segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

NORBIT - UMA COMÉDIA DE PESO


Nota 2 Com piadas apelativas, longa tenta reciclar fórmula de um mesmo ator em múltiplos papéis


É curioso ver o que aconteceu com alguns astros do cinema que brilharam entre as décadas de 1980 e 1990. Muitos amargam o ostracismo enquanto outros ainda tentam fazer algum dinheiro com o resto de dignidade que inspira seus nomes. Este é o caso de Eddie Murphy. Protagonista de sucessos como Um Príncipe em Nova York e Um Tira da Pesada, o ator por muito tempo foi contratado a peso de ouro, mas o passar dos anos não lhe foi muito generoso. Amargando fracassos consecutivos, ter como principal trabalho nos últimos anos a dublagem do Burro da franquia Shrek não deve ser visto necessariamente como um elogio. Todavia, em 2006 surgiu uma luz no fim do túnel quando resolveu investir em um papel sério no musical Dreamgirls – Em Busca da Fama que o levou a ser indicado aos principais prêmios da temporada como melhor coadjuvante. Pena que ao invés de aproveitar a boa fase ele preferiu regredir e recorrer a uma fórmula batida para ganhar dinheiro fácil, contudo, Norbit - Uma Comédia de Peso revela-se mais uma grande mancha na trajetória do astro. Apostando as fichas no trabalho de maquiagem e caracterização para colocar Murphy na pele de vários personagens, é óbvio que o filme procurava alcançar a mesma repercussão de O Professor Aloprado, mas o problema é que a continuação deste sucesso já havia provado que tal artifício estava saturado.

Murphy dá vida ao personagem-título, um rapaz franzino e boboca que foi abandonado pelos pais e acabou sendo criado no orfanato do Sr. Wong, também interpretado pelo ator. Foi ainda na infância que ele conheceu sua alma gêmea, Kate (Thandie Newton), com quem chegou a casar simbolicamente, mas não demorou muito e a garota foi adotada. Sentindo-se sozinho e desprotegido, o órfão vira alvo fácil de chacota de outras crianças, mas certo dia é salvo da humilhação pela robusta e valentona Rasputia, novamente Murphy em cena, que o obriga a namorar com ela em troca de proteção. E sempre à sombra de sua companheira, Norbit se tornou um adulto frustrado, mas volta a ter estímulo para querer viver quando reencontra seu grande amor da infância, mesmo sabendo que agora ela está comprometida com Deion (Cuba Gooding Jr.). A moça está disposta a comprar as antigas instalações do orfanato para reformá-lo e continuar com as obras de caridade, mas ela nem imagina que seu noivo planeja transformar o local em um bar de strip-tease e conta com a ajuda justamente dos irmãos de Rasputia. Black Jack (Terry Crews), Azulão (Lester Speight) e Earl (Clifton Powell) trabalham junto com a irmã na construtora da família e conseguem manter um nível razoável de padrão de vida graças aos seus métodos particulares de trabalho, ou seja, entrando dinheiro topa-se tudo. 


Norbit só continuou casado por ser intimidado por seus cunhados que vivem a lhe ridicularizar, assim ele precisa aturar o jeito grosseiro da esposa que, apesar de não ser nem de longe um modelo de beleza, ainda se gaba de ser vaidosa e sabe-se lá como consegue fisgar alguns amantes ocasionais. Porém, mesmo fazendo o marido de gato e sapato ela não lhe dá folga e fará questão de expor todo seu ciúmes quando perceber que o magricela está tentando reatar laços amorosos com a paixão do passado. Como a garota tem um noivo que não é flor que se cheira... Bem, você já sabe como vai acabar esta história, mas a previsibilidade não seria um grande problema caso o roteiro de Jay Scherick, David Ronn e do próprio Murphy em parceria com seu irmão Charles não fosse recheado de piadas vazias ou de teor apelativo, beirando em alguns momentos o preconceito. A premissa dos órfãos apaixonados que se reencontram anos mais tarde com chances para se unirem novamente e ajudarem outras crianças assim como aconteceu com eles poderia render no mínimo uma produção com alguma mensagem de positivismo, mas as boas intenções se perdem em meio a tanta bobagem e mau gosto. O diretor Brian Robbins peca pelo humor grosseiro que por vezes constrange o espectador. 

Esta comédia foi promovida com toda pompa tentando resgatar o prestígio de Murphy enfatizando sua versatilidade e disposição para interpretar múltiplos personagens simultaneamente, o que certamente lhe obrigava a passar várias horas diárias se maquiando e vestindo próteses e enchimentos. O esforço foi recompensando com a indicação ao Oscar de Melhor Maquiagem, mas o filme carece de alma sendo que do início ao fim incomoda a sensação de artificialismo, como se fosse um produto talhado para vender a imagem de seu astro principal. Não é a toa que os coadjuvantes passam despercebidos e até Gooding Jr. e Newton, que teoricamente deveriam ter importância na trama, no final das contas servem apenas de escada para Murphy. O perfil de seu personagem na realidade é o mais bem trabalhado, compreendemos seu passado, presente e seus desejos para um futuro melhor. Os demais apenas surgem na tela vez ou outra para soltar alguma piada, diga-se de passagem, quase sempre sem graça.  Até existem alguns momentos divertidos, como a marcante cena de Rasputia no tobogã da piscina, mas o fato é que incomoda a obsessão de atrelar a obesidade da personagem à falta de educação ou pudor. 


Na pelo de Klump, o tal icônico e aloprado professor, Murphy também investiu no perfil de alguém com péssimos hábitos alimentares e dificuldades para enfrentar algumas situações cotidianas, como passar em lugares apertados, mas a plateia estava conquistada pela simpatia do homem pouco atraente que sonhava em viver um grande amor. Com Rasputia as piadas são semelhantes, porém, soam grotescas já que a personagem é apresentada como um poço de boçalidade, alguém intragável e egocêntrica, assim nem mesmo as piadas que frisam as diferenças entre ela e seu esquelético marido funcionam com perfeição. Entretanto, apesar de super estereotipado, o perfil apagado do protagonista acaba cativando por sua ingenuidade e vontade de mudar as coisas, mas sem coragem para tanto, situação que muitos vivenciam. No conjunto, Norbit - Uma Comédia de Peso deixa a desejar, mais parecendo uma série de esquetes cômicos alinhavados forçosamente e envernizados com uma suposta qualidade técnica que na verdade soa ultrapassada. Ainda bem que parece que Murphy aprendeu que a trucagem de se dividir em vários papéis e que lhe exijam transformações físicas em um mesmo filme acaba sendo um fator contra o sucesso e a ideia de uma continuação foi descartada.

Comédia - 102 min - 2007

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9 – 10 Excelente, praticamente perfeito do início ao fim
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