terça-feira, 5 de maio de 2020

IRONIAS DO AMOR


Nota 6 Amor ao acaso move obra clichê com romance de casal com personalidades opostas


É comum que as pessoas consolem alguém que está sofrendo por amor ou por nunca o ter experimentado de verdade dizendo que quando menos se espera uma grande paixão pode surgir. Quem se apega a tal pensamento inevitavelmente passa a idealizar o momento desse encontro com toda pompa de filme hollywoodiano, sendo capaz até de se imaginar vivenciando situações e diálogos um tanto clichês. Alimentadas por essas fantasias, milhares de pessoas vão tocando suas vidinhas até que o grande dia chega, porém, quando o amor de suas vidas finalmente está próximo pode passar despercebido devido as circunstâncias que não lembram em nada seus sonhos. É dessa forma que começa o amor do casal protagonista de Ironias do Amor, que investe no humor sutil para conquistar o espectador, mas na reta final apela para o melodrama. O filme começa nos apresentando a Charlie Bellow (Jesse Bradford), um jovem que está sozinho em meio a uma paisagem outonal dizendo que para entender como ele chegou até lá é preciso conhecer sua história desde o início. Ele cresceu em uma pacata cidade e seus pais fizeram de tudo para lhe dar uma boa educação a fim dele ingressar em uma universidade de renome para estudar administração e quem sabe seguir os mesmos passos profissionais do pai. 

Educado em ambiente tradicionalista e com seu futuro parcialmente traçado, não havia muito com o que Bellow se preocupar, mas e quanto a sua vida pessoal? Ele vai morar sozinho em Nova York sonhando com uma colocação melhor no mercado de trabalho, mas ao contrário da maioria dos solteiros não é um cara namorador e tampouco adepto do sexo casual, o que soa estranho para muitos, como seu amigo Leo (Austin Basis) que tenta incentivar o rapaz a se divertir e ser mais descolado. Certa vez questionado sobre qual tipo de garota o faria perder a cabeça  coincidentemente Bellow bate os olhos aleatoriamente em Jordan Roark (Elisha Cuthbert), uma jovem que parece cheia de atitude e personalidade. Já diz o ditado popular que os opostos se atraem, assim ela seria a garota perfeita para um jovem mais pacato e pé no chão. Esse momento poderia ser típico de cinema, mas eles não trocam uma única palavra, sequer se aproximam, mas quis o destino que os dois forçosamente se conhecessem. Bellow reencontra a moça na estação de metrô chamando por alguém aos gritos e colocando-se em risco perto dos trilhos. Após um ataque bizarro de emoções, Jordan acaba a levando para sua casa. Da mesma maneira que surgiu em sua vida, a garota some no dia seguinte, mas logo entra em contato pedindo, ou melhor, exigindo um encontro com aquele que lhe estendeu a mão. 


Bellow então percebe que a moça é espirituosa, tem sempre uma resposta ou piada na ponta da língua, mas no fundo parece um tanto desajustada. Provavelmente a alegria que demonstra é a forma que encontrou para lidar com alguma frustração. Outros encontros acontecem e assim eles começam a namorar naturalmente, não importando mais ao jovem as várias perdas de oportunidades de trabalho para poder ficar com a namorada que tem como passatempo preferido escrever histórias que acredita terem potencial para se transformarem em roteiros de cinema. Curiosamente, seus textos se passam sempre em épocas futuras, mais uma prova de que ela faz de tudo para escapar da realidade. Em uma divertida sequência protagonizada pelo próprio casal, ela chega até mesmo a reinventar a trama do filme Titanic no ano de 2037 com os famosos Jack e Rose novamente separados pela colisão do navio com um iceberg, afinal ela está certa de que o homem jamais aprende com seus erros. Toda a loucura de Jordan, entre momentos de alegria e rompantes de raiva ou tristeza, acaba contagiando o namorado que acaba se excedendo na diversão e conhece forçosamente o pai dela, o Dr. Roark (Chris Sarandon), médico que acaba atendendo o rapaz após ele cair e bater a cabeça. Ele troca remédios e exames por um conselho: quer vê-lo longe de sua filha, pois o considera uma má influência que a faz perder a noção de limites.

Até aí ficamos nos perguntando que raios de romance é esse? Como alguém pode se apaixonar por uma figura tão estranha e de temperamento tão inconstante? Muitos podem já estar entediados ou confusos, mas os adeptos de romances podem gostar dos rumos da trama. Chega um momento em que Bellow percebe que ao mesmo tempo em que Jordan lhe faz bem ela também parece inclinada a destruí-lo, mas mesmo enumerando todos os seus defeitos acaba chegando a conclusão de que está realmente apaixonado pela doidinha. Entre encontros e desencontros, só vamos saber o real motivo do comportamento da garota e sua fixação pelo atual namorado quando a narrativa volta ao ponto inicial, o parque no qual Bellow se encontra aos pés de uma árvore de imagem peculiar e de grande importância para o casal. São previsíveis tais segredos ainda mais quando o pai da moça procura o possível genro para pedir desculpas e assumir que o tratou mal pensando que ele era apenas mais um que se aproveitou da fraqueza de sua filha que constantemente voltava para casa na companhia de estranhos por estar embebedada na tentativa de afogar mágoas. 


Ironias do Amor obviamente passa longe de ser um filmaço, mas não chega a ser tão medíocre como tantas bobagens do gênero romântico produzidas aos montes. O espectador mais imediatista pode não se empolgar com a estranha introdução e desistir, mas quem tiver disposição pode se sentir satisfeito com o conjunto, isso se não for muito crítico e cheio de expectativas. Está é a refilmagem de um filme da Coréia do Sul, "Yeopgijeogin Geunyeo", mas o roteiro de Victor Levin não traz inovação alguma quanto a história, porém,  tampouco mantém algum resquício de clima de produção asiática, algo acentuado pela direção de Yann Samuell que adotou uma edição arrojada em alguns momentos (ora apostando na rapidez, ora valorizando a suavidade para captar emoções através de olhares e gestos) e que procurou paisagens urbanas para desenvolver várias cenas, talvez uma forma implícita de mostrar como as grandes metrópoles tratam seus habitantes. Eles estão presentes em grandes quantidades, mas poucos sabem o que acontece com o seu próximo. Mesmo assim, ironicamente, laços amorosos nascem e muitas vezes de forma e com pessoas inesperadas.

Romance - 95 min - 2008

Leia também a crítica de:

Nenhum comentário: