sexta-feira, 29 de maio de 2020

SEQUESTRO SEM PROVAS


Nota 2 Longa tem bom  e intrigante argumento, mas se autossabota com escolhas equivocadas

Filmes menores a respeito de sequestros costumam entreter, ainda mais quando a vida de uma criança bonitinha e carismática está em jogo, mas as pretensões de ser um suspense daqueles que dão nós na cabeça do espectador podem atrapalhar. Com estética e narrativa típicas de telefilmes, não há muito que se esperar de Sequestro sem Provas a julgar por sua curtíssima duração. A trama começa com Beck (Jennifer Beals), uma agente do FBI envolvida com um caso que não terminou bem, mas sim com duas mortes. Após os créditos iniciais, diga-se de passagem, bem longos para encher linguiça, a ação volta três dias antes para mostrar o início de um novo e aparentemente normal dia para a família Waters. Teria algo a ver a introdução e esse clã? Pode ser que sim ou pode ser que não. Apesar de muitos já sacarem a relação entre essas cenas, o roteiro de David Robbeson consegue intrigar o espectador até pouco mais da metade.

O perfil de Beck indica que é uma mulher que esconde um grande mistério, algo ligado a sua saúde mental devido a algum fato traumático que viveu recentemente, podendo inclusive ser o malfadado caso do início. Ela é destinada a investigar o caso do desaparecimento de Megan (Olivia Dallantyne), a filha pequena de Julia (Shauna Black) e Mike Waters (David Storch). O casal aparentemente vive feliz, mas aos poucos vamos conhecendo pequenos detalhes dessa união que colocam em xeque tal felicidade. O marido parece se dedicar demais ao trabalho, inclusive o sequestro da garotinha se deu durante mais uma de suas viagens profissionais.  Estranhamente seu sócio, Ben Tomlisson (Stuart Hughes), há tempos não viaja alegando passar mal em voos. Com a ajuda de seu companheiro de trabalho Andy (Jonathan Goad), Beck começa a suspeitar de que o rapto claramente foi feito por alguém que conhecia bem a rotina da família, afinal em meio a uma importante negociação que Mike fecharia durante a viagem à Nova York, nada mais apropriado que pedir um polpudo resgate. 


Beck ainda tem a sorte de contar com uma espécie de poder mediúnico que a faz ver imagens do sequestro com riqueza de detalhes, mas o rosto do criminoso obviamente não aparece, afinal algum mistério tem que ficar no ar. É difícil redigir uma sinopse a respeito deste trabalho do diretor John Stead sem revelar detalhes que, embora previsíveis, ajudam a construir uma narrativa envolvente. O filme não cai no marasmo tendo revelações e pistas dadas a todo o momento, deixando dúvidas sobre o caráter de Mike, Ben e até mesmo de Julia, podendo ainda existir a possibilidade de uma outra pessoa estar envolvida, uma babá despedida pouco tempo antes do crime e que parece que sumiu do mapa. O pai que mesmo com esse problemão tem cabeça para ir trabalhar, o sócio com comportamento suspeito, o surgimento de fotos nas quais Ben aparece ao lado de Megan muito mais que o próprio Mike, os telefonemas suspeitos de Julia, além de um caso similar no qual uma menina foi assassinada e não chegou a conhecimento público por ela ser filha de um chefão de uma empresa que não queria abalar seus negócios. São vários pontos a serem investigados, mas não há muito tempo para isso.

No conjunto, Sequestro sem Provas, consegue alinhavar uma história com vários ganchos interessantes e que poderiam ser (muitíssimo) mais bem desenvolvidos, aliás, o título nacional não condiz com a trama, afinal provas é o que não faltam aqui a começar pelas marcas de tênis sujos de terra encontradas no quarto da garota. Uma simples inspeção policial poderia levar ao tipo e numeração, detalhes que parecem bobos, mas que já poderiam ajudar a encaminhar uma investigação. Uma pena que Beck só se dá conta disso com certo atraso. Até então ela prefere confiar em seu poder intuitivo assim como Andy que acredita piamente no sexto sentido dela, deixando no ar uma certa atração pela moça que não chega a gerar gancho romântico algum. De qualquer forma, praticamente até o fim o longa é desenvolvido a contento, obviamente dentro dos padrões que esperamos para um telefilme.


O calcanhar de Aquiles da produção chega justamente faltando menos de dez minutos para o término e vem de forma arrasadora. Com orçamento limitado, assim como tempo de arte e criatividade, a resolução é feita com base em constrangedoras sequências de premonição da protagonista que consegue finalmente seguir todos os passos e ver o rosto do criminoso simplesmente ao tocar em objetos confiscados pela polícia e ligados ao crime. Além da conclusão frustrante, muitas pontas ficam soltas, inclusive sobre os mistérios que rondam Beck, resumindo-se a um trabalho vergonhoso. Nem mesmo o bom desenvolvimento inicial compensa na hora de avaliar.

Suspense - 88 min - 2006 

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