quarta-feira, 20 de maio de 2015

NUNCA É TARDE PARA AMAR

NOTA 7,0

Buscando criticar a ditadura da
beleza, ídolos vazios e a influência
da mídia na vida das pessoas, no fundo
fita se prende a clichês e final feliz
Pelo título piegas você já deve pensar: lá vem mais uma comédia romântica bobinha e com final previsível. Bem, a forma como esta história acaba não foge às regras da cartilha que rege o gênero, mas dependendo da interpretação de cada um o longa pode não ser a simplória diversão que promete. Nunca é Tarde Para Amar pode surpreender e esconder algo a mais por trás do verniz de produção escapista e engraçadinha apostando em um subtexto crítico, porém, não aprofundado. Buscando criticar o poder da audiência para controlar a mídia ao mesmo tempo que ela manipula seus consumidores, ironicamente o roteiro mostra-se um tanto amarrado a convenções, provavelmente um cuidado para não desagradar seu público-alvo que busca justamente uma diversão descompromissada e calcada em situações previsíveis. Todavia, sobram farpas contra as estrelas de Hollywood que não assumem o envelhecimento e também contra as jovens estrelas do mundo da música que tendem a decair tão rápido quanto alcançam o estrelato. A história gira em torno de Rosie (Michelle Pfeiffer), uma mulher já quarentona que impressiona pela sua beleza, mas que está passando por momentos conturbados tanto em sua vida pessoal quanto profissional. Ela é a mãe de Izzie (Saoirse Ronan), uma pré-adolescente que entre os muitos problemas com os quais tem que aprender a conviver nesta fase de transformações se vê perturbada pela vivência de seu primeiro amor. Coincidentemente, o mesmo sentimento está sendo vivido de certa forma por Rosie que até então nunca havia tido um relacionamento com alguém mais jovem, mas cai de amores por Adam (Paul Rudd), um ator que não chegou nem na casa dos trinta anos ainda. Eles se conhecem durante a escolha de elenco para um seriado de TV do qual ela é a produtora e o rapaz a conquista com seu extremo bom humor e maneira leve de viver a vida. Dando vida a um cativante nerd estereotipado no programa, ele então se torna a arma secreta para conquistar a audiência do público adolescente, caso contrário o horário seria cedido a um reality show. O projeto vai de vento em popa, mas se as coisas vão bem no trabalho para ambos, a vida pessoal só não está melhor porque esse relacionamento entre uma mulher mais velha e um homem mais jovem é motivo de inveja para alguns, como Jeannie (Sarah Alexander), uma invejosa colega de trabalho do casal.

A tradução literal do título original seria algo como “Eu Nunca Poderia Ser Sua Mulher”, algo condizente com o principal argumento levantado pelo enredo, mas pouco comercial para uma produção catalogada como comédia romântica. Em pleno século 21, apesar de moderninhas, o filme revela como as mulheres mais vividas, digamos assim, ainda se prendem a preconceitos do passado e tendem a se afastar da chance de serem felizes com alguém mais jovem já que a sociedade ainda não vê com bons olhos tais relacionamentos. No longa, a protagonista se arrisca a viver esta paixão, mas vira e mexe põe o pé no freio impondo a si mesma barreiras, as vezes por causa de se achar ridícula vivendo os mesmos sentimentos de uma adolescente e em outras ocasiões por achar que a relação pode atrapalhar o campo profissional. A produtora de TV ainda enfrenta o peso da idade ao ver que suas ideias para novos seriados parecem ultrapassadas perante a interatividade proporcionada pelos reality shows, praga que se alastrou por todo o mundo rapidamente. Além disso, rodeada de ninfetas loucas por seus quinze minutos de fama, fica difícil não parar para pensar sobre quando chegará o dia em que sua larga experiência profissional seria trocada por alguns litros de silicone bem injetados. Em meio a tantos conflitos, o roteiro obviamente é muito focado no papel de Pfeiffer, atriz que curiosamente também sentiu o peso da idade na vida real. Estrela consagrada e lindíssima, então quase uma cinquentona, ela ficou longe dos cinema por cerca de cinco anos. A escassez de convites só veio a cessar em 2007 quando, além desta produção, ainda brilhou em Stardust - O Mistério da Estrela como uma feiticeira e soltou a voz como uma megera no musical Hairspray - Em Busca da Fama. Quanto a seu talento ela não tem nada mais a provar, porém, precisa estar sempre atenta para sobreviver em meio a selva hollywoodiana onde meninas bonitas da noite para o dia viram ídolos sem necessariamente terem talentos para a interpretação. Já Rudd, ator que depois de vários papéis coadjuvantes à sombra de sinônimos de comédia como Will Ferrell e Steve Carell, finalmente conquistou a vaga de protagonista e se deu muito bem, mesmo já sendo quase um quarentão vivenciando situações como se fosse um colegial. Todavia, ele exala juventude tal qual sua parceira de cena, química perfeita.

Responsável por cults de bem humoradas críticas sociais entre as décadas de 1980 e 1990, tendo como grandes representantes o ousado Picardias Estudantis e o caricatural (no bom sentido) As Patricinhas de Beverly Hills, ambos acerca do universo dos adolescentes e servindo como registro de hábitos e comportamentos de suas respectivas épocas, a diretora e roteirista Amy Heckerling tentou fazer aqui um retrato de uma nova geração, mas sem se esquecer daqueles que nasceram no século passado, mas que continuam cheios de disposição para aproveitar as próximas décadas. Aqui entram em cena os conflitos de uma turma que manteve a aura inocente até pelo menos os quinze anos de idade batendo de frente com os anseios de uma nova prole que aos doze anos já não deseja mais brincar com bonecas ou carrinhos. Forçados pela influência da mídia, cotidiano corrido e pelas amizades nem sempre tão sinceras, os próprios jovens parecem desejar o amadurecimento precoce, mas não sabem lidar com os aspectos negativos da mudança. Prevalecendo a ótica feminina sobre os assuntos, é uma pena que a diretora desta vez não conseguiu o mesmo nível de eficiência na crítica quanto nos títulos citados de sua filmografia. O enfoque poderia render uma história mais reflexiva, mas parece que houve medo em afugentar o público-alvo que certamente só busca distração momentânea. Porém, vale a ressalva que as várias referências a ídolos do momento e do passado e o próprio artifício do programa de TV dentro do filme são muito eficientes para datar a obra e criticar a ditadura da beleza sobrepondo o talento real. É uma alfinetada leve na própria indústria de cinema de Hollywood, o próprio nicho que gerou este produto. Fica a sensação de que Heckerling e sua equipe resolveram fazer esse filme como uma espécie de desabafo quanto as regras superficiais que os sufocam neste meio. Nunca é Tarde Para Amar é calcado em clichês, mas cheio de boas intenções que, infelizmente, não foram bem desenvolvidas, certamente até por imposições dos próprios produtores do longa. Quem se dispor a assistir com boa vontade e atenção pode conseguir pescar as mensagens implícitas e desenvolver os temas em sua mente por conta própria, assim constatando que este trabalho está um pouco acima do convencional do gênero, mas ainda assim bem abaixo do que poderia oferecer.

Comédia romântica - 98 min - 2007 

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Um comentário:

renatocinema disse...

Apesar de ser realmente prevísivel, essa comédia me agradou. Acho que estava num bom dia para o gênero, passou bem o tempo.