terça-feira, 22 de março de 2022

DANÇANDO PARA A VIDA


Nota 4 Ancorado pela presença da atriz Emma Watson, longa é frágil e com falhas de edição


Ambientado na década de 1930 em um bucólico bairro londrino, Dançando Para a Vida começa de forma eficiente com uma introdução rápida e que de certa forma adota um tom de fábula, mas infelizmente no decorrer da exibição percebemos que este não é um cuidado narrativo. A edição rápida e truncada perdura ao longo de todo o filme e tira o brilho da singela história de Heidi Thomas baseado no romance "Ballet Shoes" de Noel Streatfeild. A trama começa nos apresentando a Matthew Brown (Richard Griffits), um senhor já de idade que passou toda a sua vida dedicando-se à paleontologia, sua grande paixão, mas que de uma hora para a outra ganha uma família com a chagada da sobrinha Sylvia Brown (Emilia Fox) que traz a tiracolo três irmãs órfãs, Pauline (Emma Watson), Petrova (Yasmin Paige e Posy (Lucy Boyton). As meninas receberam o fictício sobrenome Fóssil dado pelo paleontólogo que as acolhe ainda bebês, mas não demora muito e elas voltam a ficar sozinhas quando o tutor desaparece em um expedição.

Sem muitos recursos para se manterem, embora mantenha Nana (Victoria Wood) como cuidadora, Sylvia decide tirar proveito da mansão do tio alugando quartos para pensionistas.  Com a convivência com os hóspedes, as meninas acabam descobrindo cada qual um dom. As garotas fazem então um pacto no qual cada uma delas faria o máximo de esforço possível para conseguirem colocar seus nomes na História de alguma forma com seus próprios talentos. Para tanto elas recebem a aguda das professoras aposentadas Dra. Smith (Harriet Walter) e Dra. Jakes (Gemma Jones) que lhes proporcionam aulas caseiras para suprir as necessidades das meninas que não frequentam a escola; a instrutora de dança Theo Dane (Lucy Cohu) que anima a casa com seu entusiasmo; e o bondoso John Simpson (Marc Warren) que acaba financiando boa parte dos sonhos das irmãs Fóssil.


Feito para a televisão britânica e lançado no Brasil diretamente para consumo doméstico, o longa claramente se apoia na popularidade de Watson, sendo o primeiro trabalho da então atriz-mirim fora da série de Harry Potter, mas que aqui passa longe da imagem carismática que carregava. Talvez justamente para apresentar um trabalho diferenciado é que tenha aceitado o papel. Inicialmente meiga, Pauline perde a doçura ao descobrir seu talento para a interpretação e quando consegue uma chance para atuar no teatro, despreparada, ela deixa a fama subir à cabeça e passa a agir de forma grosseira e tempestiva com as pessoas e a quebrar regras. Se fosse para justificar o título, tanto original quanto nacional, o mais correto é que Boyton fosse considerada a protagonista. Abandonada pela mãe junto a um par de sapatilhas, Posy desde  pequena demonstrava talento para a dança e ganha uma oportunidade única de ter aulas na renomada escola de uma bailarina russa, mas também quando é convidada para dar um importante passo na carreira mostra-se imatura. 

Petrova não possui o dom para as artes, embora tentem despertar seu interesse forçosamente, mas apaixonada por máquinas e novidade mecânicas, como automóveis, seu grande sonho é ser aviadora e tem como grande incentivador o Sr. Simpson. A produção então aborda os sonhos das meninas como principal assunto, carregadas de motivação para mostrarem ao mundo que poderiam vencer na vida mesmo sem muitos recursos e com o triste histórico familiar que inclui uma doença que acomete Sylvia. É uma pena que a diretora Sandra Goldbacher, do também pouco conhecido A Governanta, não consiga traduzir a delicadeza da trama original em imagens, embora tecnicamente o filme seja bem feito com fotografia, direção de arte e iluminação caprichados. 


A edição da produção, como já dito, é o calcanhar de Áquiles da obra ou apenas reproduz erros do roteiro que não soube trabalhar o argumento com a cadência emocional necessária. Pesa contra também o fato de ser um telefilme, assim sendo necessário um ritmo mais ágil e menos contemplativo ao longa para se adaptar ao público televisivo. Dançando Para a Vida tinha potencial para ser um daqueles filmes singelos que marcam a memória afetiva, principalmente das meninas, e com Watson encabeçando o elenco facilmente cairia no gosto do público infanto-juvenil, mas no final das contas é apenas um passatempo pueril. Ironicamente, apesar de suas personagens buscarem  reconhecimento as atrizes protagonistas não conseguiram a fama que almejavam, ao menos não em termos cinematográfico.

Drama - 84 min - 2007

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