segunda-feira, 1 de maio de 2017

O FATOR HADES

NOTA 7,0

Apesar do excesso de personagens e
 revelações que complicam a narrativa,
longa é uma aula sobre os jogos de
interesses por trás das epidemias
Filmes baseados em argumentos de ficção científica geralmente estão fadados ao fracasso quando ainda estão sendo esboçados. Isso acontece por causa do preconceito que assola o gênero devido aos seus próprios excessos. Com o surgimento do mercado de locação, fitas do tipo começaram a se proliferar desenfreadamente, porém, com qualidade decrescente. Quem nunca se deparou com algum título bizarro envolvendo híbridos de humanos e animais ou com aquelas produções que querem falar sobre o pânico da ameaça de um vírus mortal quando na verdade só querem divertir com efeitos especiais de quinta categoria? Isso é coisa do passado? Bem, realmente estes são filmes característicos de certo período, mas vez ou outra ainda surge um exemplar do tipo, pena que simplesmente para mofar nas prateleiras das locadoras. Hoje em dia, infelizmente, nem com esse luxo podem contar. Se você já torce o nariz ao saber que algum filme fala sobre epidemias, qual reação ao saber que ele beira as três horas de duração? Por conta destes dois fatores, além da falta de publicidade e lançamento direto em DVD, O Fator Hades passou em brancas nuvens, mas merece uma chance, principalmente em tempos de alerta mundial sobre uma possível epidemia de Ebola. O vírus do título é fictício, mas faz alusão ao citado agente real que está devastando a população de países africanos. Sim, mais uma vez o continente que já sofre tudo quanto é preconceito está dentro do olho do furacão, mas alguém já pensou que o Ebola pode ter sido disseminado por lá propositalmente? Não se pode afirmar isso, mas o filme do diretor Mick Jackson pode levar a essa reflexão, basta ter inteligência para mudar uma coisinha aqui e outra ali e a produção datada de 2006 pode revelar-se um filme interessante com temática atemporal e universal. Baseado no romance de Robert Ludlum e Gayle Lynds, o longa, na realidade uma bem feita compilação de seriado de TV, começa apresentando três casos de mortes isolados, mas a coincidência de sintomas com os apresentados por outras pessoas adoentadas repentinamente chamam a atenção. Em um primeiro momento o problema parece restrito aos EUA, mas não tarda para que em outros países surjam alertas de mortos e novos casos de uma doença atípica que em cerca de 24 horas provoca intensas hemorragias levando o paciente ao óbito com a mesma rapidez. Quando acolhidos para tratamento, os medicamentos são apenas paliativos. Rapidamente é descoberto que o vírus Hades é uma variação rara do Ebola, mas seu ciclo de desenvolvimento ainda é uma incógnita assim como sua cura.

Por aproximadamente dez dias muitos cientistas, autoridades médicas, laboratórios farmacêuticos e representantes políticos se esforçaram ao máximo para controlar a situação e evitar o pânico na população, mas a cada dia os números de mortos e novos casos só aumentam. O pior é que há suspeitas de que o vírus caiu nas mãos de terroristas, assim os agentes da Covert One (na tradução “Oculto Um”), uma agência secreta que trabalha combatendo o terrorismo e com ligação direta com o governo, está no encalço de algumas pessoas, entre elas Rachel Russell (Mira Sorvino), uma desertora da organização que está com uma amostra do vírus. Ela é vista em atitudes suspeitas em Berlim e até mata dois agentes ligados à agência. Com visual ligeiramente mudado, ela quer ir para Paris para entregar o material ao Dr. Marcel Jolivet (Christian Laurin) que já conhecia o Hades. Dois anos antes ele havia trabalhado no Afeganistão em nome da Organização Mundial de Saúde e conheceu um médico local que lhe pediu para trazer uma amostra viral para estudos alegando que os soldados americanos em serviço no país estavam sendo mortos por causa de infecções misteriosas. Depois disso, a encomenda caiu nas mãos de integrantes da Al-Qaeda chefiados por Ghalib Hassan (Conrad Dunn) que em nome de um propósito maior convenceu alguns árabes a darem as suas vidas para atacarem os EUA. Assim como os homens-bombas sabem que suas mortes provocarão muitas outras, estes voluntários aceitam ter o vírus injetado no corpo para depois suas amostras de sangue proliferar a contaminação que pode acontecer pelo ar, mas o grupo tem um meio bem mais devastador de exterminar os norte-americanos. Um dispositivo foi criado e seriam colocados nos sistemas de ar-condicionado central de centros de bastante movimento como aeroportos e prédios comerciais e, assim como uma bomba-relógio, quando o cronômetro zerasse as ampolas contaminadas injetariam os vírus nas tubulações e os disseminariam rapidamente e em quantidade suficiente para gerar uma guerra entre os próprios ianques. Com o problema fora de controle das autoridades sanitárias, ficaria difícil saber quem contraiu a doença, assim quem não morresse por motivos de saúde correria o risco de ser morto por precaução. O estado de loucura imperaria e a ameaça de um ataque terrorista com armas biológicas tira o sono da presidente (Anjelica Huston), principalmente porque não pode vir à tona a revelação de que o Hades foi criado a pedido do próprio governo americano em um programa secreto chamado Cimitarra, uma precaução em caso de uma guerra de “agentes invisíveis”, mas que acabou se tornando um problema real e autodestrutivo.

Alguém do alto escalão do governo, do grupo científico ou envolvido com investigações terroristas traiu os demais e levou o vírus para o mercado negro. O agente Bill Griffin (Josh Hopkins), da Covert One, por dois anos ajudou a esconder os podres de algumas pessoas ligadas à pesquisa, mas quando se cansou foi vítima de um atentado no qual todos acreditavam que ele havia morrido, no entanto, ele reaparece com o visual um pouco diferente e procura Jonathan Smith (Stephen Dorff), um especialista em doenças infecciosas e ex-agente da organização antiterrorismo. Diante da ameaça de uma grande epidemia, o infectologista é recrutado pelos chefões do grupo, Frank Klein (Danny Huston) e Palmer Addison (Blair Underwood), para encontrar as raízes do problema e o rapaz com sua experiência e contatos acredita que a chave de tudo está com Tom Fancher (Joris Jarsky), um médico americano que há anos presta serviços no Afeganistão, local de onde voltaram muitos soldados infectados. O problema é que Smith terá que tomar cuidado com as investigações, pois sua namorada Sophie Amsden (Sophia Myles), embora também especialista em casos de vírus e bactérias, desconhece o passado do rapaz com a Covert One. A moça trabalha no Instituto de Pesquisas de Doenças Infecciosas do Exército dos EUA, o USAMRIID, e cuidando das vítimas do Hades estará colocando a própria vida em risco, mas seu superior, o General Keilburger (Keneth Welsh), parece relutante quando o assunto é a busca por um antídoto rápido alegando que uma falsa promessa de cura poderia deixar a população norte-americana ainda mais exaltada e culminar em uma revolta em massa ao governo. Ufa! A história basicamente é essa, ou melhor, o que é possível se compreender. O roteiro de Elwood Reid tem uma proposta das mais interessantes, mas algumas passagens ficam difíceis de entender devido ao excesso de personagens e situações, além das mudanças constantes de cenários. Esse é o tipo de filme que é preciso assistir com um caderno junto para anotar os detalhes. Tentar reorganizar as informações é relativamente simples e o resultado pode ser satisfatório desde que você não se apegue a dúvidas, elas serão mínimas diante das resoluções finais. De onde surgem os vírus? Eles podem ser fabricados intencionalmente? Se for o caso, paralelamente uma medicação é desenvolvida? E como funcionam os testes? E a segurança e o sigilo quanto a essas operações? São muitos os temas para reflexão propostos por O Fator Hades, um intrigante filme que mesmo com suas falhas e longa duração entretém e incomoda (no bom sentido), principalmente na reta final quando vemos a relação de um laboratório farmacêutico com tudo isso. Analisando todo o conjunto de relações, a conclusão é sinistra e mais uma vez reforça a ganância do ser humano.

Suspense - 165 min - 2006 

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1 – 2 Ruim, uma perda de tempo
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9 – 10 Excelente, praticamente perfeito do início ao fim
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