na decepção final visto que boa parte dos diálogos e situações são muito ruins e não há edição que justifique tais fatos. 

Ação - 90 min - 2008

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9 – 10 Excelente, praticamente perfeito do início ao fim
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