segunda-feira, 26 de abril de 2021

FORÇAS DO DESTINO


Nota 2 Carisma de atriz e beleza de astro não são suficientes para segurar longa sem história

Sempre que algum artista se destaca é certo que os produtores vão tentar sugar ao máximo desse sucesso e exposição, assim é comum observarmos algumas filmografias e identificarmos o auge de certos astros e estrelas, um ou mais períodos em que dominaram a cena. Como uma andorinha só não faz verão, muitos projetos visivelmente foram concebidos focados na união de intérpretes em evidência, mas as vezes o alvo que era para ser certeiro acaba sendo um tremendo tiro no pé. Forças do Destino é um bom exemplo. Simplesmente não enxergamos outro motivo para sua existência senão a vontade dos envolvidos em fazer grana fácil em cima da publicidade do encontro de Sandra Bullock e Ben Affleck. Ainda colhendo frutos do blockbuster de ação Velocidade Máxima, na época comemorando seu quinto aniversário, a atriz até então não havia estrelado nenhum outro fenômeno, mas seu nome por si só já garantia o aval para alguns filmes serem produzidos. Já o ator estava se habituando com a fama repentina conquistada após o Oscar como roteirista pelo drama Gênio Indomável e pela superexposição de ter protagonizado a aventura apocalíptica Armageddon. 

Com uma dupla de atores bem na fita, reuni-los em uma produção com pegada romântica era sucesso na certa, mas o fato é que a diretora Bronwen Hughes, da comédia-familiar A Pequena Espiã, confiou demais no poder de fogo da dupla e aparentemente os deixou livre para fazerem o que quisessem durante as filmagens. Divirtam-se! Façam aquilo que sabem ou gostam! Pelo menos é essa a sensação que temos ao ver um trabalho que não se define entre a comédia, o romance, a aventura, o drama ou se assume sua aura de pornô soft. O resultado parece um clipe publicitário para os protagonistas venderem sorrisos de um branco reluzente e exibirem suas boas formas com uma ou duas cenas mais sensuais. Affleck interpreta o publicitário Ben Holmes (que original!), um jovem a caminho de sua cidade natal e que faltando pouco mais de um dia para seu casamento se vê em meio a um turbilhão de emoções. Complicações durante a viagem de avião o forçam a seguir viagem por terra e o destino coloca em seu caminho a maluquinha Sarah, mais uma personagem de bem com a vida e desapegada para o currículo de Bullock. 

Com espírito livre e aventureiro, a moça consegue facilmente seduzir o rapaz e fazê-lo repensar sobre o matrimônio, além de forçá-lo a vivenciar experiências que fogem totalmente de seu comportamento certinho. Ainda que tente fugir ao máximo de encrencas, quando se dá conta Holmes se torna um caloteiro literalmente da noite para o dia, vai parar na cadeia por conta de um mal-entendido e conhecidos que o encontram por acaso podem revelar a puladinha de cerca, até então não concretizada, para sua noiva Bridget (Maura Tierney). Todos os infortúnios, no entanto, não esboçam a mínima reação ao espectador que acompanha tudo com um tédio absurdo. Escrito por Marc Lawrence, que após este fiasco recompensaria Bullock com o divertido Miss Simpatia, o filme simplesmente não tem razão sólida para existir senão forçar um encontro entre duas celebridades daquele momento, porém, sem a menor química. São bonitos, simpáticos, na época tentando ainda firmar seus nomes na indústria, mas parecem desconfortáveis em cena como se sentissem o peso de carregar nas costas uma produção fadada ao fracasso.

Bullock se repete mais uma vez no papel do entusiasmo em pessoa, característica que neste caso evidentemente é forçada e desarma qualquer chance de nos envolvermos com uma revelação mais dramática a respeito de Sarah que surge lá pela metade, e sua performance destoa muito em relação ao seu partner que parece ter atuado sob efeitos de tranquilizantes tamanha sua entrega ao papel. Desde o início quando percebeu no aeroporto que esqueceu as alianças que comprara até as cenas finais em que discute a relação com sua insossa noiva, Affleck não muda de expressão em momento algum, nem mesmo quando se submete a um showzinho erótico por alguns trocados, sequência que poderia ser o clímax da fita, mas no fim soa involuntariamente cômica. O roteiro resume-se a uma sucessão de situações absurdas para unir os protagonistas, tudo muito mal amarrado por diálogos enfadonhos ou sem sentido, como quando são flagrados dançando no bar de um hotel e disfarçam com um mergulho forçado na piscina. É para deixar qualquer um ruborizado por conta da vergonha alheia.

Será mesmo que Bullock e Affleck precisavam mesmo passar pelo constrangimento que é Forças do Destino? Certamente não. Hughes não conseguiu fazer muita coisa com o roteiro pouco inspirador que tinha em mãos e os perfis de seus personagens também não ajudam muito, mesmo apostando no velho e quase sempre eficaz clichê dos opostos que se atraem. Além dos perfis antagônicos, seus objetivos também divergem e os impedem de se entregarem a paixão que surge entre eles em tempo recorde. Holmes tem um casamento para assumir, mesmo que os seus pais não sejam exemplos de uma união feliz. Já Sarah precisa acertar contas com seu passado, algo então relegado e que justificaria sua falsa. O final, com uma narração carregada de mensagens de conforto e conformismo, tenta arrematar com certa beleza um filme insípido e que nem o passar dos anos lhe trouxe algum charme nostálgico.

Romance - 106 min - 1999


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