sábado, 29 de abril de 2017

ENTRE A VIDA E A MORTE (2008)

Nota 5,0 Condenado a morte ganha uma segunda chance, mas precisa esquecer seu passado 

Voltar no tempo para reparar os erros do passado. Ter uma segunda chance para colocar em prática o que se aprendeu com os equívocos ou ter a oportunidade de ter uma vida completamente diferente. Estes são temas corriqueiros no cinema e nos mais variados gêneros, tendo produções excelentes e outras que literalmente viajam na fantasia. Entre a Vida e a Morte tem sua dose de fantasia, mas constrói um clima bem realista para contar a história de Ben Garvey (Paul Walker), um rapaz que leva uma vida simples ao lado da esposa Lisa (Piper Perabo) e da pequena filha Katie (Brooklyn Proulx), esta que só conheceu quando já estava com três anos por estar preso devido a negócios ilegais, mas agora que sua liberdade condicional está chegando ao fim deseja viver dignamente. Para tanto, ele se dedica ao máximo ao trabalho que conseguiu, mas mesmo assim acaba sendo despedido quando os donos tem acesso a sua ficha de antecedentes criminais. Poucos dias antes ele havia recebido a visita de Ricky (Shaw Hatosy), seu irmão que também estava preso, porém, ele não se resignou e oferece a Ben a oportunidade de participar do roubo de uma quantidade considerável de ouro em pó pertencente a um laboratório. Inicialmente o jovem chefe de família recusa a proposta, mas quando se vê sem dinheiro volta atrás prometendo que este seria seu último passo em falso. Mesmo com tudo muito bem planejado, o assalto dá errado e resulta em três mortos e na captura de Ben que deixa de ser um ex-condenado para se tornar um réu sentenciado à execução, embora afirme não ter matado ninguém. Dois anos se passam e todos os recursos do condenado foram negados pela Justiça e assim ele é submetido a uma injeção letal, no entanto, estranhamente ganha uma segunda chance. Ben subitamente se vê em uma região campestre e afastada onde trabalha como caseiro de uma instituição para doentes mentais comandada pelo padre Ezra (Bob Gunton) que o alerta que sua vida antiga ficou para trás e que agora seu foco deve ser trilhar um novo caminho.

terça-feira, 25 de abril de 2017

FOCUS

NOTA 8,0

Longa mostra o quão assustadora
era a perseguição a judeus na
década de 1940 e um simples detalhe
visual poderia condenar alguém à morte
É impressionante, mas quando parece que não há mais o que ser explorado acerca do período da Segunda Guerra Mundial, incluindo fatos da fase pré e pós-conflitos, sempre surge alguma nova história para elucidar um pouco mais sobre este triste episódio. É claro que as mais lembradas são aquelas que concentram ações nos campos de batalha ou que vão fundo nas questões acerca do nazismo, mas imagine quantas milhares de histórias interessantes e impactantes aconteceram e ninguém ficou sabendo. É uma pena que as memórias vivas da época já não estão mais entre nós, contudo, o cinema assume um papel tão importante quanto os livros para manter ativos tais registros e quem sabe até produzir novos documentos. Não eram apenas as pessoas que estavam em meio ao furor do fogo cruzado que corriam riscos, mas até quem estava quietinho dentro de casa e a muitos quilômetros de distância também podia sofrer com respingos desta onda de violência e intolerância. O drama Focus fala justamente sobre esse período de medos, ódio e insegurança de não saber se estaria vivo no dia seguinte. Baseado no livro homônimo de Arthur Miller, a trama roteirizada por Kendrew Lascelles se passa em Nova York em meados da década de 1940. Lawrence Newman (William H. Macy) é um homem maduro, introspectivo, inseguro e defensor de convenções. Sem esposa, filhos ou amigos, sua rotina se resume a ida ao trabalho e a volta para casa onde vive com sua idosa mãe (Kay Hawtrey). Comprovando que sua vida sem graça pode ter algo a ver com problemas na infância, as primeiras cenas do filme mostram um carrossel que gira rapidamente até que o protagonista acorda assustado e suando. O sonho na verdade é um pesadelo corriqueiro e que o faz se levantar. De poucas palavras, mas muito observador, do alto da janela de seu quarto ele passa a admirar um casal aparentemente se divertindo na rua, provavelmente matando sua curiosidade já que o amor carnal não parece fazer parte do seu universo. De repente, o homem e a mulher passam a agir estranhamente, como se ele quisesse forçá-la ao sexo, mas a visão fica comprometida por conta de um carro estacionado. Ao invés de prestar socorro ou chamar a polícia, Newman restringe-se a voltar para a cama, mesmo estando inquieto emocionalmente. No dia seguinte fica sabendo pelo vizinho Fred (Meat Loaf Aday) que a mulher estava acompanhada de outro morador da rua, ambos embriagados, mas que nada demais aconteceu.

segunda-feira, 24 de abril de 2017

CACHÉ

NOTA 8,5

Suspense propõe uma angustiante
narrativa em que um família pode se
dissolver por conta de consequências
de mazelas históricas e segredos
Chato, estranho, perturbador, melancólico, ousado, estilístico, autoral, alternativo ou excepcional. São várias as palavras que podem ser empregadas para definir o suspense francês Caché, tanto negativas quanto positivas, mas o fato é que não dá para ficar inerte quanto à obra. Os cinco primeiros minutos já demonstram que o filme foge do convencionalismo. Um longo plano estático de uma residência de classe média alta é mostrado à distância, mas aparentemente nada de anormal acontece. A certa altura a imagem é congelada, rebobinada e depois avançada enquanto ouvimos uma discussão a respeito do conteúdo desta fita VHS, um presentinho misterioso que o casal Anne (Juliette Binoche) e Georges Laurent (Daniel Auteil) recebeu embrulhado em um papel contendo um sinistro desenho feito com traços aparentemente infantis, mas chama a atenção que em meio aos rabiscos negros existe um detalhe em vermelho simbolizando sangue. A família aparentemente não tem problemas emocionais, financeiros ou inimigos, pelo contrário, pais de um único filho, o adolescente Pierrot (Lester Makedonsky), o casal vive imerso em um universo burguês e cultural. Georges apresenta um programa de crítica literária na televisão enquanto a esposa trabalha em uma editora de livros. A gravação da fachada da casa dura cerca de duas horas, incluindo também cenas noturnas, e os Laurent acreditam que pode ser alguma brincadeira de mau gosto de algum colega do filho, mas mesmo assim eles ficam com a pulga atrás da orelha afinal não é nada confortável ter a sensação de alguém estar vigiando seu cotidiano. A preocupação aumenta com telefonemas cuja voz do outro lado se cala, cartões com imagem macabras enviados até mesmo para Pierrot e uma segunda fita contendo imagens da fachada da casa de mãe de Georges. Não há dúvidas, alguém que conhecesse esta família muito bem está tentando apavorá-la, aliás, tem conhecimento de detalhes da infância do patriarca, mas sem danos materiais ou físicos a polícia diz que nada pode fazer. O monótono cotidiano do clã então sofre uma sacolejada forçada e até mesmo desequilibra o relacionamento modelo de Georges e Anne. Ela acredita que o marido está escondendo algo e o crítico, por sua vez, liga alguns pontos coincidentes e suspeita que um ex-amigo de infância que não via a muito tempo está por trás de todas essas ameaças, mas explica esse passado com meias palavras à esposa.

domingo, 23 de abril de 2017

REPÚBLICA DO AMOR

Nota 4,0 Apesar do início estranho, romance entra nos eixos, mas é tocado em banho-maria

Os tempos mudaram, a instituição do casamento já não tem mais o peso de antigamente e o cinema está sempre tentando compreender as mentes e sentimentos das novas gerações repletas de adeptos da solidão ou parceiros múltiplos. Se amarrar a alguém parece uma alternativa apenas em último caso e geralmente colocando na balança outros valores, sendo o amor talvez o requisito de menor valor nas relações modernas e o respeito ao individualismo a prioridade. Baseado no livro de Carol Shields, República do Amor conta uma história romântica que explora o fascínio, os dilemas e as barreiras de uma relação a dois. Tom Avery (Bruce Greenwood) é um locutor de rádio que tem um programa nas madrugadas destinado a ouvir lamentações e questionamentos, principalmente de ordem sentimental, de ouvintes insones. Ele teve uma infância pouco convencional com pais liberais e provavelmente isso influenciou sua vida amorosa, visto que ele já foi casado três vezes e hoje prefere encontros casuais apenas para satisfação sexual. Já Fay McLeot (Emilia Fox) é uma pesquisadora que está mais focada em seu trabalho dedicando-se a escrita a respeito de uma tese sobre o mito das sereias. Ela está entediada com seu atual namorado, a relação caiu na rotina. Quando aceita o convite de um amigo para uma festa, Tom conhece e se interessa por Fay e a recíproca é das melhores. Após algum tempo longe por conta de uma viagem da moça, os dois se reencontram e engatam um namoro que parece perfeito, porém, cada um tem seu próprio espaço, sua maneira particular de ver o relacionamento. Já quarentão, possivelmente Tom vê o casamento como uma necessidade, tanto para cessar especulações sobre sua vida “desregrada” quanto para contar com o apoio de alguém no futuro, tal qual seus pais vivem em harmônio auxiliando um ao outro na velhice. Já Fay deseja o casamento perfeito assim como de seus pais que mesmo após tantos anos de união aparentam manter o amor bem acima do simples respeito e solidariedade. Todavia, essa utopia pode arruinar seu relacionamento atual quando surge uma frustração em seu caminho.

sábado, 22 de abril de 2017

DORM - O ESPÍRITO

Nota 4,0 Longa surpreende com mudança de foca na metade, mas transição é mal construída

Um colégio interno instalado em um antigo e isolado prédio, onde as crianças são comandadas a punhos de ferro e histórias assombrosas percorrem os amplos corredores. Esse é o cenário ideal para uma trama de horror e Dorm – O Espírito tenta tirar partido disso. Bem, pelo menos até certa altura. A trama escrita por Chollada Teaosuwan, Vanridee Pongsittsak e Songyos Sugmakanan, este último também assinando a direção, narra a adaptação de Chatree (Charlie Trairat) à rotina de seu novo colégio só para garotos, local que seu pai acredita que o obrigará a ser mais aplicado nos estudos e o ensinará a ser um homem de verdade assumindo responsabilidades agora que estará longe da família. O menino não parece empolgado em ter que mudar de escola em plena metade do ano letivo, ainda mais quando conhece a Srta. Pranee (Chintar Sukapatana), a inspetora dos dormitórios que parece ser o terror de todos os alunos. Em vários momentos, o novato sente a presença de alguém o seguindo ou o observando e seu pavor aumenta quando os seus colegas começam a contar histórias de arrepiar sobre o colégio. A que mais lhe impressiona é a de um garoto que morreu afogado na piscina que ficava nos fundos e que há anos foi desativada. Dizem que seu espírito aparece no banheiro na calada da noite e que sua cama, até então guardada no depósito, foi recolocada em um dos dormitórios, sendo justamente o leito destinado a Chatree. Enquanto se apavora diariamente por ficar impressionado com as lendas que cercam a escola, o novo aluno constata que o comportamento estranho de Pranee é verídico. Desde a morte de Vichiem (Sirachuch Chienthaworn) a inspetora mudou completamente seu comportamento tornando-se amarga e com o hábito de diariamente ouvir uma música melancólica enquanto chora observando o fundo de uma gaveta que ela jamais deixou alguém ver o que tinha dentro. É óbvio que Chatree vai se sentir instigado a descobrir qual a relação de Pranee com a morte do aluno e para tanto vai ter a ajuda especial de ninguém menos que o próprio espírito dele.

sexta-feira, 21 de abril de 2017

CAPITÃO SKY E O MUNDO DE AMANHÃ

NOTA 7,0

Apostando no casamento de
uma narrativa nostálgica com
visual moderno, longa diverte,
mas sua trama tem defeitos
Já fazia algum tempo que os filmes de ação e aventura estavam dependentes da tecnologia para atrair público e cada vez mais deficientes de trama para se sustentarem, mas eis que o estreante diretor e roteirista Kerry Conran trouxe em 2004 uma proposta ousada e inovadora. Capitão Sky e o Mundo de Amanhã tem visual de videogame, mas enredo que homenageia o cinema de antigamente. O início do projeto foi extremamente pessoal e sem recursos financeiros, apenas apostando na criatividade. O cineasta levou aproximadamente quatro anos de trabalho para criar míseros seis minutos de filme, uma pequena introdução que realizou em um simples computador para apresentar o universo diferenciado desta aventura e então apresentar a produtores e correr atrás de financiamento para levar a ideia adiante no formato de longa-metragem. A surpresa é que quem resolveu comprar a ideia e bancar o filme como um dos produtores foi o ator Jude Law que também se prontificou a protagonizá-lo. Na realidade, o projeto não era tão ambicioso inicialmente. O diretor apenas queria melhorar o que já tinha em mãos e lançar como um curta, mas foi convencido de que seu trabalho, que mostrava gigantescos robôs atacando uma Nova York nostálgica, inspirava uma projeção mais apurada. Até pouco tempo antes deste lançamento, Conran era apenas um estudante de cinema que trabalhava fazendo programação de computadores. Fã de quadrinhos e séries de TV antigas, como passatempo ele bolou um roteiro que colava estas lembranças aliadas a uma colcha de retalhos visuais, uma mistura de diversas técnicas que iam desde o uso de simples fotografias, passando por reproduções de trechos de filmes até chegar à animação computadorizada. O resultado retrô-futurista acabou conquistando a confiança de investidores e um razoável orçamento foi liberado ao cineasta de primeira viagem para investir naquela que podia ser uma obra divisora de águas, mas que acabou não sendo um sucesso e abortou qualquer possibilidade de se tornar uma franquia duradoura. Antes de falar sobre tal frustração vamos ao enredo. Em Nova York no final dos anos 30, a jornalista Polly Perkins (Gwyneth Paltrow) recebe um objeto de um homem misterioso que está sendo perseguido. Ela então descobre que os cientistas mais famosos do mundo estão desaparecendo sem deixar pistas, mas todos coincidentemente envolvidos em um projeto secreto dos tempos da Primeira Guerra Mundial.

domingo, 9 de abril de 2017

O TESOURO PERDIDO (2003)

Nota 3,0 Desde o genérico título, longa denuncia sua falta de originalidade e pinta de filme B

A caça a tesouros é um dos temas mais clássicos do cinema e serviram como argumento para várias produções que rechearam as tardes na TV, as prateleiras de locadoras e marcaram a infância de muita gente, mas produtos do tipo viveram um período de ostracismo em meados dos anos 90 ressurgindo com força no século 21 graças a franquia Piratas do Caribe. Diz o ditado que quem não tem cão caça com gato e assim quem não pode contar com um polpudo orçamento precisa brincar usando a criatividade, dessa forma muitos produtos menores com temática semelhante foram produzidos para lançamento direto em DVD como é o caso de O Tesouro Perdido que só por seu título genérico já aniquila expectativas e clama pelo rótulo de filme B. O diretor Jay Andrews claramente quis realizar um projeto que resgatasse o espírito de antigas aventuras que dispensavam o uso de efeitos mirabolantes e investiam mais na história e em situações realistas, porém, o resultado é apenas um passatempo esquecível. A trama escrita por Harris Done e Diane Fine começa com um incêndio em um museu de onde um ladrão passando-se por bombeiro furta, entre outras coisas, um quadro. Logo que toma conhecimento do episódio, a polícia sai ao encalço do bandido que em meio a perseguição acaba fugindo e deixando a mercadoria na estrada. O investigador Carl McBride (Coby McGlaughlin) fica curioso com o tal quadro que aparentemente não tem nada demais para ser alvo de um roubo e resolve pedir ajuda ao seu irmão Bryan (Stephen Baldwin), um especialista em antiguidades que revela uma surpreendente lenda. Analisando o tecido e a pintura, o rapaz afirma que este seria um mapa feito pelo famoso Cristóvão Colombo que indicaria a localização de um navio perdido que estaria repleto de ouro e outras riquezas esquecidas pelo historiador. Os irmãos partem para o Panamá, mais especificamente para a Ilha Damas, para tentar achar o tesouro, mas é óbvio que bandidos estarão na cola deles. O mandante do roubo, Ricardo Arterra (Hannes Jaenick), tem em seu poder outra parte do mapa, sequestra Carl e parte rumo a ilha.

sábado, 8 de abril de 2017

MENSAGENS DO ALÉM

Nota 4,0 Apesar do título, longa é suspense policial com boa premissa, mas resultado é irregular

Quem se sente atraído pelo genérico título Mensagens do Além certamente espera que a temática da comunicação do mundo dos mortos com o dos vivos seja destacada, porém, o longa do diretor David Fairman deve decepcionar os fanáticos pelo assunto, revelando-se um suspense muito mais de cunho policial que espiritual. O roteiro de Wayne Kinsey e Ivan Levene começa apresentando um rápido acidente de carro no qual a vítima é arremessada para fora pelo vidro dianteiro. Oito meses depois, um corpo de mulher é encontrado em um matagal, mais uma vítima de um assassino serial que parece estar atacando na região. O que tem a ver estes dois episódios? Ambos são de interesse do Dr. Richard Murray (Jeff Fahey) que perdeu a esposa Carol (Geraldine Alexander) no citado desastre e trabalha no setor de autópsias do hospital local que está recebendo os corpos mutilados das vítimas do desconhecido maníaco. Este médico legista é um bom profissional, porém, constantemente está em atrito com o Dr. Robert Golding (Bruce Payne) que implica com suas constantes faltas e seu vício em bebidas, problemas que Murray justifica pelas dificuldades em superar a morte da mulher que aparece em flashbacks mostrando que a vida do casal estava um pouco conturbada. Ela amava demais o marido e jamais sentiu que seu amor foi correspondido à altura, assim passou a criar em sua cabeça delírios a respeito de infidelidade que culminaram em sua trágica morte. Além de lidar com o Dr. Golding, que não inspira ser de confiança, o legista ainda terá que enfrentar um encontro com seu passado com a chegada da Dra. Frances Beales (Kim Thompson), sua namorada nos tempos da faculdade. O fogo da paixão nas reascende, mas ela serve como uma espécie de confidente, afinal sua área de atuação é a psicologia. Murray conta a ela que certa noite viu no seu computador uma mensagem de pedido de ajuda, mas não se lembra de tê-la escrito. Em outra ocasião sonhou com a morte de uma jovem e quando acordou viu no espelho do banheiro o nome Julie French, justamente a quinta garota a falecer de forma brutal e que ele mesmo terá que fazer a autópsia.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO

NOTA 9,0

Drama que enfureceu católicos
no final dos anos 80 ainda tem

potencial para impactar, mas parece
que suas chagas foram esquecidas
Todo e qualquer filme com conteúdo religioso ou mais especificamente que evoque a imagem de Jesus Cristo de alguma forma costuma gerar polêmicas assim que surgem as primeiras notícias de que alguém terá coragem de mexer com esse vespeiro, principalmente quando tal figura cristã será retratada com toques mais realistas e desprovida do semblante de ser iluminado e livre de pecados que a maioria dos católicos se apegam em suas preces. Mel Gibson deu a cara para bater assumindo a direção do polêmico e angustiante A Paixão de Cristo em 2004 e lucrou alto, mas dezesseis anos antes Martin Scorsese não teve a mesma sorte. Grupos conservadores atacaram ferozmente A Última Tentação de Cristo, drama literalmente longo baseado no romance homônimo de Nikos Kazantzákis publicado originalmente em 1951. Lançado nos EUA de maneira estratégica em poucas salas 40 dias antes da data prevista para gerar burburinho na mídia e consequentemente enfraquecer os comentários negativos dos cristãos, o filme começa já com o aviso de que não é baseado nas escrituras do Evangelho e que seu real objetivo é falar do conflito entre o espírito e a carne ou em outras palavras da razão versus o desejo tomando como instrumento Jesus Cristo imaginando como seria sua vida se caísse em tentação. O ator Willem Dafoe dá vida ao protagonista, um carpinteiro da Judeia que vive um grande dilema, pois é ele quem faz as cruzes com as quais os romanos crucificam seus oponentes, os judeus, assim ele se sente um traidor perante seu povo. Sua revolta interior o faz se sentir constantemente inquieto e o leva a se autopenitenciar sem piedade. Além disso, ele tem plena fé de que Deus tem um plano traçado que justificaria sua presença entre os mortais, mas ao mesmo tempo não se vê como um messias e sim um homem comum que tem necessidades carnais e precisa relutar contra seus desejos, ainda que não saiba bem o porquê. Judas Iscariotes (Harvey Keitel) havia sido designado a matar Jesus, mas ao suspeitar que ele é um enviado do Senhor pede para liderar uma revolução contra os romanos, porém, recebe como resposta de que o amor é a sua grande mensagem para a humanidade. Procurando resolver seu conflito interior, o carpinteiro decide ir para o deserto vivenciar uma espécie de retiro espiritual, mas antes pede perdão a Maria Madalena (Barbara Hershey), uma prostituta que acreditava que o relacionamento entre eles podia ser sua salvação. Mesmo brigados, mais tarde o rapaz a salva de uma multidão que se reuniu para apedrejá-la lembrando que todos tem seus pecados e merecem perdão.

terça-feira, 4 de abril de 2017

INVASORES (2007)

NOTA 3,5

Deixando mensagens subliminares
de lado, quarta adaptação de clássico
livro de ficção científica proporciona
diversão rasteira e esquecível
Assim como Guerra dos Mundos causou frisson nos anos 50 ao apresentar uma trama alegórica envolvendo alienígenas para criticar a pretensiosa soberania dos norte-americanos, praticamente na mesma época Vampiros de Almas era lançado como uma metáfora ao momento político que os EUA vivia. Baseado no livro “The Body Snatchers”, escrito por Jack Finney, o longa de 1956 critica o macarthismo e sua caça às bruxas disfarçadamente através de uma invasão alienígena e o diretor Don Siegel conseguiu realizar um filme aterrorizante que alcançou status de obra-prima com o passar dos anos. Em 1978, Philip Kaufman assumiu a direção de um remake, Invasores de Corpos, obtendo um filme diferente do original, mas preservando a sensação de paranoia e pavor aproveitando-se das feridas deixadas pela Guerra do Vietnã. O mesmo título (com o acréscimo do subtítulo “a invasão continua”) viria batizar em 1993 a versão de Abel Ferrara para o consagrado romance de ficção científica abordando uma epidemia trazida pelos alienígenas em uma clara alusão aos temores da AIDS, mas já não obtendo a repercussão dos filmes anteriores. Um é pouco, dois é bom, mas se três já é demais porque insistir em um quarto filme? É fato que o argumento do livro é atemporal e permite diversas interpretações, assim executivos da Warner Bros certamente imaginaram que era hora de mais uma vez trazer a temática à tona para discutir implicitamente os conflitos étnicos ou a degradação acelerada da natureza, por exemplo. Contudo, Invasores não é lembrado por algum tipo de subtexto, mas sim por ser um retumbante fracasso que deve ter feito um rombo considerável nas finanças de sua produtora. A trama escrita por David Kajganich parte da premissa de que os destroços da explosão de um ônibus espacial entraram em contato com algo alienígena e que ao caírem na Terra trouxeram uma espécie de vírus que modifica drasticamente o comportamento das pessoas que contamina. A população entra em desespero, mas o governo vende a ideia de que esta epidemia em breve será controlada, no entanto, a psiquiatra Carol Bennell (Nicole Kidman) e seu namorado, o médico Ben Driscoll (Daniel Craig), descobrem a verdadeira origem do problema, um mal que acomete as pessoas quando elas estão dormindo. Os infectados mostram-se incapazes de demonstrar algum tipo de emoção, mas à medida que o vírus se espalha fica cada vez mais difícil descobrir quem é portador da anomalia.

domingo, 2 de abril de 2017

O GRANDE MENTIROSO

Nota 6,0 Espertalhão fica nas mãos de um jovem pentelho em comédia simples, mas eficiente

Hoje em dia é tão difícil encontrar uma comédia literalmente com classificação livre, ou seja, sem absolutamente nada que constranja ou ofenda o espectador, que qualquer filmeco que se encaixe nessa categoria acaba automaticamente se tornando um coringa para os pais que prezam pela integridade moral de seus filhos. Pode parecer bobagem, mas quem não tem ao menos uma lembrança de ter visto algum filme bobinho em uma tarde de ócio ou chuvosa na companhia da mãe, avó ou amigo? Será que é daí que surgiram os clássicos estilo sessão da tarde? Possivelmente e O Grande Mentiroso atende aos requisitos para entrar nessa lista. Razoavelmente divertido e livre de piadas grotescas ou ofensivas, ele garante uma hora e meia de sossego para quem tem que cuidar de uma criança por trazer uma temática muito comum ao universo infanto-juvenil: a mentira e suas consequências. A trama escrita por Dan Schneider e dirigida por Shawn Levy nos apresenta à Jason Shepherd (Frankie Muniz), um adolescente de 14 anos que não liga muito para os estudos e vive contando mentiras, principalmente quando se vê em enrascadas como certo dia que chega atrasado para a aula da Sra. Caldwell (Sandra Oh) e sem a redação que deveria entregar. Curiosamente, ele não consegue criar uma história para colocar no papel, porém, bola uma mirabolante para justificar suas falhas para a professora. No entanto, a verdade logo vem à tona e com o agravante que agora seus próprios pais não confiam mais nele. Como castigo na escola, Jason terá que fazer uma redação em tempo recorde, caso contrário terá que perder as férias de verão para frequentar um curso de recuperação. Inesperadamente ele se vê inspirado e cria uma história com título homônimo ao filme. Todo orgulhoso, ele sai de casa com a cabeça nas nuvens e acaba sendo atropelado por uma limusine na qual está Marty Wolf (Paul Giamatti), um antipático produtor de cinema que não está em uma boa fase na carreira já há alguns anos.