domingo, 28 de junho de 2020

TURMA DA MÔNICA EM UMA AVENTURA NO TEMPO


Nota 7 Longa preserva em seu enredo a essência e no desenho os traços característicos dos gibis


Se fazer filmes convencionais no Brasil já é difícil, imagine então investir em um desenho animado. Com leis de incentivo e apoio de empresas patrocinadoras, algumas séries animadas estão fazendo sucesso em canais fechados e já chamam atenção no mercado internacional, contudo, a produção de longas-metragens do tipo ainda é um tabu que o público brasileiro precisa vencer. Nem mesmo personagens conhecidos conseguem virar o jogo. A Turma da Mônica é sem dúvidas um dos maiores acertos do ramo editorial nacional de todos os tempos e obviamente também veio a protagonizar filmes, mas apenas A Princesa e o Robô do distante ano de 1983 fez sucesso, embora os demais tenham se aproveitado do surgimento das fitas VHS, o que lhes garantiu visibilidade nas locadoras. Já nos tempos do DVD, o criador Maurício de Souza resolveu investir novamente em animações, mas desta vez mais comedido. Simplesmente selecionou boas histórias entre seus inúmeros gibis para virarem curtas-metragens reunidos para a coleção Cine Gibi. A repercussão da franquia ajudou a alavancar o projeto cinematográfico de Turma da Mônica em Uma Aventura no Tempo, mistura de animação tradicional com cenários em 3D, uma forma de tentar brigar por espaço com os gigantes Disney, Pixar, Dreamworks e tantos outros estúdios.  

A trama escrita por Didi Oliveira, Emerson Bernardo de Abreu e Flávio Souza começa com Cebolinha apresentando mais um de seus planos infalíveis para Cascão, uma emboscada que deixa Mônica furiosa. Tentando fugir de levarem umas boas coelhadas, a dupla acaba invadindo o laboratório de Franjinha que estava trabalhando em uma máquina do tempo, mas o invento só funcionaria quando conseguisse reunir quatro elementos básicos da natureza: ar, água, fogo e terra. Eles já estavam na engenhoca, só faltava descobrir como reuni-los adequadamente para formar um portal que permitisse as idas e voltas no tempo. Durante a perseguição aos meninos, Mônica acaba sem querer arremessando o coelho Sansão no aparelho e o acionando, assim cada elemento vai parar em uma época distinta e o tempo atual da Terra fica descontrolado, o que obriga a gorduchinha e seus amigos, incluindo a Magali e o cachorrinho Bidu, a entrarem na máquina para buscarem os componentes perdidos. Mônica e o cãozinho viajam para a pré-história em busca do fogo; Cebolinha segue rumo ao futuro para encontrar o ar; Magali volta aos tempos em que era um bebê para resgatar a terra; e justamente para o Cascão sobrou recuperar a água em uma aldeia indígena na época dos Bandeirantes. 


Lembra das nostálgicas sessões de cartas dos gibis? Constantemente leitores sugeriam o encontro dos personagens principais com aqueles que apareciam esporadicamente, mas dificilmente tais pedidos eram atendidos. O filme veio para suprir essa carência. Seu grande trunfo é proporcionar a reunião da turminha principal com tipos secundários como Piteco, Horácio, Papa-Capim, Astronauta, Rolo e com os então novatos Luca e Dorinha, ambos representando o merchandising social tão característico nos trabalhos de Souza. O garoto usa cadeira de rodas e a menina é deficiente visual. Também vale destacar a inserção da vilã Cabeleira Negra, uma pirata que habita o futuro e seria descendente do lendário Barba Negra. Ela é a única personagem dublada por um famoso, a atriz Bianca Rinaldi, mas as demais vozes merecem parabéns, pois se encaixaram tão bem que ao ler um gibi após ver o filme será quase impossível não ouvir a turminha falando por vontade própria. Marli Borboletto (Mônica), Maria Angélica Santos (Cebolinha), Paulo Cavalcante (Cascão) e Elza Gonçalves (Magali) conseguem divertir as crianças com suas trucagens de vozes e atingir em cheio a nostalgia dos adultos que resgatam a sensação da infância em imaginar como seriam as historinhas dos gibis em versão animada e falada. Aliás, o roteiro que geralmente deixava a desejar nas produções cinematográficas da Maurício de Souza Produções neste caso é um grande chamariz. Para apresentar tantas situações e personagens, foi muito esperta a fragmentação da trama. Cada viagem no tempo pode ser vista como um curta-metragem, mas a amarração dos esquetes é perfeita.

Quem está acostumado com o estilo dos gibis certamente perceberá o cuidado em manter na versão cinematográfica o tipo de humor, o ritmo ágil e as características dos personagens que agora dotados de vida própria podem ter seus perfis mais bem delineados. A perversidade do Cebolinha está ligeiramente mais acentuada graças as suas falas que não raramente escondem segundas intenções e a entonação da dublagem é fundamental para dar credibilidade. Cascão é quem mais diverte o público com seu jeito simplório, mas metido a espertalhão, o tipo com personalidade mais realista. Além de seu medo de água evocar outras fobias, a forma como é influenciado por seu amigo causa identificação para muitos, mesmo sabendo que sempre o lance do siga o mestre não termina bem para quem enfrenta a valentona Mônica que, como era de se esperar, é quem acaba se destacando no filme, ressaltando seu equilíbrio entre o gênio ruim e o coração de manteiga. Pobre da Magali que é relegada a apenas frisar seu apetite fora do comum, o que a deixa sem função na trama. De qualquer forma, é muito instigante imaginar como a equipe de Souza consegue manter as características originais de seu trabalho e preservadas há décadas. Embora a direção tenha sido dividida entre Rodrigo Gava, Clewerson Saremba e André Passos, todo o material que era produzido passava pelo crivo do pai da Mônica que assina como diretor geral. O próprio se orgulhava em saber que a maioria das pessoas que então trabalhava com ele cresceu curtindo seus gibis, assim sabiam muito bem como caminhar sozinhas e praticamente tudo que criavam acabava sendo aprovado por manter o espírito de seu criador. 


O toque de modernidade ficou por conta das técnicas de animação e produção. Além dos cenários em 3D, optaram por primeiro gravarem o texto com os dubladores para dar mais desenvoltura aos personagens. Os improvisos foram acrescentados ao roteiro final e a partir daí é que os desenhos foram criados para uma coordenação perfeita entre movimentação e diálogos. Claro que para fazer tudo isso não foi a partir do sucesso da coleção Cine Gibi que Souza resgatou a vontade de fazer cinema. O projeto já estava sendo acalentado há algum tempo, só faltava um sinal verde para o ritmo avançar. Coincidentemente lançado no mesmo período em que o empresário levou sua trupe para uma nova casa (trocou a editora Globo pela Panini), Turma da Mônica em Uma Aventura no Tempo parecia marcar uma nova e frutífera fase para os personagens, inclusive já se falava em um filme por ano, mas infelizmente os lucros gerados forçaram uma revisão de projetos. Contudo, a turminha ainda está na área pelas bancas de revistas, é sucesso em suas coletâneas para curtir em casa e anos mais tarde ganhou sua versão cinematográfica com atores de verdade.

Animação - 80 min - 2006 

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