quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

QUERO FICAR COM POLLY


Nota 5 Ben Stiller repete pela enésima vez papel do cara boa praça, mas que vive em confusão 


Ben Stiller está para as comédias dos anos 2000 assim como Jim Carrey é sinônimo do gênero para a década de 1990. Ambos usam e abusam de caras e bocas, além de movimentos corporais esdrúxulos para fazer o público rir. A diferença é que o astro da série Uma Noite no Museu encontrou um terreno seguro em produções com um leve teor romântico, mas sem abandonar seu estilo de humor que torna seus personagens cativantes. Com suas caretas, e por vezes ingenuidade, é que nos simpatizamos com Reuben Ferrer, o protagonista de Quero Ficar com Polly, um sujeito pacato que é um conceituado corretor de seguros de vida. Assim como faz no trabalho, ele também é muito precavido com sua vida particular e calcula os riscos de cada passo que dá, mas tanto cuidado não evitou que sofresse uma baita decepção amorosa. Lisa (Debra Messing) parecia a esposa perfeita, mas em menos de 24 horas de casados ela o trai em plena lua-de-mel. Arrasado, o rapaz adianta sua volta para casa e mergulha de cabeça no trabalho, porém, poucas semanas após a separação encontra um novo amor, ou melhor, reencontra. 

Em uma badalada festa de grã-finos ele é abordado pela garçonete Polly Prince (Jennifer Aniston), uma amiga dos tempos do colégio. Embora atrapalhada, descolada e sem neuras, um perfil completamente diferente ao do metódico corretor, o rapaz acredita que poderia amar e ser amado novamente. Para tanto ele faz alguns esforços para conquistá-la como aprender a dançar salsa ou frequentar restaurantes exóticos provando pratos um tanto condimentados, mesmo sabendo de seu problema de intolerância alimentar. Já é de se esperar qual a cena mais emblemática do filme, não é? Pena que cego de amores Ferrer não percebe que apesar do carinho e atenção a moça não é muito acostumada a relacionamentos duradouros, mas quando ela está prestes a ceder à pressão o destino manda uma surpresinha que o corretor não calculava para sua vida a esta altura. E a trama se resume a isso. Claramente uma junção de piadas nem sempre funcionais alinhavadas por um fiapo de história de amor sustentada pelo carisma de seus protagonistas, valendo elogios à Aniston que parece bem a vontade no papel da moça aparentemente avoada, mas talvez mais pé no chão que seu interesse romântico.


Quantas vezes você já viu Stiller interpretando o cara legal e de bom coração, mas que vive se metendo em situações embaraçosas? Ele já fez coisas melhores como o rabino romântico da simpática comédia romântica Tenha Fé e o filho exemplar de uma família disfuncional em Os Excêntricos Tenembaums, mas parece que para cada projeto mais lapidado que cai em suas mãos mais uns dez descartáveis aparecem. O ator é talentoso, carismático e tem habilidade para construir personagens que despertam simpatia, mesmo repetindo características e trejeitos. Lançado ao estrelato quando viveu um dos protagonistas de Quem Vai Ficar com Mary? (a semelhança com o título em questão é pura jogada de marketing), ao longo dos anos ele se conformou em interpretar variações, diga-se de passagem mínimas, de um mesmo personagem. Será que é justamente essa familiaridade instantânea do público com suas supostas criações o segredo para se manter na ativa? 

A sensação de ver na tela um amigo de longa data aumenta sabendo que John Hamburg está no comando.... Quem? Estreando na função de diretor e acumulando a de roteirista, ele já havia presentado Stiller com os textos de Zoolander e Entrando Numa Fria e parece ter se acostumado com o conforto em deixar seu amigo à vontade para fazer o feijão com arroz de sempre. A receita é a mesma. Algumas situações realmente engraçadas pontuam o longa, embora recicladas, outras flertam com escatologia e os absurdos estão em pauta. Nem mesmo a participação de um furão deficiente visual é bem explorada. O diretor prepara o terreno para o bichano brilhar em uma hilária sequência no banheiro, mas parece ter perdido a paciência em tentar colocá-lo em suas marcações e editou apenas as cenas que ficaram melhorzinhas, esvaziando completamente sua função na trama. O mesmo se pode dizer dos coadjuvantes que pouco ou nada agregam em termos de humor. 


Leland Van Lew (Alec Baldwin), um cinquentão adepto de esportes radicais, podia ser mais explorado pelo roteiro visto que deseja fazer um seguro com Ferrer, o que para a empresa do moço poderia ser uma grande furada, e Sandy Lyle (Philip Seymour Hoffman), um ator frustrado, parece encaixado à força na narrativa como se o diretor pedisse perdão por sua falta de criatividade compensando com um discurso a favor das artes e cultura, pesando para isso a escolha do intérprete. O grande erro de Quero Ficar com Polly é simplesmente ter todos os seus riscos perfeitamente calculados, tal qual ao estilo de Ferrer. Seguindo metodicamente a cartilha do gênero, incluindo seus defeitos, Hamburg perde a chance de trabalhar afundo os perfis emocionais abalados de seus protagonistas preferindo o discurso raso e a mesmice.

Comédia romântica - 90 min - 2003 

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