quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

TE AMAREI PARA SEMPRE


Nota 3 Com idas e vindas no tempo, romance resulta em narrativa confusa e arrastada


Os filmes românticos costumam seguir um mesmo estilo e na maioria das vezes o casal principal pode sofrer horrores, mas o final feliz estará garantido. Na busca de surpreender o público feminino e também cativar a plateia masculina, algumas produções ousam a tecer finais tristes, porém, condizentes com a realidade. Em uma nova onda para renovar o gênero, tornou-se comum agregar características de outros estilos às histórias água-com-açúcar, mas não raramente os resultados são desastrosos. O que você acharia, por exemplo, da mistura de um conto de amor com um elemento típico de ficções científicas? Abordar viagens no tempo é o grande diferencial de Te Amarei Para Sempre, mas não o bastante para elevar a produção a algo a mais que um simples passatempo. Baseado no livro de Audrey Niffenegger, “The Time Traveler’s Wife”, o roteiro de Bruce Joel Rubin recorre a uma velha obsessão da humanidade: corrigir o passado e prever o futuro. A trama tem como protagonista Henry DeTamble (Eric Bana) que aos seis anos de idade descobriu que possuía uma estranha capacidade de viajar no tempo. Isso acontece por causa de uma modificação genética rara, mas o que é um sonho para alguns, para este rapaz é um imenso fardo que lhe traz grandes transtornos e constrangimentos devido as dificuldades em se adaptar às constantes mudanças de época que lhe pegam de surpresa, afinal não tem controle nenhum sobre esta anomalia. 

Em uma dessas mudanças de época, Tamble conhece Clare Abshire (Rachel McAdams), uma artista plástica por quem se apaixona perdidamente. Eles se conheceram quando ela ainda era criança, tornaram-se amigos, confidentes e por fim começaram a namorar. O problema é que o tempo parece estar sempre contra o casal e o futuro de moça é o passado de seu amado, este que sempre sabe de antemão o que está por vir. Isso incomoda muito sua companheira, assim como a dúvida de nunca saber por quanto tempo poderão estar juntos, afinal independente do que aconteça com ele a vida da garota segue seu curso normal. Mesmo assim, o sentimento entre eles é tão forte que compactuam em enfrentar os obstáculos para ficarem juntos. A história do livro sem dúvida é bastante original por conjugar elementos de gêneros bastante distintos, mas sua transposição para a linguagem cinematográfica é um tanto irregular e por vezes insossa. Evitam-se especulações a respeito do problema genético e a opção acolhida é mostrar que o rapaz aprendeu a lidar com sua anomalia na medida do possível. A ideia é apresentar tal deficiência com naturalidade, mas fica bem complicado engolir como os demais personagens reagem normalmente às idas e vindas do rapaz. Aliás, onde estão os coadjuvantes que costumam roubar a cena? Todos aqui surgem nivelados a uma medíocre interpretação. 


Rubin, que no currículo tem o clássico romântico Ghost – Do Outro Lado da Vida, se preocupa com o desenvolvimento inicial do enredo e somente após o espectador se familiarizar com o drama de Tamble é que o foco é voltado para Clare que, conforme ela mesma diz, sabe qual é a sensação de quem fica, mas não imagina o que sente aquele que parte. Tal incógnita, no fundo, limita o relacionamento assim como para quem ama um deficiente, mas isso não impede que o amor encontre caminhos para sobreviver. A grande lição que fica é saber aceitar o problema do outro e confiar em sua lealdade. Não é uma tarefa fácil e a mocinha da trama sabe bem disso. É óbvio que chegará um momento que Clare se sentirá presa ao tipo de vida que leva com Tamble e repensará sobre seus sentimentos. A partir de então a trama caminha um pouco mais ligeira, mas só mesmo os exageradamente românticos ainda estarão preocupados com o desfecho dos protagonistas. O diretor Robert Schwentke teve a preocupação de transmitir suavidade visual a cada take, mas chega um momento que a sutileza pesa contra a obra. 

Parte do desinteresse se deve ao fato do enredo tentar fugir do clichê da alteração do passado. Tamble procura melhorar as coisas, até procura auxílio médico e se informar sobre o que aconteceria caso tivesse um filho, mas o mote da trama não é mudar a ordem das coisas e sim preservar o amor. Apesar do apelo melodramático, há algumas tentativas de se fazer graça levemente como no momento em que o protagonista ajuda a amada a ganhar um prêmio de loteria revelando para ela os números a serem sorteados. Saltar no tempo e ter informações a respeito de si mesmo e daqueles que o cercam é uma coisa, agora prever coisas que envolvem núcleos maiores resultou em uma piada frustrada. Por outro lado, é desperdiçada uma divertida característica do protagonista. Toda vez que viaja no tempo suas roupas ficam como lembranças para aqueles que aguardarão sua volta e o rapaz reaparece completamente nu em outra época e local, assim precisa se virar para conseguir outros trajes e se adaptar o mais rápido possível ao seu novo tempo. Pena que quando se habitua o destino lhe prega uma peça e já é hora de outro passeio involuntário. O enredo poderia ter investido um pouco mais nessas situações, mas é certo que assim o projeto poderia tornar-se outro completamente diferente, afinal o argumento com algumas modificações seria um prato cheio para uma comédia banal. 


Mantendo os pés no gênero romântico, Te Amarei Para Sempre acaba sendo no máximo uma opção curiosa, mas não diverte e tampouco emociona a maioria. Como a história desde o início soa confusa e arrastada, fica difícil para o espectador se envolver com o romance dos protagonistas e o foco acaba sendo quanto as mudanças temporais que parecem forçadas para o roteiro ganhar certa aura de intelectualidade. Até são mencionadas algumas explicações científicas para a anomalia do protagonista, algo totalmente descartável, mas o projeto se resume a engambelar o público por quase duas horas que parecem demorar uma eternidade para passarem. O próprio título nacional busca descaradamente a audiência feminina e o fato da mocinha ser interpretada por McAdams, do clássico Diário de Uma Paixão, só acentua a visão comercial de seus realizadores. A jovem e seu parceiro até se esforçam para dar credibilidade aos seus personagens e ao amor que vivenciam, mas em alguns momentos parecem inseguros como se não soubessem os rumos da trama ou não tivessem ideia de como tudo ficaria após editado. Todavia, há quem consiga se emocionar com este romance intrincado, porém, a maioria deve se lembrar mais do filme como algo experimental cujo visual delicado é a qualidade que mais salta aos olhos.

Romance - 107 min - 2009 

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3 – 4 Regular, serve para passar o tempo
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9 – 10 Excelente, praticamente perfeito do início ao fim
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