terça-feira, 21 de dezembro de 2021

O BARBEIRO


Nota 1 Apesar do bom argumento, longa é uma tremenda enrolação para explicar o óbvio


Em um filme cujo enfoque é a investigação de assassinatos o mínimo que se espera é uma trama bem amarrada que nos instigue a brincar de detetive, mesmo que no final das contas a identidade do criminoso seja a mais óbvia. De qualquer maneira, se o tempo dedicado a essa brincadeira for de qualidade isso compensa um pouco a frustração da conclusão. E qual seria o atrativo de uma produção do tipo cujo vilão já sabemos de antemão sem precisar assistir uma única cena? O Barbeiro só pelo título já entrega o ouro, mas poderia ao menos reservar uma trama que tentasse jogar a culpa em cima de outros suspeitos ou quem sabe fazer aquele jogo em que a plateia sabe de tudo, mas os demais personagens não, assim criando aquela angústia de nos sentirmos impotentes diante de uma situação tão óbvia enquanto o verdadeiro assassino se diverte. 

O diretor Micheal Bafaro é preguiçoso e desde a primeira aparição do personagem Dexter Miles (Malcolm McDowell) deixa claro que ele não é flor que se cheire. Muitas de suas aparições ilustram narrações em off, na verdade seus pensamentos maquiavélicos, críticos e sarcásticos. O efeito inicialmente parece mesmo corresponder as expectativas de que o público está sendo convidado a ser cúmplice de suas ações, mas a partir do momento que frases comprometedoras começam a sair de sua boca em alto e bom som para quem quiser ouvir o interesse na narrativa cai totalmente. O criminoso está praticamente se entregando e quem ouve faz cara de paisagem. A trama escrita pelo próprio diretor em parceria com Warren Low se passa em Revelstoke, uma pequena e pacata cidade no Alasca que é tão insignificante que nem aparece na maioria dos mapas dos EUA. Sofrendo com invernos rigorosos e com dias em completa escuridão, tal qual a noite, as pessoas que visitam o local chegam a compará-lo a uma prisão perpétua, mas os pouquíssimos moradores já se acostumaram com a ambientação tranquila.


O pacato cotidiano do local é quebrado certa vez que Vance Corgan (Jeremy Ratchford), o delegado local, vai até a barbearia e comenta a respeito de Lucy Waters (Jennifer Martinez), desaparecida há vários dias, no entanto, não demonstra preocupação crendo que ela tenha fugido com algum amante e ido viver em um lugar mais agradável. Surge então o policial Everett (Paul Jarrett), que diz para Corgan que "Buffalo" Sedwick (C. Ernst Harth) e Levi Gansby (Philip Granger), dois caçadores, encontraram o corpo de Lucy e assim a morosidade da cidade acaba, mas assim que a notícia chega aos ouvidos do barbeiro o mistério para o espectador já acaba. Em pensamento, Dexter entrega que jamais esperava que achassem os restos da mulher tão rapidamente. Depois de tal revelação o que esperar? Impossível um filme antecipar seu final em dez, quinze minutos e então ficamos na expectativa de que alguma reviravolta irá acontecer, mas pouco a pouco o interesse só tende a diminuir. 

Corgan mal se toma conhecimento da situação e logo recebe a visita do agente Crawley (Garwin Sanford), enviado pelo FBI para colaborar visto que receberam uma denúncia que o responsável pela delegacia de Revelstoke estava fazendo corpo mole. Puxa, até que para um vilarejo totalmente isolado os sistemas de comunicação funcionam as mil maravilhas, não é? O longa então vai se desenvolvendo (ou deveria) na rivalidade entre esses dois homens da lei tentando desvendar o mistério o mais rápido possível, cada um defendendo o seu próprio crédito na resolução, mas as coisas para Corgan se complicam quando é revelado que ele mantinha um caso com a vítima que ganhava a vida dirigindo um táxi. Com tão pouca gente para transportar e praticamente as ruas intransitáveis por causa do gelo para que tal serviço? Bem, ao que tudo indica o trabalho era apenas uma desculpa para Lucy se divertir com homens no banco de trás, assim qualquer um poderia ser suspeito de sua morte, mas o roteiro ignora qualquer possibilidade exceto as desconfianças em cima de Cecil (John Destry), marido de Lucy. 


O Barbeiro poderia ser minimamente interessante caso investisse na batida fórmula de seriais killers, mas ao longo da narrativa só temos duas mortes que são apenas reveladas, nunca o ato é mostrado. Aliás, chega a ser ridícula a cena em que Dexter aparentemente vai abusar sexualmente e depois matar uma garota. Quando sabemos o que ele pretendia com ela... É realmente uma pena que um argumento razoável, um barbeiro psicopata munido se suas navalhas e tesouras, tenha sido desperdiçado com tanto despudor, ainda mais com uma ambientação tão apropriada. O que um maníaco poderia aprontar em um lugar em que os dias se confundem com as noites e somente os incautos vagam nas ruas ou dão trela a estranhos? Anos depois, Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet de certa forma tratou de fazer jus ao argumento, claro que com diversas alterações, mas fica a dica para um próximo de terror adolescente que, por que seja, ainda possivelmente seria melhor que este suspense insosso. 

Suspense - 94 min - 2001 

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