quinta-feira, 15 de novembro de 2018

AMITYVILLE - O DESPERTAR

NOTA 3,5

Tentando dar novos rumos à
franquia de terror sem apelar para
um remake literal, fita não inova nos
sustos e trama fica a dever em emoção
Família se muda para uma casa que no passado foi palco de uma chacina e desde então todos os moradores tiveram terríveis experiência no local. Esse é o argumento básico dos filmes de residências assombradas, mas também é a semente de uma das mais longínquas franquias do cinema norte-americano. Amityville - O Despertar é nada mais nada menos que o 18º longa com raízes fincadas na obra do autor Jay Anson a respeito de um homem que assassinou toda a família supostamente guiado por vozes malignas que o obrigaram. A primeira adaptação foi lançada em 1979, mas Terror em Amityville teve uma recepção fria por parte de público e crítica e foi preciso o passar dos anos para ser reconhecido, tanto que hoje é considerado um clássico do terror. Depois vieram continuações, produtos caça-níqueis direto para consumo doméstico, teve um telefilme e em 2005 uma refilmagem tentou resgatar a franquia. Após quatro anos de adiamentos, o diretor e roteirista Franck Khalfoun encontrou uma boa ideia para voltar ao lendário casarão do vilarejo localizado na cidade de Babylon, uma remota parte de Nova Iorque. A quem interessar, a residência ainda existe e vira e mexe está disponível para novos e corajosos moradores. Talvez pensando justamente nisso, sobre como seria viver em um local cercado de negativismo e ciente de toda tragédia que lá aconteceu, é que o cineasta preferiu realizar uma história ligeiramente original e abandonar a ideia de mais um desnecessário remake (se bem que não dá para fugir muito do argumento original). Após sofrer um acidente indiretamente provocado por um ato inconsequente de sua irmã gêmea Belle (Bella Thorne), o jovem James (Cameron Monaghan) entrou em estado vegetativo e acabou tendo morte cerebral, porém, Joan (Jennifer Jason Leigh), sua mãe, decide se mudar com a família, que inclui a pequena Juliet (Mckenna Grace), para a tal casa macabra onde teria espaço para montar uma UTI doméstica. De fato, na nova moradia o rapaz começa milagrosamente a apresentar melhoras, mesmo com os médicos afirmando que seria impossível ele voltar do coma.

Belle, que vive em conflito com a mãe que a culpa por tudo que aconteceu, logo começa a desconfiar que seu irmão não está vivo, mas sim que seu corpo está sendo usado por uma entidade maligna que quer reviver a chacina que marcou a residência quatro décadas antes. A jovem aceitou se mudar sem saber dessa história que foi omitida por Joan que desacreditada em Deus após os infortúnios que a família sofreu (o marido faleceu de câncer pouco antes) pouco liga para o passado da casa. Quem revela o acontecido para a garota, embora da maneira mais didática possível, são seus amigos do colégio, Terrence (Thomas Mann) e Marissa (Taylor Spreitler), aliás, muito boa a sacada de não omitir que o episódio faz parte da cultura ianque, sendo que alguns filmes e até o livro que originou todo esse movimento cinematográfico vem a ser citados. Só não cola muito que a adolescente cresceu alheia a tudo isso, mas fazemos vista grossa a esse detalhe assim como a tantos outros deslizes. O longa tem seus momentos individuais de tensão e usa bastante o recurso do "jumpscare" (sustos repentinos baseados em takes rápidos e geralmente acompanhados de efeito sonoro estridente), mas infelizmente Khalfoun, que se saiu razoavelmente bem ao explorar a claustrofobia de um estacionamento no suspense P2 - Sem Saída, aqui não consegue tirar o máximo de proveito de seu cenário. Parece que trabalhou na base do freio de mão para não se infiltrar a fundo na mítica que paira sobre o casarão, afinal correm soltas as lendas de que mexer com o além traz má sorte às equipes de filmes de terror. Assim, o diretor acaba falhando ao rechear seu trabalho de sustos desnecessários quando tinha em mãos o potencial de uma história que poderia ser carregada de dramaticidade e flertar com muita propriedade com a verve satânica. Imagine uma mãe que fez de tudo para ter seu filho de volta e de repente se ver ameaçada por ele? Ou a garota mais pé no chão que decide desligar os aparelhos que mantém o irmão vivo sabendo que seria acusada de sua morte? As duas situações estão no longa, mas de forma muito simplórias e sempre com um entrave: é preciso introduzir a qualquer custo o clichê do espírito obsessor fazendo link com o caso de possessão que sustenta a palavra Amityville no imaginário popular desde a década de 1970.

A estrutura do roteiro privilegia uma série de rápidas situações em que se busca denotar a presença de fatores ocultos por trás daquele ambiente revestido com papeis de parede para esconder as marcas de sangue do passado. A aparente calmaria é quebrada por vultos, sons estranhos e eventos sem explicação a qualquer momento do dia, mas depois que Khalfoun introduz que em 1974 Ronald Defeo Jr. assassinou sua família às 03:15 da manhã, os acontecimentos misteriosos passam a obedecer religiosamente o relógio como se fosse a hora em que a casa ganha vida própria. Contudo, soa forçada a visita dos amigos de Belle em plena madrugada para assistirem a clássica fita que reproduz os tristes acontecimentos ocorridos naquela residência. Pior ainda que com tantos cômodos a sessão terror aconteça bem em frente ao quarto-hospital de James e também ocorra uma providencial queda de energia às... Bem, quem é muito supersticioso pode ser que venha a sentir um calafrio na espinha caso acorde no citado horário mítico. A imagem do relógio ironicamente talvez seja o elemento mais assustador da fita. O elenco enxuto ajuda a concentrar a tensão em um mesmo núcleo, embora não se veja um empenho para que as personagens surpreendam. Thorne segura as pontas como protagonista com um quê de masculinidade, mas nada que impeça a câmera de procurar flagrá-la de forma que suas curvas fiquem em evidência. Leigh, com maior bagagem de experiência, falha por construir uma mãe desesperada com personalidade chapada, sem se aprofundar em seu psicológico abalado, enquanto Monaghan mostra-se canastrão tanto na fase terminal de James quanto no momento em que consegue sair da cama já sob comando da possessão. O efeito de maquiagem para denotar a fraqueza do rapaz quando doente é risível, tudo para depois voltar a ganhar músculos no ato final, diga-se de passagem, um desfecho apressado e que não rende a tensão esperada. Entre pesadelos bem orquestrados e cortes repentinos para uma morna realidade, Amityville - O Despertar é apenas mais uma fita de terror fraca como tantas outras de temáticas semelhantes, com o agravante de que quem assistiu ao menos um filme da franquia já sabe muito bem o que esperar, mas ao menos não é o desastre que se esperava. O resultado poderia ser bem pior caso opta-se por um remake literal. Não surtiu efeito nas bilheterias e tampouco repercutiu, mas certamente não irá aposentar o argumento. Só questão de tempo para um 19º longa revisitar a misteriosa aura que cerca o casarão e quem sabe a própria vida real venha a inspirar. Alguém se habilita a morar lá?

Terror - 85 min - 2017

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9 – 10 Excelente, praticamente perfeito do início ao fim
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