sexta-feira, 29 de outubro de 2021

SEX TAPE - PERDIDO NA NUVEM


Nota 6 Apesar da temática, longa mostra-se cheia de pudores e adota humor relativamente leve


Antigamente havia quem desejasse fazer carreira na indústria dos filmes pornográficos, mas hoje em dia com a facilidade de acesso a celulares e computadores com câmeras de nível profissional, além da ultra velocidade da internet, qualquer um pode fazer seu próprio vídeo íntimo por curtição. O problema é o que fazer com a gravação quando a adrenalina do tesão cessar e a ficha cair. É esse o dilema do casal Annie (Cameron Diaz) e Jay (Jason Segel) em Sex Tape - Perdidos na Nuvem. Eles são quarentões e casados há mais de dez anos, mas ainda cheios de libido. Pena que dois filhos pequenos e os compromissos profissionais não deixem tempo ocioso para eles extravasarem suas vontades sexuais como na juventude. Eles se conheceram na faculdade e foi amor, ou melhor, tesão à primeira vista e desde então eles sempre se entenderam muito bem na cama, assim como na cozinha, no banheiro, na sala ou até mesmo em locais públicos como parques e bibliotecas. A sintonia era tanta que o rapaz chegava a ter ereções simplesmente ao pressentir que ela estava se aproximando e não importasse onde estavam eles sempre davam um jeitinho e... Pimba! 

Para matar um pouco as saudades dos tempos de namoro e também fazer o casamento sair da rotina, certa noite o casal decide mandar as crianças para a casa dos avós, se embebedam com tequila e aproveitam para transarem em tudo quanto é posição experimentando as dicas de um livro escrito por um doutor do sexo. Para esquentar a brincadeira, fazem tudo isso diante de uma câmera para depois se divertirem conferindo suas performances. Após a farra, no entanto, Jay se esquece de apagar o arquivo e ele acaba sendo enviado por meio de um aplicativo de sincronização automática de dados para alguns parentes, amigos e conhecidos dos pervertidos, todos aqueles que o produtor musical presenteou com iPad com suas playlists, um jeitinho estapafúrdio do longa ganhar uma grana extra com a publicidade da empresa de tecnologia Apple que é lembrada várias vezes reiterando as qualidades e durabilidade de seus produtos. Com o arquivo armazenado na tal nuvem do título, até o carteiro do casal, devidamente presenteado com a tal bugiganga, poderia ter acesso a gravação. Não demora muito e eles começam a receber mensagens de texto em seus celulares de um chantagista ameaçando publicar o vídeo em um famoso site de pornografia e logo suas intimidades poderiam estar sendo replicadas em outras páginas.


Além da vergonha de serem apontados nas ruas, a peripécia poderia vir a custar o futuro profissional de Annie. Blogueira, ela estava prestes a fechar uma parceria para ser patrocinada por Hank Rosenbaum (Rob Lowe), um empresário do ramo de produtos infantis. Embora em uma pequena participação, a presença do ator é das mais divertidas caso você conheça detalhes de seu passado. Promessa de galã na juventude, ele permitiu a inserção no roteiro de piadas envolvendo o seu vício em cocaína e até relembrando que sentiu na pele os efeitos da divulgação indevida de cenas íntimas, fato que comprometeu drasticamente sua carreira. Escrita por Kate Angelo, Nicholas Stoller e também por Segel, a trama absolutamente não se aprofunda quanto as vertentes sérias do argumento. Numa época em que um simples arquivo pode correr o mundo em questão de minutos e muita gente de fato busca seus quinze minutos de fama custe o que custar, o diretor Jake Kasdan prefere se ater ao cotidiano de um casal comum que cometeu um deslize, mas por incrível que pareça amadureceu (um pouco). Se antes transavam onde fosse, o risco de serem flagrados colaborava para o tesão aumentar, agora sabem que a essa altura do campeonato seriam alvos de críticas ferrenhas e apontados como pais irresponsáveis. A sociedade cobra uma postura mais séria e hipocritamente condena aqueles que conseguem manter uma vida sexual ativa mesmo após tantos anos de relacionamento.

O grande problema desta comédia é que vende uma coisa e é outra. Apesar da temática é puritana demais. Mesmo com uma cena em que o uso da cocaína é apresentado sem rodeios, as sequências de sexo são exibidas com edição frenética e quem espera a nudez dos protagonistas vai se frustrar. Não que fosse algo essencial, mas seria mais condizente com a proposta. Kasdan já havia testado a química do casal em Professora Sem Classe e poderia aproveitar para tirar uma casquinha a mais, porém, o diretor obviamente não iria expor os atores a cenas de nível pornô. Os homens devem se contentar com as curvas de Diaz em relances e Segel mostra que para ser um pegador não precisa necessariamente ser saradão. Se o corpo rechonchudo do ator ajudava a trama de Ressaca do Amor, outra parceria do ator com o cineasta, aqui ele fez questão de emagrecer uns bons quilinhos para sua falta de forma física não se tornar a grande piada da fita e aproveita mostrando o bumbum sem pudor diversas vezes. É até interessante ver um homem com corpo comum em tais situações, eleva a autoestima dos caras que fogem da academia. Além de não oferecer nudez explícita, a fita também parece muito recatada quanto as piadas. Kasdan passa longe da ousadia das criações dos irmãos Farelly (Quem Vai Ficar Com Mary?), de Judd Apatow (Ligeiramente Grávidos) ou de Sacha Baron Cohen (Borat), exemplos que não se importam em focalizar genitais caso a cena contribua para o enredo. 


Em Sex Tape - Perdido na Nuvem o diretor fica indeciso entre fazer uma comédia para adultos ou um produto que atinja desde a faixa adolescente, talvez até por imposição dos produtores visando lucratividade. Se foi isso o tiro saiu pela culatra. Quando os protagonistas partem em busca de caçar os tais iPads a comédia embarca no melhor estilo sessão da tarde, principalmente quando Jay vai a casa de Rosembaum e faz caras e bocas tentando fugir de um cachorro bravo. Enquanto isso, Annie tenta enrolar seu futuro patrocinador com o batido joguinho de sedução e dando brecha para o cara mostrar um outro lado de sua personalidade. Nessa odisseia, sem perceber, os personagens conseguem o objetivo que almejavam, sair da rotina, e de quebra também retiram da inércia um outro casal, Tess (Ellie Kemper) e Robbie (Rob Corddry), que também estavam com o casamento em porto morto e sentem a chama reacender ao descobrirem as peripécias dos amigos. O longa então reitera sua vocação para o recato na reta final quando o tal vídeo corre o risco de ser exibido em uma festinha do colégio dos filhos dos pervertidos e ainda pela rápida participação de Jack Black como dono de um site pornô oferecendo uma lição de moral lembrando que a vida não pode se resumir a sexo, embora esse seja seu ganha pão.

Comédia - 94 min - 2014

Leia também a crítica de:

Nenhum comentário: