quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O EXORCISTA

NOTA 10,0

Quanto mais o tempo passa,
mais interessante se torna a
experiência de ver este clássico que
ainda influência o gênero inegavelmente
Existem filmes que ficam melhores a cada ano que passa e o fator tempo só contribui positivamente. Quando comparados a trabalhos contemporâneos eles podem ficar em desvantagem ou surpreendentemente se sobressaírem, como é o caso de O Exorcista, uma das melhores produções de terror de todos os tempos cujo aspecto datado acaba trabalhando a favor da obra e reforçando a atmosfera de suspense e claustrofóbica. Lançado na década de 1970, o longa ajudou a recuperar um gênero que estava fadado a disputar público com as comédias ou viver de nichos específicos. O terror, alguns anos antes, era dominado pelos filmes de monstros e trashs que até podiam causar um ou outro susto, mas a quantidade de risos eram bem superiores. Foi uma menina com o demônio no corpo literalmente que salvou o cinema de horror de afundar na lama de vez. Naquela época o mundo já estava um caos com muita violência, protestos, famílias se desfazendo e o ser humano perdendo a fé na religião (pelo visto as coisas não mudaram muito daqueles tempos para cá), um cenário ideal para o demônio dominar e aprontar. Apesar de tantos anos se passarem, a produção continua provocando bons sustos, mas é claro que não causa o mesmo impacto que antes. O cinema evoluiu, regrediu em certos aspectos também, mas o fato é que já vimos coisas bem mais nojentas e impactantes do que uma garota vomitando algo verde ou mutilando a si mesma, porém, para a política cinematográfica atual, é totalmente repreensível uma menor de idade simulando uma masturbação com um crucifixo. Embora a cena não seja explícita no visual, concentra suas forças sexuais no texto o que já é o suficiente para a censura de hoje cair em cima, por isso os produtos de terror atuais podem até ser mais ousados, mas ainda ficam com o pé no freio para que uma publicidade gratuita não seja revertida de forma negativa afugentando o público. Mesmo assim, em 2001, o clássico ganhou alguns minutos a mais com cenas que foram cortadas da versão original que só vieram a acrescentar ainda mais qualidade ao que já era excelente. Não é a toa que a obra ainda hoje influencia o gênero e renova seu público a cada geração.

Voltando a falar do clássico título do cineasta William Friedkin, baseado no livro homônimo de William Peter Blatty que também assina o roteiro, sua história já merece destaque por fazer um excelente prólogo capaz de envolver o espectador e convidá-lo a participar do clima sombrio que toma conta da casa de Chris MacNeil (Ellen Burstyn) que vive com sua filha Regan (Linda Blair) em um bairro pacato, mas que irá estremecer com estranhos acontecimentos. Gradativamente, a dócil garota de doze anos passa a apresentar um estranho comportamento e realiza atitudes excêntricas, mal educadas e até aterrorizantes, o que chama a atenção de sua mãe que desconfia que alguma força maligna está agindo sobre ela. Submetida a vários exames, nenhuma doença é diagnosticada e assim Chris resolve procurar apoio na religião através do Padre Damien Karras (Jason Miller), especialista em exorcismo, para tentar livrar a menina desta terrível ameaça. Contudo, o religioso sente que a menina exerce certo poder sobre ele, visto que anda duvidando de sua própria fé, assim pede a ajuda do Padre Merrin (Max Von Sydow), que também é um respeitado psiquiatra e arqueólogo. Eles chegam a conclusão de que trata-se de um caso de possessão demoníaca e vão passar por uma experiência difícil e ter uma noite assustadora, pois o demônio também consegue perturbar a mente deles e despertar tentações. O desenrolar desta sinopse é de fazer qualquer um roer as unhas de tensão, mas não espere sustos gratuitos. O terror fica por conta de sombras, ruídos, gemidos, enfim, tudo que antecede a aparição da menina já possuída, frutos de uma direção de arte e produção impecáveis. Depois que a curiosidade de ver um rostinho bonito todo deformado e disparando blasfêmias e palavras de baixo calão, realmente o nível de excitação com o longa diminui consideravelmente já que o elemento surpresa se foi, mas o diretor é habilidoso em construir outras situações para prender a atenção, apesar de se alongar um pouco desnecessariamente. Hoje ver a tal endemoniada pode até assumir um caráter cômico, seja para escamotear o medo ou até mesmo por ser impossível não surgirem em mente as lembranças das inúmeras paródias que este trabalho já teve, mas na época o impacto da obra foi tão absurdo que muita gente perdeu o sono por várias noites, um trauma que alguns carregam até hoje. Vale ressaltar que Satanás não se manifesta apenas na garota, mas no início do filme temos algumas rápidas demonstrações de que ele encarnou em outros corpos.

Grande parte da longevidade do sucesso do longa se deve muito também as lendas arrepiantes acerca dos bastidores que atravessam gerações propagando a ideia de que a produção era amaldiçoada. Bem, de pessoas próximas que sofreram algum infortúnio pode ter sido apenas uma infeliz coincidência, mas de fato muitas mortes ocorreram durante as filmagens ou até mesmo algum tempo depois, incluindo o ator Jack MacGowran, que cometeu suicídio no início do filme, que partiu desta para melhor na vida real uma semana após concluir sua participação na história. Friedkin, que pouco antes conquistou o Oscar com Operação França, nunca mais realizou uma fita de sucesso, ao menos não simultaneamente para crítica e público. Já Linda Blair despontou de forma que parecia ter uma carreira promissora pela frente, porém, não conseguiu levá-la adiante e fracassou em todas as tentativas. Sucesso ou não, ela pode se dar por satisfeita de ter pelo menos uma obra memorável em seu currículo. Seja com seu rosto puro e ingênuo do início, passando pela endiabrada menina que vira a cabeça ou desce as escadas de forma peculiar até chegar à figura mais próxima possível do coisa ruim, cada cena sua certamente jamais será esquecida por quem a viu. Por parte dos espectadores, muitos também afirmam que após assistirem o filme acontecimentos estranhos e até falecimentos de pessoas próximas vieram ocorrer. Tais boatos certamente contribuíram para que a aura misteriosa em torno da fita fosse perpetuada e mantivesse seu nome sempre em destaque. Não que esta produção precise disso, pois ela tem qualidades de sobra para sobreviver a ação implacável do tempo. Frequentemente lembrado como um dos melhores filmes de todos os tempos, além de uma bilheteria extraordinária (desbancou os clássicos e recordistas de público ...E o Vento Levou e Branca de Neve e os Sete Anões), também conquistou dez indicações ao Oscar, algo raro de acontecer a um filme de terror, vencendo em duas, roteiro adaptado e som (a respiração ofegante de Regan quando possuída é de gelar a espinha de qualquer um). Se havia realmente alguma maldição rondando O Exorcista, o tempo tratou de transformá-la em bênção, exceto no caso de suas continuações, totalmente desnecessárias e que não chegam aos pés do original. Para quem sempre teve receio, mas ao mesmo tempo se sentiu instigado, não fique só na curiosidade, experimente e prepare-se para querer ver mais e mais vezes este clássico obrigatório para todos aqueles que ousam dizer serem apaixonados por cinema.

Vencedor do Oscar de roteiro adaptado e som

Terror - 132 min - 1973

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3 comentários:

Rafael W. disse...

Clássico absoluto! Me causa arrepios até hoje!

http://cinelupinha.blogspot.com/

renatocinema disse...

Disse tudo: fotografia espetacular e file obrigatório.

marcosp disse...

o exorcista é um filme muito bem feito, traz a nostalgia quando ter medo era coisa do demônio, hj temos medo da violência, ficar em casa ou sair dela é a mesma insegurança...
o filme é 10, mas somente este, suas continuações são um lixo...