segunda-feira, 18 de julho de 2016

A PROVA (2005)

NOTA 5,5

Drama adaptado de elogiado
texto teatral fica devendo em
emoção e por vezes acaba
distanciando o espectador
Loucos no cinema só servem para distrair platéias protagonizando cenas cômicas ou amedrontando personagens em filmes de terror e suspense. Será mesmo? Este é um pensamento antiquado e que só deve ser profanado por pessoas com memória muito curta ou nenhum conhecimento da sétima arte, pois a lista de produções que levam a sério a temática ou que registram a vida de pessoas com mentes brilhantes mesmo com algum tipo de deficiência mental é bastante extensa. Filósofos, escritores, pintores, músicos, enfim uma rica galeria de personagens do tipo, geniais e ao mesmo tempo problemáticos, sejam eles reais ou ficcionais, trataram de emocionar pessoas no mundo todo como no caso dos longas Gênio Indomável e Uma Mente Brilhante, por exemplo. Pois é justamente no quesito emoção que derrapa o drama A Prova que tinha praticamente todos os elementos necessários para ser um sucesso. Na direção John Madden repetindo a dobradinha do premiado Shakespeare Apaixonado com a atriz Gwyneth Paltrow, contudo, o cineasta parece pouco inspirado estendendo-se demais em cenas com longos diálogos que por vezes podem parecer sem sentido ao espectador. Mesmo assim a protagonista se esforça para transmitir sentimentos com sua atormentada Catherine, personagem que ela já havia interpretado anteriormente em uma montagem teatral de sucesso em Londres (também ganhou versão brasileira nos palcos). O roteiro original foi adaptado para as telas por Rebecca Miller em parceria com o próprio autor David Auburn, uma forma de tentar preservar a essência e a qualidade do aclamado e premiado texto. Por fim, um elenco respeitável para interagir com Paltrow, no entanto, o resultado final é enfadonho e a conclusão deixa a desejar. A trama gira em torno de Catherine, uma moça que abdicou de sua vida por cerca de cinco anos para poder cuidar de seu pai, Robert (Anthony Hopkins), um gênio da matemática que passou a sofrer com os males da esclerose no final da vida. Autor de centenas de manuscritos e teorias inovadoras, o estudioso dizia que sua loucura não era devido a velhice, mas já era um mal que lhe acompanhava desde seus vinte e poucos anos, quase como uma maldição a qual estavam sujeitas praticamente todas as mentes brilhantes. Catherine receia vir a sofrer também com a loucura já que está chegando na tal idade crítica e os anos em que viveu isolada com o pai em uma casa afastada parecem não terem lhe feito bem.

Mesmo já apresentando sinais de confusão mental e sem ter terminado seu curso na universidade, Catherine demonstra ter uma surpreendente habilidade para lidar com números e problemas matemáticos complexos. Como diz o ditado popular, filha de peixe peixinho é. Ela herdou tanto a genialidade quanto o desequilíbrio mental do pai, fato constatado logo nos primeiros minutos do longa quando o espectador é surpreendido com uma sequência em que a jovem dialoga com o matemático sobre sua solidão e logo em seguida descobrimos que ele já havia falecido. Entre momentos de devaneios e outros de lucidez Catherine vai tocando sua vida, mas as coisas se complicam na véspera de seu aniversário de 27 anos quando reencontra a irmã Claire (Hope Davis) e recebe a visita de Hal (Jake Gyllenhaal), um ex-aluno do intelectual que quer estudar mais a fundo a sua obra. Com passe livre para entrar na casa do professor para averiguar seus materiais de pesquisa, o rapaz logo se aproxima de Catherine que após um estranhamento inicial demonstra também certo apreço por ele. Já Claire, mais prática e menos sentimental, tem o objetivo de vender a casa do falecido e levar a irmã para viver com ela em Nova York. Ser amada como mulher poderia ser a chance da protagonista mudar de vida, mas com a irmã por perto ela não consegue se desvencilhar de possíveis amarras e corre o risco de voltar a viver em função de outra pessoa tal qual quando Robert estava vivo. Trabalhando esse conflito Madden poderia fazer um bom drama, mas seguindo a linha original optou por dar um toque mais intelectual à obra. É a instabilidade emocional ocasionada pela anulação o grande enfoque do longa. Mesmo longe das salas de estudo e atarefada com os cuidados com o pai, Catherine trabalhou durante o tempo em que ficou praticamente enclausurada. Ou talvez não. Essa é a dúvida que permeia praticamente todo o longa. Hal encontra em meio as anotações de Robert a resolução de um problema matemático que poderia ser um evento e tanto para a área, mas antes de levar isso a conhecimento público precisa ter a certeza de quem é o responsável pelos cálculos já que Catherine levanta suspeitas de que ela própria poderia ter feito isso e não se lembrava. Quem merece tal crédito? Não se deve estragar a surpresa, mas a resposta a esse enigma é dada em uma cena que pode passar despercebida por sua sutileza, mas cheia de simbolismo, um momento que deixa explícito a que ponto a jovem chegou a abdicar de sua felicidade em respeito e amor ao pai, fato que pode ter contribuído para acelerar o desenvolvimento de sua demência ainda em estágio controlável, mas que já atrapalha seu cotidiano.

A premissa era das melhores. Realmente é uma pena que um trabalho com um início tão envolvente aos poucos vá se tornando desinteressante. Madden começa bem com a já citada cena da conversa entre pai e filha. Em tom despojado Robert assume para a filha sua loucura e tenta tranquilizá-la quanto a perpetuação de sua doença de geração para geração, ainda mais porque é véspera do aniversário dela. Discutem sobre a solidão, algo que poderia ser encarado com naturalidade já que ela abriu mão de sua vida social para cuidar do pai, mas assim que percebemos que ele é fruto de sua imaginação cai a ficha de que o isolamento não foi proposital e sim condicional. Conforme Catherine foi apresentando sinais de instabilidade emocional e mental as pessoas se afastaram. Hal seria a primeira pessoa a penetrar nesse mundo de clausura por interesses pessoais nos arquivos do professor que idolatrava (jamais deixando a entender que queria tirar algum lucro com isso), mas logo o emocional fala mais alto, porém, Madden deixa os sentimentalismos de lado e não investe no romance do jovem casal, preferindo seguir o viés dramático da situação da protagonista. O fracasso de A Prova pode ser definido em uma simples frase: cinema não é teatro. Já tivemos grandes sucessos transportados dos palcos para as telas, mas o fato é que produtos mais intimistas nem sempre funcionam nessa passagem. Grande parte do impacto da versão teatral seria dar a oportunidade do espectador imaginar o que se passa na mente atormentada de Catherine, mas no cinema as coisas tendem a serem oferecidas mais “mastigadinhas”, assim o trabalho de edição foi de fundamental importância para juntarmos as peças desta história, todavia, a ideia acaba não funcionando totalmente por causa do tédio quase onipresente na trama após a meia hora inicial o que tende a dispersar a atenção de quem assiste. Se a potência da história é atenuada e poucos conseguem compreender sua mensagem plenamente, a recompensa em acompanhar tal obra poderia estar em ver um time de nomes famosos e talentosos em cena, mas também não é o que acontece. Gyllenhaal cativa com um personagem simpático, mas que perde força devido a fragilidade do argumento romântico que não vinga. Hopkins surpreendentemente parece trabalhar no piloto automático enquanto Davis convence com o autoritarismo de sua personagem. No final das contas, a desacreditada Paltrow é quem tem o desempenho mais razoável e reconhecido com uma indicação ao Globo de Ouro, porém, que não salva o longa de ser uma decepção para quem esperava algo com mais sustância devido a relevância da temática principal.

Drama - 99 min - 2005

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