quinta-feira, 9 de março de 2017

A FACE OCULTA DA LEI

NOTA 6,5

Apesar dos vários clichês, longa
envolve com trama intrincada a
respeito de um crime que revela
preconceitos e corrupção na polícia
O título já diz tudo. A Face Oculta da Lei é mais um filme que tem como objetivo escancarar a hipocrisia existente dentro da própria polícia, instituição que deveria lutar pelos direitos e segurança da população, mas a ganância acaba levando seus membros a serem corrompidos e a entrarem em esquemas de corrupção, roubos, tráficos de drogas, prostituição e tudo mais que envolva o submundo, justamente as mazelas que eles deveriam combater. Para abordar tal tema, sabemos que os clichês do gênero policial não podem faltar. Bandidos com linguajar chulo, tiroteios, perseguições, vagabundas, consumo de entorpecentes, muita bebida e claro que não se pode excluir o velho conflito entre uma dupla de homens da lei completamente diferentes um do outro. Aqui eles são representados por Eldon Perry (Kurt Russell) e Bobby Keough (Scott Speedman), respectivamente a cobra criada e fardada e o novato na máfia... Quer dizer, na polícia. O filme começa em meados de 1991 com uma perseguição policial a um foragido, um negro que quando foi capturado acabou sendo agredido pelas autoridades até morrer. Um ano depois os quatro agressores, todos brancos, estão sendo julgados, não escaparam do crivo de seus superiores, e correm o risco de perderem o cargo na polícia. A situação é tensa porque mais que julgar a morte de um ser humano, independente de ser realmente um bandido ou não, o caso envolve racismo. Essa introdução é apenas para situar o espectador no contexto da época quando os constantes abusos da polícia de Los Angeles provocaram um grande motim de rua, uma verdadeira guerra entre raças. Baseado em um roteiro de James Ellroy, de Los Angeles – Cidade Proibida, o projeto ficou a espera de um estúdio que o bancasse por quase uma década até que ele foi parar nas mãos de David Ayer que o reescreveu inteiramente, mantendo apenas os nomes dos personagens e as ações concentradas no início da década de 1990. A história em si começa de uma forma confusa. Após o citado crime, que depois só será lembrado em alguns momentos para reforçar o cenário de conflito, duas tramas simultâneas começam a ser desenvolvidas. Keough entrou apenas há três semanas na polícia e já está sendo investigado por má conduta, teria matado um homem alegando que agiu em legítima defesa e seguindo os ensinamentos que recebeu em seu treinamento, tendo total aprovação de Perry, seu parceiro. O caso acaba sendo acatado por seus superiores que o absolvem e ele até ganha fama pela sua coragem e ousadia, mas logo terá que provar se realmente é um bom profissional ou apenas contou com a sorte de principiante.

Enquanto rolava esse julgamento interno na polícia, dois bandidos encapuzados assaltavam a loja de conveniências de um chinês, fizeram cinco vítimas e Perry e Keough são designados a cuidar das investigações. O novato é detalhista, observa a cena do crime, elabora hipóteses, mas seu experiente parceiro é mais explosivo e quer ir logo à caça de possíveis suspeitos, colocando em sua mira grupos de negros que barra nas ruas e trata com violência e autoridade para tentar arrancar alguma confidência. Em uma dessas batidas, jogando verde para colher maduro, eles conseguem arrancar algumas informações de Darryl Orchand (Kurupt) que afirma que conhecia o dono da tal loja, mas sempre respeitou o acordo de ele e seus “manos” ficarem longe em troca de bebidas grátis. Sem provas concretas o bandido acaba sendo liberado, mas não contava que a quinta vítima sobreviveu. Um catador de sucatas foi baleado bem na garganta quando os criminosos saiam da loja e embora não pudesse falar tinha suas mãos para dar respostas aos policiais, afirmando por escrito que conseguiu distinguir que os bandidos eram um negro e um branco. Juntando pistas os detetives tem certeza que Orchand e seu inseparável parceiro Gary Sidwell (Dash Mihok) foram os responsáveis pelos assassinatos, mas agiram sob o comando de alguém bem mais poderoso de olho na grana do chinês que não era nenhum santo e estava metido até o pescoço com negócios ilegais. O contratante tinha um acordo de ficar com boa parte dos lucros dos roubos e deixar alguns trocados para os bandidos. Conforme avançam as investigações, a dupla se depara com uma rede de intrigas e corrupção que atinge até o alto escalão da polícia local. Os suspeitos são conhecidos por trabalharem como informantes para Jack Van Meter (Brendan Gleeson), a quem Perry e Keough são subordinados. O chefe obriga que eles peçam as prisões preventivas de outros dois meliantes já com ficha bem suja na polícia e que mintam afirmando que seus colaboradores estavam fora da cidade a seu serviço. Apesar de saber que isso é errado, Perry acredita que não pode trair a memória de seu pai que foi parceiro desse cara-de-pau e tem convicção de que Los Angeles só não sofreu um colapso fulminante graças as ações dúbias dos veteranos. Seu pupilo também procura entrar no jogo sujo em prol de sua carreira, mas a partir de então o rapaz passa a sempre ter um pé atrás quanto aos ideais e práticas de seu mentor, situação que mais adiante o forçará a repensar os rumos que dará a sua vida profissional.

É interessante que em sequências ou diálogos rápidos é que esta obra adquire o respeito do espectador, são pequenos detalhes que fazem toda a diferença e a afastam do lugar comum. Não é um mero entretenimento com tiroteios a cada cinco minutos ensanduichados por bebedeiras e sexo gratuito. Em duas ligeiras cenas, por exemplo, ficamos atônitos em descobrir como é fácil dobrar um juiz com uma reles justificativa para prender dois inocentes (pelo menos neste caso). Tudo na base da amizade, o que é revoltante e talvez seja isso mesmo que prenda a atenção. Apesar dos vários clichês, o interesse é mantido pela curiosidade ou indignação de ver até onde pode ir a falta de ética profissional da policia e autoridades. Paralela a trama a respeito do assalto, temos ainda as investigações de Arthur Holland (Ving Rhames), chefe de polícia que tenta a todo custo combater a corrupção dentro da organização e está desconfiado de que Perry abusa do poder que sua patente lhe dá direito e está disposto a achar provas que possam afastá-lo do trabalho, ainda mais agora que o valentão está prestes a ser promovido a tenente. Para tanto ele conta com a ajuda de uma fiel e sedutora escudeira da corporação, Beth Williamson (Michael Michele), que se aproxima de Keough para tentar descobrir a verdade por trás de seu primeiro e precoce assassinato. Muitos conchavos, traições, pistas falsas e alguns ganchos desnecessários infelizmente acabam enfraquecendo o potencial de A Face Oculta da Lei que tinha muito a apresentar, mas pouco tempo disponível, ainda que sua duração seja acima da média para seu gênero. O diretor Ron Shelton tentou alinhavar da melhor maneira possível todas as subtramas, mas inevitavelmente concentrou suas atenções em cima da relação entre Keough e Perry, cada um com uma visão diferente de se fazer justiça. O público se divide e acaba compartilhando dos dois pontos de vistas. Uma polícia bem treinada e ciente de seus direitos, deveres e limites é essencial, mas quando sua autoridade é afrontada pelos meliantes o que fazer? Se revidam com violência são punidos, porém, se cruzam os braços também. Quando Perry esbraveja sem dó alguma que ao matar um bandido só está tirando um merda do caminho é como se ele dissesse aquilo que estava entalado na garganta do público e são momentos assim que fazem o longa valer a pena. Para quem curte perseguição, brigas e tiros, fica o aviso que a ação é adicionada em pouca quantidade e o final culmina em um previsível discurso a respeito de redenção, ideais, solidariedade e caráter. 

Suspense - 118 min - 2002

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