segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

POPULAÇÃO 436

NOTA 4,5

Longa investe na batida ideia
da cidadezinha envolta a
mistérios, mas falta criatividade
para esconder a sensação de déja vu
Quando pensamos nos EUA logo vêm as nossas mentes as imagens de cidades urbanas e adeptas do que há de mais moderno para tornar o dia-a-dia mais confortável e tranquilo em vários sentidos. Todavia, o cinema está sempre lembrando que por lá também existem pequenas cidades interioranas que parecem paradas no tempo, ambientes perfeitos para serem palcos de histórias de mistério. Um lugar onde todos parecem felizes, assassinatos não existem, a solidariedade impera e todos se mobilizam em torno de um festival parece uma realidade de uma cidade do início do século passado, mas Rockwell Falls é contemporânea e ainda assim provinciana. Esse é o lugar onde vai parar o protagonista de População 436 cuja proposta é bem explícita no título. O tal lugar é uma pequena cidade perdida no meio do nada e cercada por uma densa floresta onde a paz parece reinar, todos se respeitam, os casos de doença são raros e quase sempre solucionados. Steve Kady (Jeremy Sisto) é um investigador federal que é enviado para lá a fim de atualizar o censo demográfico já que causa estranhamento o fato de que nos últimos cem anos o número de habitantes do local não mudou. Ano após ano o número se mantém inalterado em 436 indivíduos, mas ele só vai saber dessa coincidência quando já está em campo. No caminho, chama a atenção do rapaz o comportamento das pessoas a quem pede informações sobre a região, pois parece que todos têm receio de comentar o que quer que seja. Conseguindo chegar ao seu destino sozinho, Kady acaba tendo um problema com o carro e assim conhece Courtney Lovett (Charlotte Sullivan) que lhe apresenta a região e seus moradores, mas no fundo parece saber muito mais sobre o local do que revelou, assim como o policial Bobby Caine (Fred Durst) que à primeira vista tentou barrar sua entrada no povoado. Dessa forma, ele se sente tentado a investigar os mistérios que envolvem a cidade, uma iniciativa perigosa. Entre as crenças que o protagonista ouve estão a de que quem passa uma única noite por lá não pode mais ir embora e quem desafia essa máxima acaba falecendo pouco tempo depois ou fica gravemente doente, um estado perturbado que eles chamam de febre, mas que oferecem tratamento seguro.

Quando menos espera, Kady está envolvido em uma doentia rede de fervor religioso da qual ninguém jamais escapou e... Bem, você já viu essa história. O roteiro do estreante Michael Kingston investe na clássica premissa da cidade que busca o isolamento através de crenças ou rituais, mas para quem ousa visitá-la não raramente o destino é cruel. A temática já rendeu marcantes produções como Colheita Maldita e até deve ter servido como inspiração para o provocador A Vila. Aliás, pouco tempo antes, ela serviu como eixo de sustentação para o suspense O Sacrifício, que por sua vez é uma refilmagem do cultuado O Homem de Palha. Em comum todas essas produções partem da premissa de enfocarem um lugar perfeito para se viver, mas onde os moradores se submetem a provações para manter a ordem. Apesar de costurar referências, o longa dirigido pela também estreante Michelle MacLaren, oriunda de séries de TV, até procura criar um clima propício para explorar a temática já tão surrada, mas acaba esbarrando no empecilho de personagens superficiais que falham em criar a mínima ligação que seja com o espectador, consequentemente as situações que vivenciam também pouco nos importa.  De longe a figura do delegado Caine é a mais interessante. Colabora para esse distanciamento o elenco mal escalado, basicamente rostos desconhecidos e com pouca experiência. Não que atores renomados pudessem salvar o filme, mas ao menos poderiam injetar um gás com interpretações mais convincentes. Sisto deveria ser o destaque da produção, mas atua no piloto automático boa parte do tempo, justamente o período em que necessitava envolver o espectador com seus conflitos a respeito da suposta perfeição de Rockwell Falls. Ele só parece mais a vontade na reta final quando seu personagem compreende toda a situação e precisa travar uma guerra de um homem só contra toda uma cidade de alienados. Visualmente, a obra poderia fazer uso de cenários sujos, uma fotografia mais desgrenhada que explorasse o efeito de câmera na mão e até uma edição com cortes bruscos, mas a diretora prefere ficar na sua zona de conforto e filma como se fosse para a TV (talvez por isso esse tenha sido seu único filme de cinema). Por outro lado, os cenários limpos da cidade têm como justificativa que as pessoas que moram lá buscam uma vida normal na medida do possível. Retratá-las em um ambiente degradante serviria apenas para reforçar clichês.

Mesmo com essa tentativa de ser o mais realista possível, infelizmente Michelle não consegue desenvolver o lado psicológico e social do enredo. Por que a vida em Rockwell Falls é aparentemente tão perfeita? Qual a razão de seus habitantes se conformarem com o isolamento? Como vivem aqueles que são contra o sistema? São muitas as questões que poderiam ser mais bem exploradas e fazer o filme fugir do ostracismo inerente, ainda mais porque segredos mesmo a produção não tem a revelar, embora busque uma conclusão impactante. Quem espera uma história de assombrações ou de rituais satânicos deve se decepcionar com População 436. Dispensando efeitos especiais, criaturas com visuais assombrosos e até mesmo a preocupação em criar um clima sombrio, um ponto positivo a ser levantado é que praticamente todas as cenas são realizadas às claras, sem aquelas trucagens de assustar com ações passadas em meio à escuridão total, afinal por mais negativas que fossem as energias por lá concentradas nenhuma cidade viveria eternamente na penumbra. Até mesmo no momento quando todo o mistério em torno do numeral que intitula a produção é revelado o sol está a pino, lembrando um pouco a estética de Pânico na Floresta que também arrisca na criação de uma atmosfera de arrepiar em plena luz do dia. Aliás, por coincidência (será mesmo?), ambas as produções contam com uma cena em que uma frota de carros velhos e destroçados são apresentados em panorâmica para dar a noção de quantas vítimas já caíram nas armadilhas destas cidades isoladas. Contudo, é constante a sensação de que sofra o que sofrer o protagonista chegará a salvo ao final de tudo isso, mas por quanto tempo? De qualquer forma, apesar dos vários problemas ou ausência de ousadias, na falta de coisa melhor para assistir é possível se entreter com este suspense simplesmente por ele procurar instigar o medo através de artifícios convincentes e sem apelar para vultos e sangue. O final, para variar, deixa um gancho para uma possível continuação que jamais aconteceu ou pode ser interpretado como se o segredo de Rockwell Falls poderia ser descoberto por qualquer visitante, mas jamais solucionado, até porque quem descobre ficando ou não na cidade jamais poderá levar tal história adiante. Vale uma sessão sem compromisso.

Suspense - 92 min - 2006 

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