sábado, 18 de novembro de 2023

PERSEGUIÇÃO - A ESTRADA DA MORTE


Nota 8 Road movie tem ares setentistas e usa o suspense psicológico para prender atenção


Histórias sobre estradas mal assombradas existem aos montes em qualquer lugar do mundo, mas muito mais aterrorizante que almas penadas vagando por ai é pensar que sádicos assassinos de carne e osso podem estar no veículo que está na frente do seu carro, te vigiando no que vem logo atrás ou ainda o cercando pelas laterais. Pior ainda ter a nítida percepção de que por vezes está sendo vigiado por uma figura onipresente que pode te surpreender a qualquer momento não importa o lugar. É essa sensação de claustrofobia a céu aberto que temos assistindo Perseguição - A Estrada da Morte, um suspense com pegada jovem, mas muito acima da média do que geralmente é oferecido aos adolescentes, assim tornando-se uma boa opção também para adultos, isso desde que você não leve tão a sério o enredo que por vezes soa inverossímil. Faz parte da diversão. Os protagonistas, na época em início de carreira, seguram bem as pontas e apresentam desempenho infinitamente superior a muitos outros jovens que se aventuram em fitas do gênero, mas isso não os livra de dar vida a personagens estereotipados. 

O roteiro de Clay Tarver e J. J. Abrams acompanha a viagem do jovem Lewis Thomas  (Paul Walker) que vai atravessar os EUA rumo ao Colorado para encontrar uma amiga que é a mulher de seus sonhos, Venna (Leelee Sobieski), mas os seus planos românticos mudam quando ele precisa primeiro buscar seu irmão mais velho, o arruaceiro Fuller (Steve Zahn), que está saindo da prisão. Mesmo após a reclusão o rapaz não muda seu jeito e continua aprontando confusões e acaba envolvendo o irmão em uma perigosa brincadeira com um caminhoneiro através de um rádio antigo usado por motoristas para trocarem informações. O homem misterioso se apresenta como Parafuso (no original é chamado de Rust Nail) e cai na conversa dos rapazes na qual Lewis finge ser uma mulher, a Docinho de Coco (ou Candy Cane), e marca um encontro em um motel de beira de estrada. O que eles não imaginavam é que o destino se encarregaria de transformar essa travessura em um tremendo pesadelo que só viria a piorar quando Venna também cai no radar do sádico.


Parafuso não está interessado em assaltar ou fazer picadinho de suas vítimas, mas sim aterrorizá-las ao máximo aproveitando-se de sua facilidade para surgir de onde menos se espera e revelar detalhes particulares das ações dos jovens. Equilibrando tensão, bons sustos, reviravoltas e os corriqueiros clichês e momentos de alívio cômico, é praticamente impossível não roer as unhas com as diversas cenas de perseguição e se arrepiar a cada nova aparição do imponente caminhão acompanhando de uma perturbadora buzina. Explorando o campo do thriller psicológico, Dahl constrói com perfeição o crescente clima de tensão em estar na mira de um desequilibrado e conta com a ajuda de uma excelente parte técnica, principalmente de edição, que injeta adrenalina na dose certa, e de fotografia, que precisa driblar as dificuldades das cenas de perigo, a maioria tomadas noturnas. 

Filmagens em ambientes escuros nem sempre geram bons resultados e podem deixar o filme monótono, mas neste caso a iluminação e os ângulos de câmeras foram escolhidos a dedo para criar a ambientação de uma estrada deserta, na penumbra, e ainda assim oferecer nitidez aos espectadores. Contudo, não espere ver em detalhes características do vilão. Sua identidade fica em segredo, mas o roteiro peca ao não apresentar coadjuvantes suspeitos para  instigar o espectador a brincar de detetive. Mesmo sem ter fantasmas, monstros ou assassinos mascarados, podemos dizer que esta produção do diretor John Dahl se enquadra perfeitamente na definição de filme B: uma produção simples, eficiente quanto a entretenimento e que transforma a falta de recursos em qualidades ao optar por um tom mais realista, mas sem abandonar certos absurdos. 


A ideia principal, um misterioso caminhoneiro que persegue motoristas por estradas desertas, lembra muito a premissa de um dos primeiros filmes dirigidos por Steven Spielberg, Encurralado, mas o roteiro ainda bebe na fonte do sucesso A Morte Pede Carona e o próprio diretor já havia se aventurado pelo terreno dos road movies em Morte Por Encomenda. Sem apelar para sangue e violência gráfica, Perseguição - A Estrada da Morte garante diversão de qualidade, ainda que caminhe por uma estrada previsível e o final decepcione por deixar dúvidas no ar. Em tempo: vale frisar que o  trio de jovens protagonistas vislumbravam carreiras promissoras, mas não vingaram. Walker foi o único que estava trilhando o caminho do sucesso, coincidentemente em uma sequência de filmes de perseguição de carros, mas faleceu prematuramente devido a um acidente fatal.

Suspense - 96 min - 2001 

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