segunda-feira, 29 de maio de 2017

O LUTADOR (2008)

NOTA 8,5

Drama aborda as dificuldades
para quem já esteve no topo se
adaptar a ser alguém comum ou
optar pelo caminho da superação 
Há momentos em que um ator está em estado de graça e tem a sorte de abocanhar papeis que parecem ter sido talhados a seu perfil, não só em termos físicos, mas também psicológicos e às vezes até as trajetórias de ambos parecem guardar semelhanças. Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo local, portanto, quando isso acontece é preciso aproveitar.  Mickey Rourke surgiu nos anos 80 como promessa de galã e talento e realmente estava atendendo às expectativas, mas na década seguinte sua decadência aconteceu em velocidade impressionante. No entanto, suas próprias experiências de vida é que elevam o nível de O Lutador que apesar do título não é um filme focado em combates, mas sim em contar uma história humana e universal baseada em conceitos de superação. O ator dá vida à Randy “The Ram” Robinson, um lutador de enorme sucesso há alguns anos, mas duas décadas depois do seu auge sua imagem nada lembra os tempos de glória. Sem dinheiro, sozinho e sendo consumido pelo remorso de ter abandonado sua única filha, Stephanie (Evan Rachel Wood), ele sobrevive participando de lutas amadoras e para público sádico e reduzido que lhe garantem o dinheiro para pagar seus vícios e vida louca. No entanto, um enfarto o obriga a se aposentar dos ringues de vez e nesse momento ele busca consolo no colo de Cassidy (Marisa Tomei), uma stripper que o compreende perfeitamente porque também já está em uma idade que mais cedo ou mais tarde lhe custará a dispensa. Ela o aconselha a ir procurar sua filha e dar novos rumos profissionais à sua vida e assim começa a grande luta de Randy na qual o adversário é ele mesmo que precisará se conscientizar de que os tempos mudaram e que ele não é sequer uma boa lembrança no mundo dos esportes. É interessante observar que além dos dois ganharem dinheiro com o corpo e a idade ser um empecilho para continuarem com suas atividades, ambos usam nomes falsos profissionalmente, escondendo as reais identidades de Robin e Pam. Ela assume outra personalidade por vergonha de seu trabalho, mas para ele o fardo é maior. Ostentar o codinome é uma forma ilusória de acreditar em sua importância, mesmo sendo um ilustre desconhecido que para pagar suas contas também se dedica a um emprego de carregador em um supermercado. No entanto, com a aproximação do aniversário de vinte anos da luta que o consagrou, surge o convite para um novo embate com seu maior rival, Aiatolá (Ernest Miller), o que lhe deixa tentado a desobedecer as orientações médicas.

terça-feira, 23 de maio de 2017

O VIAJANTE (1991)

Tem aficionados por comédias, outros por ação e aventura, aqueles que só se entretém com um bom suspense ou terror, mas é fato que as histórias dramáticas têm uma legião de fãs mais numerosa e cativa. Quem não tem pelo menos um dramalhão na memória? Aquele filme triste que marcou época ou que faz você lembrar de algum período de sua vida? Além de temas mais consistentes embalados por atuações que geralmente exigem uma carga emocional maior dos atores, os dramas ainda levam vantagens por geralmente cativarem as plateias de críticos e isso os levarem facilmente a premiações, assim de certa forma eternizando-os. Porém, nem sempre isso ocorre e há inúmeras belas produções que ficaram perdidas no tempo, como é o caso do belo O Viajante. A palavra tragédia é sinônimo de um acontecimento que desperta tristeza e horror e talvez tenha partido desse entendimento a ideia inicial para que o escritor suíço Max Frisch escrevesse na década de 1950 o clássico existencialista "Homo Faber" que ganhou sua versão cinematográfica sob a batuta do cineasta alemão Volker Schloendorff. A trama basicamente conta a história de um triângulo amoroso cujas raízes remetem as antigas tragédias gregas, contudo, tem muito mais a oferecer, principalmente através de seu protagonista. Poderia se tornar uma obra de difícil assimilação pela maior parte do público já que é derivado de um livro com caráter intimista e com um tema para reflexão, mas o diretor teve a habilidade e a sensibilidade necessárias para transpor toda a carga dramática contida nas páginas para um belo e acessível filme. Bem, o acessível fica por conta do estilo narrativo adotado, elegante e feito para agradar cinéfilos de bom gosto, já que esta é mais uma produção cinematográfica infelizmente inexistente na era do DVD. Passada no ano de 1957, a história tem como personagem principal Walter Faber (Sam Shepard), um engenheiro entusiasta das ciências exatas, máquinas locomotoras e que acredita que qualquer trabalho deve ser encarado como um projeto de vida. Entre as várias viagens e tarefas que realiza, ele sempre reafirma o seu caráter de homem racional a fim de encobrir a sua ausência de emoções. Sim, ele foge da emoção justamente por ela ser algo imprevisível e cuja intensidade não pode ser calculada.

domingo, 21 de maio de 2017

A BUSCA PELA HONRA

Nota 4,5 Mais centrado na história dos mórmons, drama não consegue envolver os leigos

Dando continuidade ao argumento de Tempo de Glória, o drama A Busca Pela Honra segue contando a saga da família fictícia Steed traçando um paralelo com o desenvolvimento inicial de um novo culto religioso. Talvez pela necessidade de estar por dentro do conteúdo do primeiro filme, a obra se torna um pouco maçante até mesmo para aqueles que já conhecem o tema e o excesso de personagens e nomes citados no decorrer da película tendem a dar um nó na cabeça do espectador. Contudo, o roteirista Matt Whitaker toma o cuidado de nos primeiros minutos resgatar rapidamente a trama original recordando a chegada da família protagonista à Nova York e as consequências da aproximação de Nathan (Alexander Carroll), um dos herdeiros do clã, com Joseph Smith (Jonathan Scarfe), um jovem que afirmava ter sido destinado a traduzir escritos sagrados de placas de ouro e fundar uma nova religião. Da disputa pelo valor destes artefatos ao preconceito de acreditarem que o rapaz tinha pacto com forças demoníacas, muita discórdia foi semeada até que o suposto predestinado decidiu partir para outra cidade para fundar definitivamente a religião dos mórmons. Estamos em meados de 1830 e Nathan está para se casar com Lydia (Sarah Bastian) sob as bênçãos de Smith e sua Igreja então já endossada pelo governo, porém, o religioso continuava sofrendo perseguições acusado de ter ligações com entidades satânicas. Mesmo assim, pouco tempo depois ele decide se mudar para Ohio onde teria recebido a incumbência divina de construir um templo e junto com ele também seguem seus fiéis seguidores, entre os quais a família Steed em peso. Todos acreditavam que o lugar teria melhores condições de vida e seria protegido pela força do culto, ou melhor, quase todos. Benjamin (Sam Hennings), o patriarca, continua nutrindo preconceitos quanto aos mórmons, mas acaba indo junto apenas o tempo suficiente para Nathan e sua esposa grávida se acomodarem. É nesse momento que chegam notícias sobre Joshua (Eric Johnson), o filho mais velho da família, que agora vive na fronteira da região de Missouri após ter perdido seu grande amor para o irmão e amargar o fato de seus planos de enriquecer por meios torpes terem falhado.

sábado, 20 de maio de 2017

TEMPO DE GLÓRIA (2004)

Nota 6,0 Dedicado a mostrar o surgimento da religião mórmon,  longa perde foco de trama fictícia

Religião é uma benção, mas também pode ser um martírio. Muitos acontecimentos tristes da História mundial aconteceram por causa de conflitos entre crenças e o filme Tempo de Glória usa essa inspiração para narrar os dramas vividos por um pequeno vilarejo no início do século 19. A família Steed está de mudança para Nova York em busca de melhores oportunidades na área de agricultura. Eles são bem recebidos na nova cidade, mas a mesma situação não é vivida por Joseph Smith (Jonathan Scarfe) um jovem que é mal visto por todos os moradores por dizer que certa vez teve a visão de Deus e de Jesus Cristo e que um anjo o avisou sobre um tesouro escondido, barras de ouro nas quais estavam escritas mensagens do evangelho, porém, ele só poderia ir resgatá-las em uma determinada data para então traduzi-las e as distribuir para tentar salvar a humanidade. No entanto, a fama de que tem uma missão divina a cumprir acaba causando reações negativas nas pessoas que chegam a dizer que toda a família de Joseph é adoradora do Diabo. Antes de saber destas histórias, Benjamin Steed (Sam Hennings) já havia contratado para ajudar em sua fazenda alguns homens do clã dos Smith. No início as descobertas nada afetam a opinião do fazendeiro, mas aos poucos os pensamentos de Joseph e os boatos que o cercam passam a tirá-lo do sério, principalmente quando vê seus filhos mais velhos envolvidos em intrigas religiosas. Joshua (Eric Johnson) faz amizade e futuramente se alia a um valentão da cidade, Will Murdoch (John Woodhouse), que zomba das histórias do jovem missionário, no entanto, não descarta a possibilidade de que ele realmente possa saber onde exista ouro escondido. Já Nathan (Alexander Carrol) acredita em Joseph e o defende, mas seu envolvimento com a fé do rapaz acaba levando-o a se desentender com outros habitantes e até mesmo com sua família, mais especificamente com seu pai que observa abismado que até Mary Ann (Brenda Strong), sua esposa, está inclinada a seguir os ensinamentos do Livro dos Mórmons, a religião que o missionário decide fundar quando abandona Nova York.

sexta-feira, 19 de maio de 2017

OS CROODS

NOTA 8,0

Abordando assuntos atuais tendo
como pano de fundo a idade da pedra,
animação tem ritmo frenético e boas
piadas, mas no fim se rende às tradições
Desde que Toy Story foi lançado tornou-se uma obsessão dos estúdios realizar animações com tecnologia de ponta e narrativas que agradassem não só as crianças, mas também aos adultos, estes que as vezes parecem ser o verdadeiro público-alvo de algumas fitas. Não basta mais apenas fazer a alegria dos filhos. Virou regra que os pais fiquem tão ou mais satisfeitos que os pequenos com o programa-família. Os Croods cumpre bem a tarefa de agradar a todas as idades contando uma história divertida e cujo subtexto debocha de assuntos sempre atuais, como a alienação e o medo. A grande sacada é tratar de assuntos contemporâneos e de fácil identificação tendo a idade da pedra como ambientação. Gru é o patriarca da família do titulo, um dos poucos grupos que sobreviveram as mudanças físicas e climáticas do planeta escondendo-se literalmente do mundo. Rude e avesso a novidades, ele acredita que a única maneira de manter seus parentes em segurança é alimentando seus medos, assim praticamente tudo é motivo para se meterem em qualquer buraco para se esconderem, principalmente a noite que com os possíveis perigos que carrega soa como um presságio de morte para o brucutu. Contudo, por mais que fosse cauteloso, ele não tinha o poder de parar o tempo, as coisas mudam constantemente e sua filha mais velha Eep já começava a apresentar sinais de rebeldia típicos de adolescentes afoitos para explorar novos horizontes. Com essa relação conflituosa estabelecida, a animação é calcada no processo de descobertas e adaptação dos Croods há uma nova realidade, tudo mediado por um jovem chamado Guy que se junto ao grupo trazendo conhecimentos do outro lado do mundo, como o conhecimento de lidar com o fogo. Física e emocionalmente mais evoluído que o tal clã, além de ser bem mais racional, o rapaz logo chama a atenção de Eep, mas seu estilo moderninho de ser e de viver bate imediatamente de frente com o jeitão super protetor e antiquado de Gru, este que mesmo sendo um boçal sempre fora respeitado como alguém sábio e com espírito de liderança. Perder tal papel para ele era inadmissível, tampouco dividir as atenções, ainda mais para o paquera da filhota.

sábado, 6 de maio de 2017

A ÚLTIMA APOSTA

Nota 6,0 Apostadores e bandidos têm suas vidas ligadas em drama que podia render mais

Todas as pessoas estão em busca de algo. Amor, felicidade, saúde, dinheiro ou, em outras palavras, simplesmente mais vida. Contudo, estes objetivos exigem cautela, pois se não tomar cuidado você pode acabar ficando com menos do que já tem. É basicamente com este pensamento que o diretor Mark Rydell abre seu drama A Última Aposta, obra em estilo mosaico na qual as vidas de pessoas completamente diferentes acabam se cruzando por causa de um ponto em comum: a obsessão por apostas. Carol (Kim Basinger) é uma escritora viciada em jogos de máquinas caça-níquel, embora quando ganhe sejam apenas alguns trocados insignificantes. Sua obsessão por sempre tentar ganhar mais acaba atrapalhando sua vida profissional, já que gasta muito tempo em cassinos e não se concentra para escrever, e também sua vida particular, visto que suas incessantes desculpas para chegar tarde em casa já estão chamando a atenção de Tom (Ray Liotta), seu marido. Certo dia, ela acaba conhecendo por acaso Walter (Danny DeVito), um mágico frustrado e trambiqueiro que se aproveita da compulsão da escritora para incentivá-la a lhe ajudar a apostar em um campeonato de basquete universitário cujo resultado ele sabe que já foi arranjado. Neste jogo irá participar o jovem Godfrey (Nick Cannon), uma promessa do esporte e a tábua de salvação para seu irmão mais velho, Clyde (Forest Whitaker), este que exige esforços do rapaz, pois tem certeza que olheiros estarão acompanhando a partida e irão oferecer um contrato milionário para o melhor jogador. Clyde deve muito dinheiro à Murph (Grant Sullivan) e Augie (Jay Mohr), dois rapazes que ganham a vida realizando apostas clandestinas via telefone e não medem esforços para cobrarem suas dívidas, mesmo que seja necessário matar. De olho na dupla está o empresário do submundo Victor (Tim Roth), que usa da corrupção para controlar e lucrar com apostas e pode estar envolvido em uma misteriosa morte que está sendo averiguada pelo detetive Brunner (Kelsey Grammer).

segunda-feira, 1 de maio de 2017

O FATOR HADES

NOTA 7,0

Apesar do excesso de personagens e
 revelações que complicam a narrativa,
longa é uma aula sobre os jogos de
interesses por trás das epidemias
Filmes baseados em argumentos de ficção científica geralmente estão fadados ao fracasso quando ainda estão sendo esboçados. Isso acontece por causa do preconceito que assola o gênero devido aos seus próprios excessos. Com o surgimento do mercado de locação, fitas do tipo começaram a se proliferar desenfreadamente, porém, com qualidade decrescente. Quem nunca se deparou com algum título bizarro envolvendo híbridos de humanos e animais ou com aquelas produções que querem falar sobre o pânico da ameaça de um vírus mortal quando na verdade só querem divertir com efeitos especiais de quinta categoria? Isso é coisa do passado? Bem, realmente estes são filmes característicos de certo período, mas vez ou outra ainda surge um exemplar do tipo, pena que simplesmente para mofar nas prateleiras das locadoras. Hoje em dia, infelizmente, nem com esse luxo podem contar. Se você já torce o nariz ao saber que algum filme fala sobre epidemias, qual reação ao saber que ele beira as três horas de duração? Por conta destes dois fatores, além da falta de publicidade e lançamento direto em DVD, O Fator Hades passou em brancas nuvens, mas merece uma chance, principalmente em tempos de alerta mundial sobre uma possível epidemia de Ebola. O vírus do título é fictício, mas faz alusão ao citado agente real que está devastando a população de países africanos. Sim, mais uma vez o continente que já sofre tudo quanto é preconceito está dentro do olho do furacão, mas alguém já pensou que o Ebola pode ter sido disseminado por lá propositalmente? Não se pode afirmar isso, mas o filme do diretor Mick Jackson pode levar a essa reflexão, basta ter inteligência para mudar uma coisinha aqui e outra ali e a produção datada de 2006 pode revelar-se um filme interessante com temática atemporal e universal. Baseado no romance de Robert Ludlum e Gayle Lynds, o longa, na realidade uma bem feita compilação de seriado de TV, começa apresentando três casos de mortes isolados, mas a coincidência de sintomas com os apresentados por outras pessoas adoentadas repentinamente chamam a atenção. Em um primeiro momento o problema parece restrito aos EUA, mas não tarda para que em outros países surjam alertas de mortos e novos casos de uma doença atípica que em cerca de 24 horas provoca intensas hemorragias levando o paciente ao óbito com a mesma rapidez. Quando acolhidos para tratamento, os medicamentos são apenas paliativos. Rapidamente é descoberto que o vírus Hades é uma variação rara do Ebola, mas seu ciclo de desenvolvimento ainda é uma incógnita assim como sua cura.