terça-feira, 5 de abril de 2022

PERDIDOS EM NOVA YORK


Nota 5 Comédia é datada e com piadas previsíveis apoiando-se no carisma dos protagonistas


Você já viu essa história. Turistas atrapalhados visitam cidade desconhecida e o destino parece estar contra eles, colocando em seus caminhos diversos obstáculos que vão tirá-los do sério, provocar brigas, mas no final tudo dará certo. Essa é uma das tramas mais corriqueiras em comédias e típicas de produções realizadas entre meados das décadas de 1950 e 1980, uma fórmula que não tem erro. O que pode justificar seu sucesso ou fracasso é seu elenco. Será mesmo? Perdidos em Nova York prova que bons intérpretes realmente são necessários, mas eles não podem fazer nada sem um bom texto. Refilmagem de Forasteiros em Nova York, obra setentista estrelada por Jack Lemmon e Sandy Dennis, esta comédia foi lançada sem grandes alardes até mesmo nos EUA onde filmes do tipo costumam ter audiência cativa (devem se divertir vendo estrangeiros perdidos em suas ruas, que dirá os próprios americanos aloprados). 

Após mais de vinte anos de união, finalmente Nancy (Goldie Hawn) e Henry Clark (Steve Martin) estão a sós após seus filhos tomarem os rumos de suas vidas. Há tempos o casamento caiu na rotina e a situação só parece piorar a cada dia, mas as coisas estão prestes a mudar. Publicitário experiente, o veterano acaba inesperadamente perdendo o emprego, porém, já tem em vista um novo, mas para tanto terá que viajar de Ohio para Nova York sem levantar suspeitas da esposa que nada sabe sobre a demissão. Dizendo que iria apenas viajar para uma tentativa de conseguir um trabalho melhor, o que não deixa de ser verdade, Henry se surpreende quando sua esposa invade o avião dizendo que também irá à Nova York. E então o desfile de piadas previsíveis começa. Nancy causa confusão dentro da aeronave, as malas somem, eles perdem o trem, caem na lábia de um vigarista e até o cartão de crédito estrategicamente guardado no sapato para uma emergência falha na hora H. Por outro lado, temos boas tiradas como o acidente com o carro do aluguel e a invasão a uma reunião de viciados em sexo atraídos pela comida de graça. 


É nítido que o diretor Sam Weisman buscou apoiar-se no talento e carisma de seus protagonistas, química que já haviam revelado anos antes em Como Agarrar um Marido. Reconhecidamente divertidos e alto astral na frente e atrás das câmeras, a afinidade dos atores proporcionou a adição de improvisos no longa, mas suas presenças também aumentam a sensação de que estamos diante de um filme antigo, ainda mais quando entra em cena John Cleese vivendo Mr. Mersault, repetindo o velho estereótipo do gerente de hotel chato e puxa-saco. Sem ter como pagar um quarto, o casal vai se virando como pode até que o medo de ter um segredo revelado faz com que o gerente mude completamente seu comportamento com eles.  O ator rende ao menos um momento memorável: as escondidas e travestido de mulher, ele dança um dos hits da cantora Donna Summer enquanto é observado sem perceber por Nancy embasbacada. 

A produção é baseada no roteiro de Neil Simon, considerado um dos grandes nomes do humor na Broadway, mas o que podia ser divertido no passado tornou-se datado em sua versão modernizada. Se em 1999 o fracasso já podia ser creditado ao humor capenga, imagina hoje em dia. Não há problema algum em apostar em uma comédia com ares mais nostálgico e ingênuo, é uma opção até bem-vinda para fugir das piadas escatológicas e vexatórias que parecem ter tomado conta do gênero nas últimas décadas, mas é preciso fazer alguns ajustes para elas funcionarem a contento. O roteirista Marc Lawrence é o responsável pela adaptação do roteiro original, mas a sensação que se tem é que ele simplesmente transcreveu a trama antiga palavra por palavra e se esqueceu de readequá-la a época em que a refilmagem foi realizada. 


Como já dito, não há problema algum em reciclar piadas, tem sempre público novo para conhecê-las, o que incomoda é que todas elas são pré-conduzidas por alguma cena, diálogo ou sinal que acabam as enfraquecendo, sendo o exemplo mais óbvio a sequência em que o casal finalmente resolve ter algum tipo intimidade após anos de jejum no meio de um parque as escuras, mas antes já ficamos sabendo que uma festa está sendo promovida próxima ao local. Embora não consiga explorar o conflito entre a personalidade explosiva do marido e a ingenuidade da esposa como no original, afinal Nancy em alguns momentos parece saber muito sobre o mundo da malandragem, Perdidos em Nova York vale uma conferida pelos nostálgicos por comédias antigas, até a imagem hoje já ajuda no clima vintage. Por fim, ainda fica a mensagem de que mais cedo ou mais tarde a vida pode testar as pessoas e cabem a elas desistir ou apostar no renascimento, dessa forma é óbvio que o happy end está garantido.

Comédia - 90 min - 1999 

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