domingo, 30 de outubro de 2016

ABRACADABRA

Nota 8,5 Nostálgico para muitos, bruxas da Disney ainda garantem uma boa sessão da tarde

É curioso como bruxas, fantasmas, vampiros e companhia bela ao mesmo tempo em que amedrontam as crianças também conseguem fasciná-las, uma particularidade que a sétima arte aproveita a exaustão há décadas. A receita básica para fisgar a atenção do público infantil abordando temas sinistros é praticamente sempre a mesma: colocar um bando de crianças e adolescentes em apuros fugindo das garras de seres horripilantes. Para completar o prato basta cercar-se de crendices populares e adicionar generosas pitadas de humor leve e inocente, além de adorná-lo com uma generosa dose de final feliz. É essa receita que serviu e ainda serve de base para muitas produções infanto-juvenis, sendo uma das mais influentes do gênero. Abracadabra segue os ensinamentos a risca e não dispensa nenhum ingrediente. Essa produção é dos tempos em que a Disney emplacava candidatos a clássicos das sessões da tarde em velocidade ímpar e um dos filmes que melhor capta o espírito de alegria e medo que se misturam na noite de Halloween. Com roteiro de David Kirschner e Mick Garris, a trama gira em torno de Winnie (Bette Midler), Sarah (Sarah Jessica Parker) e Mary (Kathy Najimy), três irmãs feiticeiras que desejam se tornar mais jovens sugando a energia vital das crianças da cidade de Salem. Banidas da face da Terra há 300 anos quando tiveram seus planos descobertos, elas chegam ao século 20 após seus espíritos serem evocados no Dia das Bruxas pelo jovem Max (Omri Katz), uma lenda na qual ele não acreditava assim como sua irmã Dani (Thora Birch) e sua colega da escola Allisson (Vinessa Shaw) também duvidavam. Agora, as feiticeiras estão dispostas a fazer de tudo para garantir sua juventude e imortalidade aproveitando esta única noite de sobrevida. Para tanto elas terão que capturar o maior número possível de crianças para tirar suas vidas, mas elas precisarão enfrentar Max e as meninas que vão fazer de tudo para tentar levar as bruxas de volta ao mundo dos mortos.

sábado, 29 de outubro de 2016

NOITE DAS BRUXAS MACABRA

Nota 5,0 Longa não tem nada de macabro e desperdiça argumento não sabendo trabalhar reviravolta

Kaylie (Brooke Anne Smith) é uma jovem que como tantas outras adolescentes americanas vai passar a noite do Dias das Bruxas trabalhando como babá. O serviço que parecia tranquilo acaba se tornando um pesadelo quando a casa dos seus patrões é invadida por um assassino mascarado. Seria Noite das Bruxas Macabra uma cópia descarada do clássico Halloween - A Noite do Terror? Bem, a julgar pela produção modesta e duração enxuta poderíamos dizer que seria o primo pobre do longa setentista, porém, na metade da história temos uma significativa quebra de expectativas, mas o que também não quer dizer necessariamente que seja um ponto positivo. No primeiro ato, o filme parece seguir à risca a cartilha dos slashers movies. Kaylie é uma adolescente deslocada, do tipo que destila um humor ferino e tem uma visão um tanto distorcida da realidade, o que contribui para não ser muito popular no colégio, completamente o oposto de Daphne (Nikki Limo), sua melhor amiga que inventa estar com gripe para deixar de atender o pedido da família Payton para cuidar de um bebê e assim poder sair para badalar na noite de doces ou travessuras. Kaylie cai na mentira e aceita a tarefa em seu lugar, afinal nada melhor que ganhar uma graninha extra e ainda usufruir um pouco do conforto da casa de uns ricaços, mas é avisada pelo Sr. Miles (Malcolm McDowell), um misterioso e idoso vizinho, sobre os perigos que o Halloween pode oferecer e a recomenda não abrir a porta para nenhum estranho. A jovem imediatamente rejeita o conselho, pois sua noite já começa mal com as tradicionais importunações de adolescentes que aproveitam a data para fazer brincadeiras incômodas, motivo pelo qual a jovem não percebe em um primeiro momento estar sendo observado por um mascarado que não tarda a invadir a residência. Como o velho senhor lhe avisara, muita gente só quer se divertir no Dia das Bruxas, mas não faltam oportunistas para espalhar o mal. Coincidência ou não, esse era o mesmo discurso do personagem de McDowell em Halloween - O Início, remake do filme citado no início do texto que tem como representação da maldade em seu estado mais puro o assassino Michael Myers. Já no filme em questão, o serial killer passa longe de amedrontador.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O PESO DA ÁGUA

NOTA 3,0

Suspense tenta estabelecer
conexões entre duas histórias,
mas nenhuma delas cativa, sendo
válido apenas o capricho técnico
Um título enigmático, um elenco de peso e uma arte publicitária que pouco revela sobre a obra. Esses são elementos que teoricamente unidos podiam fazer um filme de suspense fazer sucesso, mais ou menos a mesma fórmula que alavancou a carreira do diretor M. Night Shyamalan em seus primeiros longas hollywoodianos. Contudo, a receita ainda tem outros ingredientes que em abundância ou em pequenas doses podem comprometer o resultado final, isso sem falar no tempo de espera para sair do forno. A metáfora com a preparação de um bolo, por exemplo, ajuda a justificar o fracasso de O Peso da Água, suspense com todos os elementos citados na primeira frase do texto, mas com excessos, falhas e que foi lançado já cercado de suspeitas de que seria um tremendo imbróglio devido a demora. Tendo estreado no Festival Internacional de Cinema de Toronto em 2000, evento que já é considerado como uma vitrine dos filmes que irão bombar na alta temporada de premiações, estranhamente o longa só foi lançado em circuito comercial nos EUA cerca de dois anos depois. Provavelmente a obra foi mal recebida no festival e os produtores resolveram “consertá-la”.  Será que ela era pior do que a versão definitiva que chegou ao público? Difícil imaginar, mas tudo é possível. Baseado no romance homônimo de Anita Shreve, a trama conta paralelamente duas histórias com pontos em comum, ambas acontecem em um mesmo local e envolvem um turbilhão de sentimentos, mas um século as separa, porém, o passar dos anos provam que ciúme e paixão são atemporais, ou deveriam ser, ligações que este suspense jamais atinge com perfeição. As Ilhas Shoah, no litoral do Estado de New Hampshire, serviram de cenários para uma triste história em meados do ano de 1873. Duas mulheres de uma mesma família, Karen (Karin Cartlidge) e Anethe (Vinessa Shaw), foram assassinadas e seus corpos possuíam marcas de golpes brutais feitos a machadadas. Louis Wagner (Ciarán Hinds) torna-se o principal suspeito, pois poucos dias antes havia se hospedado na casa das jovens e foi expulso acusado de roubo. Maren Hontvedt (Sarah Poley), irmã de uma das vítimas e cunhada da outra, também deveria ter sido assassinada, mas conseguiu fugir e seu testemunho é definitivo para que o citado homem seja condenado pelos crimes e vá para a forca. Logo no início sabemos que Wagner realmente morreu como um criminoso, mas seria ele mesmo o culpado?

domingo, 23 de outubro de 2016

AMOR POR ACIDENTE (2010)

Nota 5,0 Longa repete todos os clichês possíveis de dramas leves e comédias românticas

Há alguns anos produções rotuladas como evangélicas, mas cujos conteúdos e mensagens podem e devem ser apreciados por todos independente da religião, começaram a se popularizar fazendo com que grandes distribuidoras investissem na importação de produtos do tipo e até empresas especializadas nessa filmografia surgiram para abastecer o mercado de vídeo doméstico. A partir de 2012, uma nova onda tomou de assalto as locadoras com títulos que se orgulham de trazer um símbolo que representa os títulos recomendados para toda a família, uma exclusividade que a Focus Filmes traz para o Brasil em parceria com produtoras internacionais que estão investindo pesado neste filão. A essência destes produtos é a mesma que rege o mercado de vídeo evangélico, histórias bonitas de amor e dramas leves envolvendo problemas familiares e do cotidiano que agradam a todas as idades, excluindo qualquer traço ofensivo, porém, não envolvendo necessariamente conceitos religiosos explícitos. Amor por Acidente é um dos exemplos desta seara que tende a conquistar a atenção do público mais sentimentalista com títulos açucarados e artes das capas dos DVD que investem em beleza visual e tons pastéis. A história criada por Charles T. Daniels e Peter Facinelli gira em torno de dois jovens que se conhecem através de um acidente de trânsito e para variar a convivência inicial é das piores já que os dois são um tanto orgulhosos. Eddie Avelon (Ethan Erickson) é um ator frustrado por não ter seu rosto reconhecido nas ruas, afinal ele está sempre coberto pelo pesado e quente figurino do coelho Mulligan, personagem de um popular programa infantil.  Annie Benchley (Jennie Garth) é uma jovem viúva que trabalha como garçonete em uma lanchonete. Após o acidente, eles passam a se esbarrar eventualmente e sempre trocam farpas já que a moça não se conforma que o rapaz praticamente ignorou o acontecido, embora ninguém tenha se ferido. O ponto de equilíbrio entre eles atende pelo nome de Taylor (Dannika Northcott), filha de Annie, uma garotinha de apenas seis anos de idade que é fã incondicional do coelho Mulligan.

sábado, 22 de outubro de 2016

CAÇADORES DE TRÓIA

Nota 6,0 Produção alemã tem clima de aventura dos anos 60 e explora lenda estrangeira

Em 2007 o cineasta Julio Bressane ousou ter a ideia de fazer uma versão da história de Cleópatra filmada em solo e com elenco brasileiro. Preconceituosos como somos, obviamente o longa teve uma passagem relâmpago pelos cinemas e hoje desfruta do pleno ostracismo. Por que isso? Na escola é costume aprendermos um pouco sobre a cultura de boa parte dos países que ajudaram a construir a história e a linha evolutiva das civilizações, portanto, não há nada de errado em um diretor brasileiro ter a ousadia de filmar sua visão sobre algum mito característico de outra nação, mas infelizmente nos acostumamos que é a turma norte-americana que pode usar e abusar de temáticas alheias, isso porque nas aulas de História por lá o patriotismo é exagerado e parece que só existe os EUA no mundo. Por causa desse conceito errado bons trabalhos acabam passando em brancas nuvens como é o caso da aventura Caçadores de Tróia, produção da Alemanha caprichada em termos visuais que aborda um mito da cultura grega. Na trama roteirizada por Don Bohlinger, Heinrich Schliemann (Heino Ferch) desde a infância tem seus sonhos povoados por aventuras passadas na cidade de Tróia e não por acaso quando adulto ele se tornou um especialista em antiguidades. Em Berlim, em 1868, durante uma conferência ele é achincalhado pelos colegas por causa de suas teorias de que a mítica cidade grega realmente existiu e poderia ser encontrada. Como um homem de posses, Heinrich resolve jogar tudo para o alto e se aventurar numa expedição, mas apaixonado pela cultura grega ele tem o excêntrico desejo de se casar com uma legítima mulher desta nacionalidade para ostentar como um troféu quando encontrasse seu tesouro e triunfasse sobre aqueles que um dia o humilharam. Assim ele consegue um casamento arranjado com a jovem Sophia (Mélanie Doutey), cujos pais estão de olho no que podem lucrar com essa união. O problema é que a moça namora escondido um rapaz de idade compatível e tão pobre quanto ela, o que faz com que ela trate com rispidez e rebeldia seu noivo. Todavia a união acontece e ambos partem juntos rumo a expedição.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

ESPELHOS DO MEDO 2

NOTA 2,0

Apenas a ideia básica do longa
original é resgatada nesta
sequência fraca e desnecessária
cuja trama tem pegada policial
Continuações de filmes de terror já são previstas quando um novo produto do gênero é lançado e ele nem precisa fazer sucesso para dar criar. Contudo, é de praxe ficarmos com o pé atrás quanto a qualidade dessas sequências, ainda mais quando nem mesmo o protagonista do original aparece para uma ponta, portanto, não há muito o que se esperar de Espelhos do Medo 2, suposta continuação da fita de horror estrelada por Kiefer Sutherland em 2008 que apesar das boas intenções já era uma obra irregular. Esta segunda parte tenta seguir a mesma linha de raciocínio da anterior, mas sua narrativa já começa mal perdendo seu protagonista. Agora quem encabeça o elenco é o jovem Nich Stahl interpretando um personagem perturbado, praticamente um item indispensável nas fitas de terror. Max Matheson sofreu um acidente de carro no qual sua noiva veio a falecer e ele se sente culpado. Após um período de depressão e de se entregar ao vício das drogas e bebidas, inlcusive chegando a tentar suicídio, o rapaz tem a chance de recomeçar sua vida trabalhando com seu pai, Jack (William Katt), que lhe oferece o emprego de vigia na nova loja MayFlower, a mesma que há alguns anos foi o cenário de trágicos acidentes após ter passado por um incêndio. Enquanto não inaugura, o rapaz será encarregado de vgiar o espaço para evitar assaltos e depredações. Para manter-se ocupado e tentar abandonar os vícios, Max aceita o cargo, mas nem imagina a história de arrepiar que está prestes a vivenciar. Como herança da antiga loja, um grande espelho em perfeito estado foi recuperado do prédio que foi incendiado, item neceessário para fazer as ligações entre as duas obras. Logo na primeira noite de trabalho o jovem começa a perceber imagens estranhas nos espelhos, como a visão de uma mulher refletida, porém, ela nunca está presente nos ambientes. Depois ele passa a enxergar a imagem de seus colegas de trabalho também, mas em situações em que provocam a própria morte. Já fica subentendido que cada uma dessas pessoas irá morrer em breve e tal qual da maneira que o espelho apresentou. Mesmo tentando socorrê-los, Max sempre chega tarde demais aos lugares das visões e sabe que a qualquer momento pode ser a próxima vítima. Agora ele precisa descobrir o mistério da tal garota para terminar com a onda de mortes inexplicáveis e proteger a sua própria vida.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

ESPELHOS DO MEDO

NOTA 6,0

Refilmagem de terror asiático
tem boa premissa, mas peca
por sustos manjados e má
exploração do excelente cenário
O início da primeira década do século 21 foi marcada pela invasão dos terrores e suspenses orientais pelo mundo todo. Primeiro foi Hollywood que foi buscar inspiração no Oriente e acabou optando pelas refilmagens de sucessos de lá. Logo cineastas de olhinhos puxados foram importados para terras americanas e não demorou muito para as próprias produções originais asiáticas encontrarem espaço no Ocidente, mais especificamente no mercado de vídeo. Resultado: saturação do estilo. Assim não é de se espantar o fraco desempenho em bilheterias e de repercussão de Espelhos do Medo, refilmagem do terror sul-coreano Espelho. Apesar das críticas negativas que recebe honestamente esta produção não é de todo ruim e consegue ser mais palatável que sua versão oriental. A trama gira em torno de Ben Carson (Kiefer Sutherland), um ex-detetive que foi suspenso do Departamento de Polícia de Nova York há cerca de um ano por uma ação desastrosa que comandou e culminou na morte de um colega de trabalho. O caso fez com que ele se tornasse alcoólatra e dependente de remédios, o que o afastou também de sua família. Tentando retomar sua vida, ele aceita o emprego de vigia noturno das ruínas de uma loja de departamentos depois que o outro funcionário se suicidou. O local sofreu com um incêndio há alguns anos, mas o que sobrou precisa ser mantido intacto por razões de resgate de seguros e brigas judiciais. Sem eletricidade e silêncio amedrontador, o espaço é perfeito para qualquer um deixar sua imaginação criar imagens e sons assustadores, mas certa noite, enquanto patrulha o local, Carson se assusta com algo inusitado e que sabe que não é fruto de sua mente perturbada. Mesmo após o incêndio, os espelhos da loja continuam intactos e parecem refletir imagens horripilantes de acontecimentos do passado e manipular a realidade. As coisas complicam quando eventos inexplicáveis passam a ocorrer com pessoas próximas a ele, como sua irmã Angela (Amy Smart). Assim, o seu lado de detetive fala mais alto e ele busca respostas para os estranhos episódios que passam a assombrar sua vida e para proteger sua ex-mulher, Amy (Paula Patton), e os filhos, Michael (Cameron Boyce) e Daisy (Erica Gluck).

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

ALPHA DOG

NOTA 6,0

Não era a intenção, mas trajetória
de jovem e bem nascido traficante
soa como uma apologia às drogas e aos
crimes, um perigo para mentes fracas
Baseado em fatos reais. Tais palavras são um chamariz e tanto para a publicidade de um filme, mas é fato que muitas histórias divulgadas como verídicas são extremamente mirabolantes, coisas que dificilmente até o mais criativo dos roteiristas poderia conceber. A trajetória de Jesse James Hollywood é um bom exemplo. Quem? Seu nome, uma fusão de um lendário criminoso dos EUA com a alcunha da maior fábrica de celebridades do país, não é muito conhecido fora dos EUA, mas com apenas 25 anos simplesmente era a pessoa mais jovem na lista dos procurados pelo FBI, “honra” que conquistou às custas de tráfico de drogas e homicídio. Para colaborar com a imagem do Brasil, nosso país serviu como esconderijo deste delinquente e também foi palco de sua prisão ocorrida especificamente na cidade de Saquarema no Rio de Janeiro em março de 2005. O filme Alpha Dog trocou nomes e fatos para narrar os acontecimentos que antecederam sua captura (na ficção realizada no Paraguai), assim o bandido com nome de artista virou Johnny Truelove (Emile Hirsch) que aos 19 anos já era um notável traficante em sua área, um subúrbio na Califórnia. Contudo, não bastava ter lucros, era preciso também bancar uma imagem respeitável para botar medo nos inimigos e domar seus subordinados. Jake Mazursky (Ben Foster) é um jovem que está lhe devendo uma grana, mas no fundo sabe que jamais verá a cor do dinheiro, a não ser na base da pressão. A solução encontrada é sequestrar o irmão do caloteiro, Zack (Anton Yelchin), mas como não havia a intenção de machucá-lo a temporada no cativeiro acabou se tornando umas férias curtas, porém, luxuosas para o rapaz que ficou aos cuidados de Frankie (Justin Timberlake), outro jovem que encara a vida como uma balada sem fim. O “refém” passa a curtir festas seja dia ou noite regadas a muita bebida, drogas e garotas bonitas e promíscuas. Zach adora a experiência, afinal qual garotão não gostaria de levar uma vida sem regras e repleta de diversão, o problema é que Jake não tem como pagar a dívida e nem como revelar a verdade para sua mãe que obviamente envolve a polícia no caso. Mais tarde Frankie e Truelove também não teriam como explicar às autoridades que o sequestro foi apenas uma farsa, o que revelaria os negócios sujos em que estão metidos. Em tempos em que muitos pedem a legalização das drogas alegando que a perda da aura de proibido é a melhor maneira de acabar com o vício, a ideia seria que o filme reforçasse que “fumar unzinho” ou “dar uma cheiradinha” não é algo normal e que mais cedo ou mais tarde trará prejuízos físicos e sociais, mas a sensação é que mais de 90% da narrativa exalta tais hábitos e o estilo de vida de seus usuários que nem de longe lembra o drama daqueles que chegam a morar na rua por conta da dependência.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

DUMBO (1941)

NOTA 8,5

Com orçamento limitado, mas
muita criatividade, desenho é
delicado, divertido e emociona
com um tema sempre atual
A história dos estúdios Disney e dos bastidores acerca de cada produção saída de lá até hoje despertam muita curiosidade e torna-se ainda mais especial revermos ou apresentarmos as novas gerações tais clássicos quando temos em mente o contexto histórico da época de seus lançamentos e percebemos que suas lições de moral ainda têm validade. Hoje em dia, as humilhações vividas por qualquer um em seu ambiente escolar, profissional, familiar ou até mesmo na rua estão no foco dos noticiários e debates em diversas instituições. Qualquer deslize ou algo diferente em seu aspecto físico pode virar alvo de chacota. Inicialmente pode até ser divertida a brincadeira, mas conforme ela se torna constante e ofensiva pode se transformar em um ato criminoso, o popular bullying, palavra estrangeira empregada para denominar tais práticas provenientes de pessoas sem o mínimo de respeito ao seu semelhante. Porém, o problema não é uma novidade do mundo moderno. Sem o título americano, esse inconveniente já ocorre há muitos anos, talvez desde os primórdios do homem na Terra, e é um conflito muito explorado pelo cinema, enfocando na maioria das vezes o público infantil, faixa etária em que a discriminação acontece em proporções assustadoras. Tal tema foi utilizado com sucesso, por exemplo, em uma inteligente metáfora na animação Dumbouma produção Disney lançada em 1941 e baseada na obra homônima de Helen Aberson e Harold Perl. Este é o quarto longa de animação do estúdio e é considerado um dos maiores clássicos do gênero de todos os tempos, tanto é que foi relançado em cinemas e em home vídeo diversas vezes, já que seu conteúdo é universal e atemporal, afinal é impossível encontrar alguém que pelo menos uma vez na vida não se sentiu excluído ou inseguro mesmo quando adulto. A história gira em torno de um elefantinho chamado Jumbo Jr. que, além de nascer com orelhas desproporcionais ao seu corpo, tem a fama de ser desengonçado, por isso ele recebeu o apelido de Dumbo, palavra que em inglês significa estúpido. Vivendo desde pequeno em um circo, ele sempre foi ridicularizado pelos outros elefantes que levavam a sério a frase da canção "um elefante incomoda muita gente", mas tudo por pura maldade. Dumbo só contava com o amor e carinho de sua mãe até que ele faz amizade com o prestativo ratinho Timóteo que vai ajudá-lo a enfrentar esses problemas e mostrar seu valor. Essa amizade, um dos pontos altos do filme, é uma clara paródia ao medo que esses grandes mamíferos têm de roedores.

domingo, 16 de outubro de 2016

DO OUTRO LADO DA LINHA

Nota 5,0 Comédia romântica segue caminho comum e desperdiça tema sobre choque cultural

Já faz algum tempo que a Índia está na moda no meio cultural e o cinema obviamente também quer tirar proveito disso como prova a avalanche de prêmios concedidos para Quem Quer ser um Milionário?, mas muitas produções menores e despretensiosas buscam inspiração nesse casamento de costumes.  Do Outro Lado da Linha é uma simpática comédia romântica que procura fazer uma ligação entre o oriente e o ocidente através das conversas telefônicas entre dois jovens de origens diferentes, mas objetivos idênticos: vencerem na vida e viverem um grande amor. Após ter problemas com seu cartão de crédito, o publicitário Granger Woodruff (Jesse Metcalfe) acaba fazendo amizade com a atendente de telemarketing de seu banco, a simpática Jennifer Davis (Shriya Saran). As conversas por telefone vão ficando cada vez mais frequentes até que um dia eles combinam de se conhecer pessoalmente, mesmo estando a milhares de quilômetros de distância. Todavia, a jovem não aparece e Woodruff conhece uma outra indiana, Priya Sethi, que diz ter vindo aos EUA para o casamento de um parente. Os dois passam a se dar muito bem e o interesse é recíproco, porém, o rapaz tem uma grande surpresa quando descobre que essa moça é a mesma que o atendia pelo telefone e que fingiu ser uma outra pessoa para que ele não descobrisse suas origens e sua situação familiar afinal ela já é prometida a um noivo indiano, Vikram (Asheesh Kapur). Para a garota as coisas se complicam quando sua família viaja atrás dela cobrando explicações. A premissa poderia render uma boa comédia açucarada, mas o roteiro de Tracey Jackson, responsável pelo ótimo Os Delírios de Consumo de Becky Bloom, neste caso é preguiçoso e aposta em uma trama um tanto clichê de romance baseada nos encontros ao acaso. Dessa forma, perde-se a oportunidade de aprofundar questões a respeito das diferenças de cultura entre os protagonistas. Ok, o público-alvo deste trabalho quer mesmo é ver uma variação dos contos de fadas e acompanhar a história da plebeia indiana e do príncipe americano com direito a todos os clichês possíveis do gênero.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

JANTAR COM AMIGOS

NOTA 7,5

Com diálogos envolventes e
conflitos de fácil identificação,
longa discute o desgaste do
casamento e o valor da amizade
O relacionamento de um casal é como uma receita que precisa de certos ingredientes para dar certo, mas o problema é que é muito difícil manter a pimenta do início e evitar que a rotina não agregue um insosso sabor de água com açúcar à relação. Tem casais que se acostumam ao cotidiano com pouco sabor de paixão, mas outros precisam de um tempero a mais para se manterem unidos. Sem dúvidas a receita da felicidade de um casal é singular, cada um tem a sua própria e é essa a grande lição de Jantar com Amigos, erroneamente vendido como uma comédia romântica quando na realidade é um drama leve que explora a reação de um casal perfeito em relação a separação dos seus melhores amigos. Baseado na peça teatral homônima de Donald Marguiles, que também assina o roteiro, a trama começa com Gabe (Dennis Quaid) e Karen (Andie MacDowell) preparando mais um de seus famosos jantares cheios de iguarias para receber os amigos Beth (Toni Collette) e Tom (Greg Kinnear). Os anfitriões voltaram a pouco tempo da Itália e estão na expectativa quanto ao lançamento de mais um livro sobre gastronomia e como sempre querem dividir este momento feliz com aqueles que consideram extensão de sua família. Ambos os casais estão juntos a cerca de doze anos, tem dois filhos cada e as estruturas sólidas destes relacionamentos, tanto íntimo dos cônjuges quanto de amizade entre as famílias, pareciam inabaláveis isso até que uma noite de intensa chuva prenunciava que algo ruim estava para acontecer. Beth chega ao jantar acompanhada apenas dos filhos e justifica que o marido, um advogado de sucesso, precisou fazer uma viagem de trabalho às pressas. Enquanto discursam sobre as belezas e sabores italianos, a convidada demonstra um pouco de incômodo e entediada, mas educada esforça-se para parecer interessada na conversa. Os amigos já sabiam que ela tinha uma tendência desde a juventude para problemas emocionais, porém, não imaginavam que desta vez o problema tinha razões bem sérias. Ela revela que o marido confessou declaradamente que está apaixonado por outra e decidido a se separar, inclusive acusando a esposa de ter destruído sua vida. Beth julgava que o mau humor constante do rapaz era por conta dos problemas com o trabalho, mas assume que sabe que ele desejava mais intimidade na relação e ela negava.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

PERIGO EM BANGKOK

NOTA 2,0

Mais uma vez Nicolas Cage
surge inexpressivo em produção
esquecível, um remake bobo e
cheio de erros narrativos
Um assassino profissional deve ser rápido, não deixar pistas, ter sangue frio e jamais se envolver com suas vítimas ou quem quer que seja. É uma pessoa solitária que raramente pode se dar o direito de aproveitar o mundo real, mas logo precisa retornar a sua clausura, ao seu universo particular. O isolamento do protagonista de Perigo em Bangkok ironicamente pode ser compreendido como uma metáfora ao sentimento do espectador diante do longa. É muito difícil se sentir inserido neste universo em que o silêncio e o barulho de perseguições e tiroteios se alternam, mas em nenhuma destas circunstâncias identificamos algum elemento que faça este passatempo valer a pena. O campo de ação e suspense outrora era o porto seguro do ator Nicolas Cage, mas infelizmente mais uma vez ele colecionou um novo fracasso para o seu então já combalido currículo, contudo, o projeto teoricamente parecia ter potencial. Refilmagem de um longa homônimo tailandês de 1999 dirigido pelos irmãos Oxide e Danny Pang, que depois viriam a fazer fama com produções de horror como Assombração, a obra tentaria ser ao máximo fiel ao original, tanto que os diretores foram mantidos assim como o cenário.  Todavia, o orçamento seria bancado por Hollywood, o que implica na aceitação de certas exigências. Os irmãos já não haviam se dado bem na primeira incursão americana, o suspense Os Mensageiros, mas agora estavam com material próprio em mãos, o que aumenta as chances de acerto, ainda mais que ele havia recebido o prêmio da crítica no Festival de Toronto de 2000. Filme de ação premiado? Sim, qual o problema? Provavelmente o longa original era melhor estruturado e com personagens mais sólidos, tudo o que falta ao remake. Na trama escrita por Jason Richman, do superior Em Má Companhia (o que não chega a ser um grande elogio), Cage vive Joe, um assassino profissional muito competente, mas que chegou a um estágio da atividade em que pesa a solidão que ela exige. A introdução busca fisgar o espectador dando a entender que este não é um filme de ação e suspense sem propósitos. Com narração em off, o protagonista revela detalhes sobre seu cotidiano que não compreende contatos sociais, apenas regras a serem rigidamente seguidas para seu trabalho ser perfeito. No entanto, ele sonha em abandonar essa carreira e levar uma vida normal.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

EDISON - PODER E CORRUPÇÃO

NOTA 4,0

Estreia de Justin Timberlake
nos cinemas acompanhado de
atores premiados resulta em um
longa policial repleto de clichês
Dentre as várias categorias de filmes deveria existir “esse é o cara”, divisão na qual se encaixariam filmes de medalhões como Samuel L. Jackson, Denzel Washington, Will Smith e Morgan Freeman. Eles não têm apenas a cor da pele e o grande talento em comum, mas também o fato de possuírem uma extensa lista de títulos em seus currículos (muitos com personagens semelhantes) e seus nomes serem sinônimos de filmes bons. Quem nunca viu alguém falando na fila do cinema ou olhando as prateleiras de locadoras que tal filme deve ser bom porque é com o fulano de tal. É uma pena que nem sempre esse entusiasmo é correspondido. Edison – Poder e Corrupção não é um péssimo longa, porém, acabou caindo no limbo por ser um amontoado de clichês de diversos outros títulos de ação e suspense policiais, incluindo a repetição de erros como o excesso de personagens e situações desnecessárias que só servem para confundir o público e tornar o programa tedioso. A trama se desenvolve na fictícia cidade que intitula a produção, uma metrópole que aparentemente oferece oportunidades de crescimento a todos e chama a atenção de grandes corporações, porém, a corrupção e o abuso de poder podem estar por trás de tantas conquistas. Aqui vive Josh Pollack (Justin Timberlake), um jovem e ambicioso jornalista que está iniciando sua carreira como repórter investigativo em um pequeno jornal comunitário. Após descobrir fraudes na polícia local, o rapaz deseja ir a fundo nesta investigação e publicar uma grande matéria, mas enfrenta a relutância de seu chefe, Moses Ashford (Morgan Freeman), que decide demiti-lo. O grande alvo deste repórter é a FRAT, uma unidade de elite da polícia que corresponde à sigla inglesa de Força Tática de Defesa e Ataque. Em Edison seus membros podem agir como bem entenderem e abusam do poder de autoridade que a ordem impõe, assim arrogância e violência são as marcas registradas do grupo que combate principalmente o tráfico de drogas, mas chega até a forjar provas para não ter sua imagem manchada. Em uma ação liderada pelo sargento Frances Lazerov (Dylan McDermont) um traficante acaba morto. O policial Raphael Deed (L.L. Cool J.) testemunhou o ocorrido e acabou sendo torturado, mas defendeu o réu durante seu julgamento alegando autodefesa.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

UM SONHO DE AMOR

NOTA 8,0

Longa aborda a decadência de
uma tradicional família italiana
paralelo ao drama da matriarca
infeliz redescobrindo o que é viver
Infelizmente temos a cultura de assistir um filme apenas uma vez e levar a sério o ditado que diz “a primeira impressão é a que fica”. Dessa forma, deixamos de apreciar filmes excepcionais, mas que por vários motivos podem não revelar suas principais qualidades em um primeiro momento. Podemos apreciar as atuações, a trama, a trilha sonora, a direção de arte, as locações, mas é difícil encontrar um filme que reúna todos esses elementos de forma uniforme e com qualidade. Provando que premiações são puras ações de marketing, Um Sonho de Amor passou batido nesses eventos, conquistando como prêmio de consolação uma indicação ao Oscar de Melhor Figurino, uma injustiça feita a um trabalho que flerta com a moda antiga de se fazer cinema, principalmente na Itália (cenário da trama), mas que traz a tona temáticas relevantes e sempre atuais. O diretor Luca Guadagnino, de 100 Escovadas Antes de Dormir, tem mais experiência na área de documentários, mas demonstra competência e intimidade com o mundo ficcional. Ou melhor, ficção é modo de dizer já que este drama está carregado de toques realistas. Na trama escrita pelo próprio cineasta em parceria com Barbara Alberti, Ivan Controneo e Walter Fasano, somos apresentados à família Recchi, aristocratas cujo poder e riqueza são notados logo nas primeiras cenas passadas dentro do casarão do clã em Milão. Uma grande festa está sendo preparada para comemorar o aniversário do patriarca Edoardo (Gabrielle Ferzetti), dono de uma das maiores fábricas de tecidos da Itália. A ocasião está sendo muito aguardada por todos os convidados, pois será revelado o nome do sucessor dos negócios da família. Sua nora Emma (Tilda Swinton) está tão envolvida com os ajustes finais do evento que até parece a governanta da casa, misturando-se facilmente aos empregados. De origem russa, ela está casada há muitos anos com Tancredi (Pippo Delbono), que está sendo preparado para ocupar o lugar de chefão da empresa do pai, mas o relacionamento entre o casal parece um tanto frio. Eles são pais de Edoardo (Flávio Parenti), que está prestes a ficar noivo de Eva (Diane Fleri); Elisabetta (Alba Rohrwacher), que não está certa se realmente ama o namorado, e Gianluca (Mattia Zaccaro), o filho caçula. Durante o jantar, é anunciada a esperada nomeação de Tancredi para assumir a empresa têxtil, mas seu pai ordena que as obrigações da presidência sejam divididas com seu neto mais velho. Não por acaso o rapaz leva seu nome, o que agrega aquela irresistível sensação de confiança e tradição à empresa.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

O EFEITO DA FÚRIA

NOTA 4,0

Drama enfoca a vida de
personagens após sofrerem
um trauma, mas roteiro
frouxo não prende atenção
Quando somos crianças é comum termos medo de muitas coisas, afinal de contas estamos conhecendo o mundo. Observando dessa forma, ter medo de fantasmas é algo normal até para um adulto já que a vida após a morte é e provavelmente continuará sendo uma eterna incógnita. Porém, nos dias atuais nada deve causar mais medo do que o próprio homem e a violência que ele instiga no seu dia-a-dia nos mais diversos ambientes e contra pessoas conhecidas ou não. Já pensou você sair para jantar com a família em um restaurante e não ter a certeza se voltará são e salvo com todos? Isso poderia ser ficção, mas infelizmente tornou-se uma realidade frequente provocada pela maldade de algumas pessoas que cometem assaltos, sequestros e até mesmo assassinatos em troca de dinheiro, jóias, carros ou ainda pelo motivo de não satisfeitos com suas vidas alguns indivíduos decidirem se matar, mas não sem antes provocar o sofrimento de outras pessoas, como se fosse uma maneira de extravasar a raiva que sentem da vida por inúmeras razões. Roy Freirich optou pela segunda opção para desenvolver o roteiro de O Efeito da Fúria, um drama irregular que não joga o foco no “vilão”, mas centra suas atenções nos personagens que sobreviveram aos seus atos irracionais. Adotando uma linha narrativa fragmentada e com muitos flashbacks, ao longo do filme ficamos sabendo o que realmente aconteceu em uma tarde ensolarada dentro de uma lanchonete, o que houve com as pessoas que saíram com vida de lá e como tal fatalidade atingiu as pessoas que convivem com os sobreviventes. Todavia, esse vai e vem do tempo e algumas ações dos personagens acabam tornando este filme cansativo e por vezes confuso. Se a intenção era emocionar com o drama destas pessoas, o diretor Rowan Woods, do drama Sob o Efeito da Água, não conseguiu alcançar seus objetivos plenamente, no máximo causar certo desconforto no espectador que pode até julgar as ações de quem está em cena, mas como ele próprio reagiria se sobrevivesse a uma tragédia? É essa inquietação que o filme consegue provocar, uma sensação que corriqueiramente vivenciamos acompanhando a cobertura da mídia sobre episódios tristes e marcantes, como um tiroteio em uma sala de cinema, uma explosão em uma boate ou um sequestro que termina com morte. Indiferente, amedrontado, sensibilizado, desamparado, crítico, são várias as formas que um ser humano pode reagir a episódios do tipo.