segunda-feira, 30 de outubro de 2023

STAN HELSING


Nota 1 Sátira a filmes de terror limita-se a oferecer apenas erros e vergonhas de seus similares


Quando estreou o primeiro filme da série Todo Mundo em Pânico ninguém duvidava que muitos capítulos iriam vir a seguir, afinal de contas material para satirizar jamais faltaria. O problema é que após o original perdeu-se o fio da meada (o mínimo que segurava as pontas) e os roteiros começaram a atirar para tudo quanto é lado sem chegar a lugar algum. Variando os gêneros a serem achincalhados, outros derivados dessa linha, como Deu a Louca em Hollywood, Super-Herói- O Filme e Espartalhões, mostraram esgotamento da fórmula e não geraram continuações, provando o oportunismo que os sustentavam. A ideia basicamente é fazer alguns trocados tirando sarro de produções famosas, de preferência recentes para não exigir demais do cérebro do público-alvo dessas fitas. Vendo por esse lado, Stan Helsing tinha potencial para ir além, a começar pelo seu título que evoca a lendária figura de Van Helsing, o caçador de monstros. 

Na noite de Halloween, Stan (Steve Howey) está a caminho de uma festa na companhia dos amigos Teddy (Kenan Thompson), Nadine (Diora Baird) e Mia (Desi Lydic), mas antes precisa fazer uma entrega para seu chefe em um lugar distante. Pegando um atalho, já sabemos que as coisas vão sair dos trilhos. O quarteto vai parar em um sombrio condomínio onde no passado funcionava uma produtora de filmes de terror, mas cujas atividades foram interrompidas por causa de um grave incêndio. Opa! Acidentes mal resolvidos, lugares assombrados, uma cidade que dá toque de recolher à meia-noite... até que o argumento tem potencial, mas tudo é desperdiçado pelo roteirista e diretor Bo Zenga que parece apenas querer brincar de alinhavar porcamente referências a filmes de terror, conseguindo risadas amarelas de alguns poucos que conseguem entender as piadas, afinal quem não é fã de sangue e tripas deverá ficar boiando.


Stan poderia ser um descendente do citado herói da antiguidade e, em pleno século 21, combater assombrações modernas oriundas do cinema como Freddy Krueger, Jason Vorhees e Michael Meyers, mas a vontade que temos é de que estes monstros não estejam de brincadeira e realmente trucidam o babaca protagonista e sua turma de amigos descerebrados. Depois os próprios vilões poderiam fazer o favor de matarem uns aos outros. São péssimos! Para uma produção que quer casar humor e terror, no mínimo, a banda podre deveria ter um pouco de sangue frio e astúcia, mas a turma reunida aqui parece ter sido pinçada nas ruas durante o carnaval e ainda por cima embriagados. Assim, além dos já citados vilões que fizeram História e aqui são reduzidos a pó, Zenga também joga fora a oportunidade de extrair boas sátiras de produções como O Massacre da Serra Elétrica, Brinquedo Assassino, Olhos Famintos entre tantas outras que ficaram de fora. Os personagens são tão maus caracterizados que alguns demoramos um tempo para identificar, mas isso é o de menos já que o público-alvo rapidamente irá se esquecer que o intuito da produção seria satirizar filmes de horror. 

Piadas de conotação sexual explícita tomam conta da produção, mas a maioria não funciona assim como todo o resto. Até uma subtrama envolvendo um misterioso caronista chega a ser inserida, porém, abandonada sem nada a acrescentar a essa colcha de retalhos cheia de buracos. Nem mesmo o fato do protagonista trabalhar em uma videolocadora, ainda que na época já um negócio em decadência, inspirou algumas boas piadas que poderiam surgir explorando alguns títulos famosos. No final das contas, Stan Helsing se causa algum tipo de reação cômica deve ser daquele espectador ruborizado diante de algo tão absurdo e que ri de si mesmo por perder tempo com tal bobagem que não passa de um amontoado de cenas sem sentido. Ainda é triste saber que o saudoso comediante Leslie Nielsen, em uma de suas últimas atuações, tenha topado participar de algo tão vulgar e com um papel indigno de seu talento, um dono de bar que gosta de se vestir de mulher. 


Embora os protagonistas sejam extremamente irritantes, ainda assim o roteiro desperdiça preciosos minutos tentando criar um mínimo de empatia com o espectador, mas tudo é em vão. Passagens que deveriam ser engraçadas tornam-se arrastadas e extremamente ridículas em mãos sem talento, além dos diálogos serem os mais previsíveis possíveis, deixando tudo mais constrangedor ainda. A inverossimilhança é característica marcante deste subgênero, mas Zenga  extrapola os limites do nonsense. Como as sátiras a produções de horror e suspense vira e mexe continuarão a pipocar, seria bom que produtores, roteiristas, diretores, elenco e até faxineiros e copeiros dos estúdios se dessem ao trabalho de ver alguns bons títulos da seara, como Todo Mundo Quase Morto e Zumbilândia. Quem sabe assim aprendessem alguma coisa a respeito de uma fórmula que não está completamente enterrada, mas que carece de sangue novo e de preferência reforçado em termos de criatividade, capricho e boa vontade.

Comédia - 90 min - 2009 

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