quinta-feira, 29 de abril de 2021

MEU TRABALHO É UM PARTO


Nota 2 Boa premissa cai por terra em tentativa frustrada de reverter má fase de Lindsay Lohan


Muita gente recorda com carinho da comédia Operação Cupido, um dos primeiros trabalhos de Lindsy Lohan que começou a atuar ainda criança e por anos trabalhou sob a tutela dos estúdios Disney. Já adolescente, virou ícone da geração MTV, mas seu declínio de modelo para a juventude para alvo de deboches e críticas aconteceu em velocidade recorde. Ao ter seu contrato rompido com a casa do Mickey Mouse, sem dúvidas por conta da imagem negativa que a garota vinha nutrindo com consecutivos escândalos envolvendo drogas e bebedeiras, sua carreira acompanhou o ritmo da vida pessoal: ladeira abaixo. Um filme pior que o outro como prova a comédia Meu Trabalho é um Parto cujos bastidores foram problemáticos com os diversos problemas que a protagonista ocasionou com atrasos, faltas e brigas. O que aparentemente já ia ser ruim pelo fraco roteiro ficou ainda pior com os ataques de estrelismo da moça e o longa acabou sendo lançado nos EUA como um tapa buraco de algum canal de TV. Outros países receberam em mídia física, mas já com a aura de piada pronta em torno do nome da ex-estrela juvenil.

Com roteiro de Stacy Kramer e Lara Shapiro, a trama gira em torno de Thea Clayhill (Lohan), uma jovem que trabalha como assistente em uma editora de livros e cuida sozinha de sua irmã adolescente Emma (Bridgit Mendler), contudo, a moça não é nada organizada ou responsável. Jerry Steinwald (Chris Parnell), seu chefe, é um tremendo chato de galochas que não só lhe cobra tarefas de escritório como também a obriga a tratar dos caprichos de sua cachorrinha de estimação, mas displicente do jeito que é certo dia ela faz uma burrada daquelas e quase é despedida. Acabou sendo salva por uma mentirinha de última hora: uma gravidez repentina. Sua amiga do escritório Lisa (Cheryl Hines) inicialmente acha uma boa ideia, porém, estará sempre a postos para tentar trazer a moça de volta a realidade, pena que todos seus esforços sejam em vão. Amparada pela lei à favor das gestantes e coberta de atenções pelos colegas de trabalho, a mentirinha que deveria durar alguns dias acabou se estendendo por meses, ainda mais depois que Jerry precisou se ausentar e deixou o jovem Nick Steinwald (Luke Kirby), seu contador, tomando conta da editora. Além de se interessar amorosamente pelo rapaz, Thea também sente que ele é a única pessoa que confia em seu potencial profissional.


Quando a editora resolve lançar  um livro focando os reais sentimentos e preocupações das grávidas ao longo dos nove meses de gestação, Thea decide dar seu depoimento e é justamente nesse momento que as coisas complicam. Como se estivesse vivendo uma gravidez psicológica, a jovem passa a comprar roupas e acessórios de bebês e se comportar como uma legítima grávida compartilhando desejos e angústias com outras futuras mamães. Contudo, ainda há um pingo de sanidade nela visto que tem consciência que sua barriga não irá crescer, mas por outro lado comete loucuras como roubar enchimentos de manequins de lojas para levar o plano adiante. Sua irmã então descobre tardiamente a farsa e espalha a notícia para familiares e amigos para forçar Thea a revelar toda a verdade, mas como fazer isso prestes a entrar no sétimo mês de gestação? Mais que o medo de ficar desempregada e saber que depois dessa seria muito difícil conseguir um novo trabalho, o que mais a amedronta é como Steinwald iria reagir à verdade. Obviamente teremos uma tentativa frustrada de inserir algum resquício dramático, afinal sabemos que a farsa seria descoberta e a protagonista ficaria em maus lençóis. Sem trabalho, sem amor, humilhada... Contudo, trata-se de uma obra água-com-açúcar e o final feliz está garantido.

A premissa de brincar com a hipocrisia das pessoas que passam a respeitar e tratar com carinho gestantes, quando na verdade tais cuidados deveriam ser oferecidos a qualquer um, poderia gerar uma comédia ácida e divertida, mas Meu Trabalho é um Parto prefere apostar na papinha sem graça comumente servida pelo gênero. Há uma risadinha aqui, outra ali, porém, falta liga na mistura. Os personagens e situações parecem flutuar pela tela, tanto que todos aceitam numa boa que da noite para o dia a barriga retinha da protagonista cresça exageradamente ou que ela tenha engravidado de um retardado mental. Shapiro, então também estreando como diretora, deixa transparecer do início ao fim sua falta de traquejo com a câmera, realizando um trabalho com aspecto amador e sem um pingo de criatividade. Os planos estagnados aliados a uma edição de cortes secos e uma sonorização precária contribuem para a sensação de um programa monótono. Hines, que teoricamente teria a função da coadjuvante que rouba a cena e neste caso que poderia salvar a produção do marasmo total, começa com uma participação ativa, mas pouco a pouco vai sumindo e fazendo falta no decorrer da trama.


O filme até poderia ter tido certa repercussão, afinal são inúmeros os exemplos de lixo que se transformaram em sucesso, mas neste caso pesa a má fama de Lohan até porque o jeito desleixado da personagem parece ser uma brincadeira com sua intérprete. A confusão de perfis é inevitável, algo acentuado pela sensação de deslocamento da atriz como se a qualquer momento fosse bradar o que ela estava fazendo naquele set. Não era o momento dela trabalhar e sim se tratar. O tempo passou, aparentemente a moça conseguiu vencer suas dependências químicas, mas o estrago deixou marcas. Continuou fazendo filmes, mas para se ter uma ideia da situação seu trabalho mais lembrado após sua fase negra é uma participação como ela mesma em Todo Mundo em Pânico 5 tirando sarro de sua vida desregrada que obviamente incluía sexo compulsivo. Para quem ainda quiser manter uma boa imagem de Lohan, procure rever o sarcástico Meninas Malvadas ou assistir A Última Noite, derradeiro trabalho do mestre Robert Altman no qual a atriz se misturou a um numeroso e renomado elenco. Se ele acreditou nela é porque algum talento de fato ela deve ter. 

Comédia - 89 min - 2009 

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